12.30.2006

FELIZ ANO NOVO!


Fechou a porta.

E parou para ouvir, por um minuto. Os sons se tornavam mais vagos; os queixumes, os soluços, quase já não se ouviam, através da porta fechada. Seria assim, tão fácil, deixar as amarguras para trás? Só fechar uma porta?

Mais um minuto. E percebeu que também já não ouvia os risos, as frases alegres. Então era assim? Renunciar às dores do passado seria, também, renunciar às passadas alegrias?

Deteve-se, por um instante a mais. Porém o empurrão do tempo o fez seguir adiante, pelo corredor, cujo comprimento se ocultava nas sombras do desconhecido.


Abriu a porta seguinte; que talvez fechasse em breve, se assim o destino lhe permitisse.

E, mais uma vez, foi recebido pelas trombetas da esperança, ao penetrar na sala, onde risos e lágrimas se faziam ouvir, entre a neblina do futuro, que a tudo encobria...

12.27.2006

O ANO E A ROSA


Aguardais o nascer de um novo ano, como o enamorado aguarda o desabrochar da rosa.

Como ele antecipa a perfeição de suas pétalas, antegozais os dias felizes que vivereis. E enquanto as suas narinas pressentem o delicado aroma, os vossos corações imaginam mil alegrias.

Sois, uns e outro, sonhadores...

e é isto que me encanta em vós!

Porque a rosa, uma vez desabrochada, será como tantas outras; talvez não sejam perfeitas as suas pétalas, nem inebriante o seu aroma. E, por certo, o novo ano não vos trará apenas alegrias, mas também algumas tristezas.

Pois são assim todas as rosas. E são assim todos os anos.

Entretanto, em um momento mágico, eis que a rosa a brotar se torna perfeita; e o ano a nascer abriga a felicidade. Porque acreditais sois capazes de, por um momento, dar vida a vossos sonhos.

Esta é vossa ponte para a felicidade. Porque, para o homem, existe aquilo em que ele acredita. E, se não dura a ilusão mais do que um momento, é porque não sois capazes de manter a vossa crença.

Sim: a vossa fé é como a chama de uma vela, pronta a ceder ao primeiro sopro de vento. E que, todavia, enquanto existe pode espalhar a luz.

É este o segredo da vida.

Pois é perfeita a rosa e o ano é o limiar da felicidade, enquanto acreditais e dais vida às vossas esperanças.

Enquanto podeis sonhar, já que ainda não aprendestes a manter os vossos sonhos e, assim, trazê-los ao que chamais realidade.

Eu vos pergunto, entretanto:

- enquanto aguarda o enamorado, não é perfeita a rosa?

- e, enquanto vos desejais feliz ano-novo, não é o vosso um ano feliz?

Esta é a verdade. Que permanece latente em vós.

Por isto, os enamorados sempre aguardarão o nascer das rosas.

E os homens sempre festejarão o Ano-Novo!...



(Amigos, sei que esta página foge ao estilo do nosso blog; foi transcrita de um dos meus livros, como forma de agradecer pela companhia e desejar a todos um feliz Ano Novo!)

12.21.2006

FELIZ NATAL!

Eu não sou um homem profundamente religioso. Já o fui, mas esta é uma das ilusões que a vida se encarregou de me tirar.

Entretanto, devo confessar que amo o Natal. Talvez, nem tanto por religião; mais por misticismo e pelas lembranças que ele me provoca. A verdade é que ainda consigo sentir algo diferente no ar, nesta época do ano; como se as pessoas estivessem mais dispostas a sentir, a amar, a ser felizes.

Claro, pode ser que isto exista apenas em mim; mas é uma impressão agradável, acreditem. Torna mais fácil acreditar em nós mesmos, naqueles que nos cercam e em um Deus que nos proteja e mantenha vivos pela eternidade.

Até onde mais longe conseguem voltar as minhas lembranças, lá em casa o Natal sempre foi uma festa especial. Recordo a árvore enfeitada, bem maior do que eu, as luzinhas piscando, a ponteira brilhando lá no topo.

Lembro de mim mesmo, entre meus 3 irmãos, de calças curtas, perambulando entre os adultos. A mesa, farta, era uma festa para os olhos e o paladar: castanhas portuguesas, nozes, amêndoas, figos e tâmaras secos, frutas cristalizadas, rabanadas, peru, queijo cuia, tender, presunto... tantas delícias, que só naqueles dias nos era dado desfrutar.

Recordo as músicas, sempre as mesmas: Noite Feliz, Jingle Bells, Tannembaum (é assim que se escreve?), e a que eu mais gostava: “Botei meu sapatinho/na janela do quintal...”, alguém se lembra? Altamiro Carrilho, Papi Galan, Luiz Bordon, Carequinha... naquele tempo não existiam Simone, Xuxa, nem o Coral da Globo. As harpas dominavam o Natal.

Quando menores, dormíamos mais cedo e na manhã seguinte era a farra de abertura dos presentes. A partir de certa idade, já podíamos acompanhar os adultos à Missa do Galo e na volta... ó maravilha! Lá estavam os presentes, arrumadinhos, no pé da árvore: Papai Noel já havia passado. Hoje, entendo porque meu pai sempre dava uma saidinha durante a missa.

Já adolescentes, à meia-noite de Natal precisávamos estar em casa, para comemorar em família. Regra não negociável, que me custou muitas rusgas com as namoradinhas. Mesmo depois do divórcio, minha mãe mantinha a norma... e isso ajudou a nos manter unidos como família, acreditem.

Aos poucos, fomos saindo de casa e a vida nos separou: trabalhando em cidades diferentes, tornou-se muito difícil festejarmos juntos. Cada um se tornou seu próprio provedor, Papai Noel e animador de suas próprias festas.

As coisas mudaram; hoje, mesmo no Natal, a TV é a maior presença, na maioria das casas. Difícil aquele bate-papo de antigamente, as conversas altas e divertidas; mesmo porque alguém vai pedir silêncio, para ver a novela ou outra coisa. As pessoas são cada vez mais informadas, e as famílias são cada vez menos famílias.

Mas, eu confesso, em mim a mística do Natal permanece. E, embora todos os anos a saudade me faça derramar algumas lágrimas, pelos que já se foram, é uma tristeza doce; bem maior foi a felicidade de tê-los conhecido.

Para mim, o Natal é a festa do Amor. A melhor ocasião de abraçarmos os nossos parentes, os nossos amigos, as pessoas que nos são caras; de lhes dizermos o quanto nos são caras.

Por isto, meus amigos, entendam como me sinto. E permitam que lhes diga, de coração: obrigado, por vocês; por estarem comigo. Vocês são importantes para mim.


FELIZ NATAL!

12.19.2006

PERDÃO, GENTE!



Desculpem-me. Eu sei que este assunto, definitivamente, não combina com o espírito de Natal... mas certas coisas não dá pra agüentar calado.

E eis que a Laura me retransmite o convite para participar de uma blogagem coletiva, contra a última roubalheira de nossas excelências: o famoso aumento de 91%, para que cada parlamentar passe a ganhar R$ 24.500,00 por mês, SÓ DE SALÁRIO.

Por enquanto, a Justiça impediu esse absurdo; mas, quando se trata de defender os próprios interesses, até vagabundo trabalha. Amanhã, já vai ter nova conspiração, digo reunião. Eles não vão desistir, podem acreditar!

Alegam as excrescências, perdão, as excelências que o aumento é legal, porque é direito deles ganhar o mesmo que os ministros do STF. A pegadinha é que os ministros não têm as mesmas vantagens dos parlamentares: depois de somadas as verbas avulsas, cada excremento, perdão, cada excelência vai custar ao país (leia-se “contribuintes”, ou seja: nós) mais de R$ 102.000,00 mensais. Onde fica o papo da paridade?

Fora o salário, deputado tem verba para manter gabinete em Brasília, gabinetes nos estados, verba para gasolina, auxílio para moradia e sabe Deus (ou o diabo) mais para que! Tudo somadinho, resulta nos mais de R$ 102 mil mensais de que falei lá em cima. Que ministro tem essas mordomias?

Façamos uma conta simples. O Google relaciona 513 deputados em exercício e 104 que não estão em exercício. Consideremos apenas os 513, multipliquemos por R$ 102 mil e teremos R$ 52.326.000,00 por mês;
R$ 627.912.000,00 por ano. Isso é o que o Brasil vai gastar, em dinheiro vivo, com essa corja, perdão, com esses dignos senhores, se esse aumento passar.

E para que? Para que pagaremos esse dinheirão aos excrementos, perdão, às excelências? Precisamos lembrar o mensalão, as sanguessugas e o surubão do ano passado? E, em contrapartida, alguém se lembra de algum projeto notável que tenha sido apresentado por algum deputado, no ano passado? Algo que tenha melhorado a vida do povo?

Cada um de nós, cidadãos comuns, trabalha 3 meses por ano, só para pagar impostos. Um quarto do nosso suor vai parar direto no bolso do governo. E o que ganhamos com isso? Não temos educação, nem saúde, nem segurança, nem assistência social digna. Nem ao menos somos respeitados; para esses ladrões, perdão, esses políticos, somos meros otários.

Os mesmos desgraçados, perdão, deputados que votaram um aumento de 92% para si próprios, relutam em “conceder” um aumento de 8% para o salário mínimo; e são esses mesmos que dizem representar o povo, dão tapinhas nas costas dos eleitores e beijam crianças, na época das eleições. Que prometem mundos e fundos e, depois de eleitos, arrebentam os nossos fundos.


Desculpem, amigos, mas assim também é demais!...

12.15.2006

CRÔNICA DE NATAL


Esta história aconteceu comigo, há alguns anos. Foi uma época muito dura para mim e talvez por isto o episódio me marcou tanto. Já o publiquei em dezembro do ano passado, mas então o blog engatinhava e tivemos apenas 3 comentários. Acredito que nenhum de vocês o conheça.

Desculpem a republicação. É a minha maneira de agradecer a vocês pela companhia e dizer a todos, com antecedência: Feliz Natal!!!

Época de Natal.

Estou só, na rua. A solidão é uma presença quase palpável; tão real, que me parece ouvir o eco dos seus passos, junto aos meus, nas pedras da calçada.

Aperto, no bolso das calças, a nota de vinte reais. É o meu único tesouro: tudo que me restou do salário, depois de pagar as contas. Na casa humilde, longe deste bairro da chamada “classe média alta”, o frango e o vinho barato já estão comprados; são petiscos especiais, para a noite de Natal. Não sei porque, uma parte de mim ainda acredita nesta época como um tempo de magia.

Na rua, há casas bonitas e edifícios enormes; todos decorados com luzes coloridas, que piscam sem cessar. Até as árvores dos jardins estão cobertas de lâmpadas; como se as estrelas descessem à terra, brilhando sobre o sonho do amor entre os homens, que um Nazareno sonhou há dois mil anos.

De algum lugar, vem o som de “Noite Feliz”: música suave, palavras lindas de amor e paz. Por um momento, quase acredito neste sonho.

Passo diante de um edifício muito alto, que se destaca entre os outros. O seu jardim parece um canteiro de estrelas, e toda a fachada está coberta de luzes. Nas varandas, nas janelas, brilham milhares de lâmpadas; como se quisessem anunciar ao mundo que o amor ainda existe, que podemos ser irmãos.

Entretanto, no topo do prédio existe uma área escura. Percebo, confusamente, o desenho de uma enorme estrela, sobre um grande letreiro; mas as lâmpadas estão apagadas, enquanto todo o resto do edifício resplandece de luzes e cores.

Levo a mão ao bolso da camisa, pego um cigarro. Noto que o maço está quase vazio, preciso comprar outro: uma séria baixa, na minha fortuna de vinte reais.

Acendo o cigarro. E vejo uma mulher magra, pequena e mal vestida, sentada no chão, junto à entrada da garagem do prédio, com uma criança no colo; uma pequena trouxa humana, descobrindo os rigores da miséria.

Um carro pára em frente à garagem: grande, bonito, reluzente. Enquanto o portão se abre, a mulher estende a mão, num pedido de esmola. Mas o vidro da janela nem desce; o carro entra na garagem e o portão se fecha.

Fico por ali. E, mal termino o meu cigarro, vejo que o porteiro do prédio se encaminha para a pedinte; chamado, certamente, pelo motorista recém-chegado. Ou por algum outro morador, a quem incomodou a imagem da pobreza.

É um mulato alto e forte, o uniforme cuidadosamente engomado, bigode e cabelos bem aparados. Percebo todos estes detalhes, quando atravesso a rua; ouço as suas palavras rudes, enxotando a mulher, mandando-a procurar um albergue ou uma ponte.

Ele se cala, quando chego junto aos dois. Abaixo-me, seguro a mulher pelo cotovelo e faço com que se levante. Conduzo-a para atravessar a rua, com o andar vacilante que denuncia a fome e o cansaço.

Paramos em frente ao prédio. Olho o seu rosto sujo, desfeito, triste, macilento; percebo a mágoa e a descrença em seus olhos. E, num impulso, tiro do bolso a nota de vinte reais e lhe entrego.

A surpresa e a alegria surgem em seu olhar. Ela me entrega a criança, enquanto procura guardar a inesperada fortuna num bolso do vestido rasgado.

Seguro o pequenino contra meu peito.Olho para cima e vejo o topo do prédio, agora iluminado por uma enorme estrela, completamente acesa, brilhando sobre o letreiro: “FELIZ NATAL” !

12.13.2006

PERIGO! TEMA POLÊMICO!

Lembram do caseiro que há dois anos estuprou uma menina em Brasília, matou-a e enterrou o corpo na própria casa, onde permaneceu convivendo com a família? Pois é: fala-se em reduzir a pena dele. Eu, que conheço a família, vejo quanto sofrem até hoje; a vida deles nunca mais será a mesma.

A Suzane Richtofen, aquela que matou os pais a porradas, poderá ser solta no início do ano que vem. Bem como o Champinha, aquele que estuprou, torturou e matou um casal de adolescentes; este, se não for solto, ficará em tratamento psiquiátrico, com três refeições por dia. À nossa custa.

Segundo mensagem que recebi da Laura, aquele médico pediatra que dopava e estuprava os seus jovens pacientes também poderá ser solto. O que será que ele vai fazer em liberdade, hein? O que todos eles farão?

Recentemente, depois de um assalto (bem sucedido), os marginais prenderam as vítimas em um automóvel e o incendiaram. Morreram queimados o pai, a mãe e o filho de 5 anos.

E há algum tempo, eu quase fui linchado em um blog, por causa de um comentário defendendo a pena de morte em certos casos. Fui ofendido e tratado com grosseria e prepotência, por ativistas.

Eles dizem que estão defendendo os direitos humanos.

Então, tá!...

12.08.2006

UPGRADE - ATRAVÉS DO TEMPO

Ao preparar a solução do quiz, percebi que, como bem observou a Magui, a absoluta maioria dos amigos não me conhece pessoalmente e não deve ter visto a foto que publiquei aqui, tempos atrás; assim, a possibilidade de acertarem era mínima.

Diante deste fato e para preenchimento da lacuna, resolvi incluir uma foto "solo" daqueles tempos e uma bem recente, em que apareço batendo um papo com o mestre Jorge Amado... infelizmente, só em estátua. Para evitar dúvidas, informo desde logo que ele é o sentado; eu estou em pé.

Obrigado pela participação de todos... e até o próximo post!

12.06.2006

O FIOFÓ DO GUSTAVO

O causo que eu vou contar agora é doloroso... literalmente. Confesso que, hoje em dia, não me orgulho dele; mas, na época, achei muito engraçado. Por favor, dêem o desconto da idade, sim?

Eu tinha 15 anos, quando fui para Campinas, estudar na EsPCEx. Não queria sair de Salvador e muito menos estudar em regime de internato, principalmente militar. Mas era o sonho de meus pais e aos 15 anos não dava pra questionar isso, não é? Lá fui eu.

Campinas já era grande; e cheia de meninas. Que, diga-se de passagem, eram bastante simpáticas aos cadetes e vice-versa. Quando, nos fins de semana, a gente vestia a farda de passeio e saía para a rua, era um Deus nos acuda; ou, pensando bem, nem precisava que Ele acudisse: chovia beleza na nossa horta!

Bem, mas nos dias de semana era aquela rotina de aulas, estudo, educação física e instrução militar. Um saco, que me desculpem os queridos amigos e colegas que seguiram carreira e se tornaram oficiais; certamente, foram mais inteligentes do que eu: taí um emprego vitalício e livre de qualquer perigo.

Como eu dizia, as semanas eram terrivelmente sem atrativos, para moleques imaginativos e confinados ao quartel. Vai daí, a gente inventava mil maneiras sadias de se divertir, como, por exemplo, guerras de coturnos; que quase sempre terminavam com algumas cabeças inchadas e quase todos felizes.

Outra brincadeira muito popular, era dobrar a perna de alguém que estivesse dormindo de cueca, amarrar nela um barbante, fazer um laço na outra ponta e passar a laçada em volta do saco do cara. Lá uma hora, ele esticava a perna... e era uma beleza de berro!

Igualmente divertida foi a noite em que roubaram o esqueleto da sala de Ciências Naturais e o colocaram debaixo das cobertas, na cama do Almiro, o cara mais medroso de toda a escola. Quando o cara, que tava estudando, chegou pra dormir, na penumbra do alojamento levantou as cobertas e achou aquele monte de ossos; soltou só um grito. Depois, desmaiou.

No dia deste causo, eu tinha recebido um pacote da Bahia. Minha querida mamãe havia mandado umas gulodices, mais uma carta saudosa e – este é o detalhe – um vidro de pimenta em conserva caseira, daquela bem baiana. Ou seja: de matar!

E aquela tava braba, mesmo; nem dava pra comer. Vai daí, eu e o Nelsinho achamos por bem destiná-la a outra finalidade, quiçá mais nobre: armar uma tremenda sacanagem. Desenrolamos, no chão, parte de um rolo de papel higiênico e espalhamos sobre ela todo o caldo da pimenta; só no início do papel, mesmo, pra ficar bem concentrado.

Deixamos secar um pouco, no sol, e depois levamos o agora incandescente e ainda semi-úmido papel para os sanitários coletivos, onde o colocamos em um dos cubículos, substituindo o que ali estava. Depois ficamos ali por perto, entre os outros alunos, fingindo lavar as mãos, conversando e esperando a bagaceira.

Não demorou muito. O Gustavo, um gordinho CDF, meio enrolado, chegou apressado e entrou direto no cubículo turbinado, carregando um livro policial. Eu e o Nelsinho nos entreolhamos e lembro que ainda falei: “Melhor; distraído com o livro, ele nem vai reparar no papel”.

E não deu outra: o cara nem gritou. Urrou. E muito. Saiu do cubículo correndo desajeitadamente, as calças ainda no meio das pernas. O escarcéu foi tanto que o Nelsinho e eu, prudentemente, resolvemos não assumir a autoria do atentado. Mesmo porque, na época, falou-se até em expulsão.

Mas como é que a gente ia saber que o infeliz tinha hemorróidas?


Pelas caras da galera, dá pra notar que só tinha santinho, não é? E aqui vai o concurso: quem me achar, ganha uma assinatura do blog! :)

12.05.2006

A VINGANÇA DO PITANGA


Acho que todo mundo conhece a pitanga: aquela frutinha vermelhinha, que, segundo os mais velhos, tem muita vitamina C. Aqui na Bahia, em certas épocas do ano, essas frutinhas são bem comuns.

Quando aconteceu esta história, se não me engano em 1976, eu trabalhava na agência Centro Salvador, do BB. Mais exatamente, na bateria de caixas onde era feito o recebimento de impostos.

Éramos uma equipe de 10 funcionários, muito unidos e cada um mais sacana que o outro. Sem prejuízo do serviço, a brincadeira rolava solta, sempre que possível, principalmente com trocadilhos e frases de duplo sentido.

Coisas do tipo: “Eu adoro esporte; futebol na frente e vôlei atrás” e outras pérolas similares. E tínhamos que estar sempre atentos, pois se alguém vacilasse e caísse na pegadinha, sofria até haver uma vítima nova.

O Pitanga era o mais sério (ou menos moleque) da turma. Alto, meio calvo, troncudo, de voz acentuadamente grave. Não era de muita conversa, mas também dava lá as suas cacetadas.

O mais agitado era o Raimundo Gregório; falante, animado, perturbava todo mundo. Sempre com a barba por fazer, lembrava os irmãos Metralha, do Disney; vai daí, ganhou o apelido de “761”; mas não ligava. O negócio dele era sacanear os outros.

Lá um dia, o Raimundo chegou a fim de sacanear o Pitanga. Enquanto a gente estava na bateria, se preparando para abrir os caixas, ele perguntou bem alto:

- Pessoal, sabem o que foi que eu vi agora, quando vinha pro banco?

Claro, todo mundo falou que não. E ele, mais alto ainda:

- Um jegue comendo Pitanga!

Todo mundo caiu na gargalhada. Menos o Pitanga, é lógico; franziu a testa, mas não disse nada. Ficou na dele. E o 761 continuou sacaneando, e a gente rindo. E o Pitanga fechando ainda mais a cara.

Até que o Raimundo chegou bem perto do Pitanga, colocou a mão no ombro dele, e falou, pra todo mundo ouvir:

- Sabe, velho? Depois de ver aquilo, até eu fiquei com vontade de comer Pitanga! Que tal?

Aí o Pitanga respondeu, com aquela voz grossa, bem devagar, pra todo mundo ouvir:

- Raimundo, deixa de ser ignorante. Pitanga, você não come... você chupa!

Bem, a vítima da semana foi o 761...