O PAÍS DAS PALAVRAS DE ORDEM
Não por
acaso, o Brasil é uma das poucas nações que têm uma frase escrita na bandeira.
Somos o
País das palavras de ordem. Isto está na nossa gênese, desde o tempo de Cabral,
quando Pero Vaz de Caminha escreveu que “Em se plantando, tudo dá”. Tiradentes,
ícone nacional, cunhou a “Liberdade, ainda que tardia”, e D. Pedro I gritou, às
margens do Ipiranga, a famosa “Independência ou morte!”.
Em tempos
menos antigos, conhecemos “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com
o Brasil”; vivemos “O petróleo é nosso” e fomos à guerra com a pitoresca “A
cobra vai fumar”. Durante o governo militar, um lado gritava “Brasil: ame-o ou
deixe-o” e o outro respondia “Abaixo a ditadura”.
Vieram a
“Diretas Já” e, depois dela, os “Fiscais do Sarney”; então, foi a vez do “Fora,
Collor”, que vivia na boca dos Caras Pintadas. Claro que esqueci muitas delas;
afinal, somos o País das Palavras de Ordem. Estas são apenas algumas que me vêm
à memória.
Aí, veio
a era do PT; e o Brasil se consolidou como o paraíso das frases de efeito; como
esse pessoal adora uma palavra de ordem!
Primeiro foi “Lula lá”, depois veio
“Deixa o homem trabalhar” e, quando ele não podia mais ser reeleito, surgiu
Dilma “Para o Brasil seguir mudando” e, na segunda vez, “Mais mudanças, mais
futuro”. O resultado, todo mundo já sabe: apareceu a “Fora, Dilma”, que
resultou na “Tchau, querida”.
Hoje,
vivemos o tempo do “Fora, Temer”. E, diante da possibilidade desse desfecho, o
PT luta para trazer de volta “Diretas Já”; se deu certo uma vez, pode dar a
segunda. E é preciso que o símbolo maior da esquerda seja eleito logo, antes
que o desfecho de algum processo possa, eventualmente, carimbar “corrupto” na
sua testa e deixá-lo inelegível.
Não sei
quanto a vocês, mas eu confesso: já estou cheio de palavras de ordem, que nos
levam a um buraco cada vez mais fundo. Acredito que precisamos de menos
palavras e mais ordem; menos falação e mais ação.
Precisamos,
sim, de uma reforma política; mas, principalmente, precisamos de uma reforma
nos políticos. Precisamos de uma reforma previdenciária, mas precisamos mais de
uma reforma das pessoas que administram a previdência; precisamos de uma
reforma trabalhista, mas precisamos mais de mudar a mentalidade de empresários
e trabalhadores.
Até aqui,
seguir palavras de ordem não deu muito certo para o Brasil. Que tal, daqui pra
frente, fazer como outros países, onde se fala menos e se age mais? Onde os
eleitores votam com consciência e cobram dos eleitos, e os políticos
administram com seriedade? Onde todos buscam o melhor para a coletividade e não
para eles mesmos?
São as
ações, e não as palavras, que constroem um grande país. Vamos adotar o
trabalho, e abandonar as palavras de ordem.
Ou continuaremos nessa desordem.