6.01.2017

O PAÍS DAS PALAVRAS DE ORDEM



Não por acaso, o Brasil é uma das poucas nações que têm uma frase escrita na  bandeira.
Somos o País das palavras de ordem. Isto está na nossa gênese, desde o tempo de Cabral, quando Pero Vaz de Caminha escreveu que “Em se plantando, tudo dá”. Tiradentes, ícone nacional, cunhou a “Liberdade, ainda que tardia”, e D. Pedro I gritou, às margens do Ipiranga, a famosa “Independência ou morte!”.
Em tempos menos antigos, conhecemos “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”; vivemos “O petróleo é nosso” e fomos à guerra com a pitoresca “A cobra vai fumar”. Durante o governo militar, um lado gritava “Brasil: ame-o ou deixe-o” e o outro respondia “Abaixo a ditadura”.
Vieram a “Diretas Já” e, depois dela, os “Fiscais do Sarney”; então, foi a vez do “Fora, Collor”, que vivia na boca dos Caras Pintadas. Claro que esqueci muitas delas; afinal, somos o País das Palavras de Ordem. Estas são apenas algumas que me vêm à memória.
Aí, veio a era do PT; e o Brasil se consolidou como o paraíso das frases de efeito; como esse pessoal adora uma palavra de ordem! 
Primeiro foi “Lula lá”, depois veio “Deixa o homem trabalhar” e, quando ele não podia mais ser reeleito, surgiu Dilma “Para o Brasil seguir mudando” e, na segunda vez, “Mais mudanças, mais futuro”. O resultado, todo mundo já sabe: apareceu a “Fora, Dilma”, que resultou na “Tchau, querida”.
Hoje, vivemos o tempo do “Fora, Temer”. E, diante da possibilidade desse desfecho, o PT luta para trazer de volta “Diretas Já”; se deu certo uma vez, pode dar a segunda. E é preciso que o símbolo maior da esquerda seja eleito logo, antes que o desfecho de algum processo possa, eventualmente, carimbar “corrupto” na sua testa e deixá-lo inelegível.
Não sei quanto a vocês, mas eu confesso: já estou cheio de palavras de ordem, que nos levam a um buraco cada vez mais fundo. Acredito que precisamos de menos palavras e mais ordem; menos falação e mais ação.
Precisamos, sim, de uma reforma política; mas, principalmente, precisamos de uma reforma nos políticos. Precisamos de uma reforma previdenciária, mas precisamos mais de uma reforma das pessoas que administram a previdência; precisamos de uma reforma trabalhista, mas precisamos mais de mudar a mentalidade de empresários e trabalhadores.
Até aqui, seguir palavras de ordem não deu muito certo para o Brasil. Que tal, daqui pra frente, fazer como outros países, onde se fala menos e se age mais? Onde os eleitores votam com consciência e cobram dos eleitos, e os políticos administram com seriedade? Onde todos buscam o melhor para a coletividade e não para eles mesmos?

São as ações, e não as palavras, que constroem um grande país. Vamos adotar o trabalho, e abandonar as palavras de ordem. 
Ou continuaremos nessa desordem.