4.22.2007

JOGANDO SUJO


Tá, eu sei que até parece história da Márcia. Não assisti, mas o Ivan, que me contou, jura que o lance aconteceu realmente com a Érica, cunhada dele. Vocês decidem se aconteceu ou não.

Por volta das sete e meia da manhã, a Érica estava em uma parada de ônibus, daquelas que parecem uma casinha, com telhadinho e tudo. Ia juntando gente: já eram umas 12 pessoas no ponto. Bem vestidas e com cara de sono; afinal, estavam indo para o trabalho..

Foi quando chegou o tipo. Magro, muito mal vestido, com cara de drogado, fedorento. Carregando uma sacola de supermercado, daquelas plásticas, que parecem certo tipo de vestes femininas: nem tão grossas que impeçam a visão, nem tão finas que permitam a completa apreciação do recheio.

O fulano resolveu parar exatamente perto da Érica; que logo sentiu o fedor subir. O conhecido e inconfundível cheiro de merda; não daquelas que os políticos fazem todos os dias, mas do produto orgânico, na verdadeira e original acepção da palavra.

Vai daí, o cara enfiou a mão na sacola e tirou um saco menor, de plástico transparente. E – terror dos terrores! – realmente cheio de merda; daquela pastosa, de consistência indefinível. E bradou, girando o saquinho:

- Passem os vales-transporte! Ou eu vou jogar merda em todo mundo!

Bem, a Érica não é trouxa: não esperou para ver o resultado e, como se diz aqui na Bahia, saiu picada, correndo pela rua afora.

Chegou no trabalho atrasada; suada, ainda meio ressabiada. E contou o caso aos colegas, no escritório. Foi quando o velho Eustáquio, o contínuo, sentenciou, com aquela voz cansada:

- Pobre, até quando resolve roubar, faz assalto de merda!...

4.14.2007

FILOSOFIA DE BEBUM


Pessoas não amam pessoas.
Pessoas amam sonhos. E sonham pessoas.

Pessoas têm opiniões próprias; que, na maioria das vezes, não combinam com as nossas. E costumam defendê-las, razão pela qual as discussões azedam os relacionamentos.

É fácil odiar pessoas. Pessoas bebem (às vezes , demais), peidam (embaixo das cobertas inclusive), arrotam em horas impróprias, ou insistem em ver o futebol exatamente na hora do final da novela (ou vice-versa). Pessoas existem; e nos incomodam.

Mas, se é fácil odiar pessoas, é difícil amá-las; até porque são umas malas sem alças. Não concordam com as nossas idéias, não querem fazer o que a gente quer, e nunca se esquecem de cobrar aquele deslize de anos atrás... nem nos deixam esquecer.

Pessoas envelhecem; barrigas crescem, peitos despencam, rolas murcham, tesões acabam. Mas quem se lembra disto, na hora do namoro? E por que ninguém se lembra? É simples: não namoramos pessoas, mas os nossos sonhos; é a eles que amamos.

Lá um dia, o sonho se vai. E começamos a ver a pessoa. Aturar os seus roncos, os seus atrasos, os seus humores. É quando começamos a reclamar, pelas mesmas coisas que durante anos nos faziam sorrir.

Pessoas não entendem pessoas; nem mesmo se esforçam para isto. Apenas perseguem os seus sonhos; acreditam neles, enquanto o conseguem. E juram amor eterno, esquecidas de que o sentimento não dura mais que a ilusão.

Pessoas não amam pessoas.
Pessoas amam sonhos. E sonham pessoas.

Pessoas procuram mudar a pessoa que juram amar, para que se torne mais semelhante aos seus sonhos. Esquecem que amar a rosa é aceitá-la, com todos os seus espinhos; arrancá-los, é tentar realizar os próprios desejos.

Pessoas não amam pessoas. E, quando as descobrem como são, é que se vão em busca de outras; ou apenas se deixam ficar, imaginando como seria bela a vida, se o amor durasse pela eternidade.

Pessoas não amam pessoas. Quando muito, conseguem entendê-las.

Pessoas amam sonhos. E é por isto que o amor continua a existir, desde o princípio dos tempos.

Porque sonhamos pessoas...

4.05.2007

PRECISAMOS CONHECER A NÓS MESMOS


Porque é através do seu Eu maior, que cada homem se liga ao Universo.

Assim, é do nosso Eu maior, que se originam as nossas verdades. E são estas verdades que nos devem orientar, na busca dos nossos caminhos.

Porém, são outras as necessidades deste mundo. E tanto nelas nos envolvemos, que muitas vezes nos perdemos do nosso Eu maior; como o peixe, que se absorve na água que o cerca, e não percebe o calor do sol.

Todavia, o sol continua a existir; e aquece a água, para que nela o peixe possa viver. E assim é o nosso Eu maior, que continua dentro de nós e nos permite pressentir a Vida, em toda a sua extensão.

É quando nos afastamos do nosso Eu maior, que em nós brota a inquietude. E a ele precisamos retornar, para que mais uma vez possamos ouvir a voz do Universo, que canta eternamente a canção da plenitude e da Paz.

Onde, entretanto, poderemos encontrá-lo, senão dentro de nós? E como o encontraremos, se não conhecermos os nossos próprios caminhos? Pois a verdade é que, na maioria das vezes, o homem desconhece a si mesmo.

É preciso, portanto, que nos conheçamos. Precisamos conhecer os nossos defeitos, para que os possamos corrigir; precisamos saber a fonte dos nossos sofrimentos, para que possamos encontrar o caminho da felicidade.

E precisamos conhecer as nossas virtudes. Porque nada existe, em nós, que não possa ser melhorado; e quanto melhores nos tornamos, mais capazes somos de conviver com o nosso Eu maior, e mais clara ouviremos a sua voz em nossos corações.

Esta, porém, é a mais difícil das jornadas. Porque o orgulho nos impede de ver claramente dentro de nós; preferimos julgar-nos melhores do que somos, e isto nos impede de tornar-nos tão bons quanto poderíamos ser.

Assim, não admitimos nossos defeitos; e exageramos as nossas virtudes. Preferimos enganar a nós mesmos, esquecidos de que a admissão de um erro é o primeiro passo para a sua correção, e aquele que se orgulha de suas virtudes incorre no defeito da vaidade.

Para conhecer-nos, devemos ensurdecer os nossos ouvidos aos apelos do mundo. Porque ninguém descobrirá o conteúdo de uma caixa, enquanto se detiver a admirar a embalagem que a envolve.

E precisamos procurar a solidão; porque ninguém consegue ouvir a própria voz, enquanto se perde no burburinho das vozes que o cercam. É na solidão, que descobrimos as nossas perguntas; e é na voz do nosso coração, que encontraremos as suas respostas.

Precisamos educar os nossos sentimentos. Porque é deles que surgem as nossas emoções, e é delas que nascem as nossas atitudes. Se as paixões são os ventos que movem o nosso barco, a razão deve ser o leme que determina o nosso rumo.

Assim, não nos devemos entregar aos sentimentos; ou, sem controle, naufragaremos sob a sua força. Como não podemos fingir ignorá-los, ou jamais descobriremos como posicionar o nosso leme.

Aquele que vive apenas em função do que sente, é como o barco que se perde a navegar em círculos e jamais chegará ao seu porto. Entretanto, aquele que vive apenas da razão jamais conhecerá a emoção da viagem, nem sentirá a doce carícia do vento.

Somos partes do Universo; é Ele que vive em nós, como Nele vivemos. A criatura é parte do Criador, e assim tem parte da Sua força. E mesmo a menor parte do Infinito é infinita, em si mesma.

Por isto, cada homem é um mundo à parte. Em cada um de nós, existem elevadas montanhas, calmas planicíes e profundos desfiladeiros. Em cada homem, podem rugir furacões sem controle, ou perpassar suaves aragens. Em nós, existem o dia das nossas esperanças, e a noite das nossas decepções.

Precisamos enfrentar os nossos desertos, para que possamos desfrutar dos nossos oásis; passear por nossas praias, e desvendar o mistério de nossos oceanos.

Precisamos conhecer os nossos caminhos, para que possamos encontrar o nosso Eu maior.

Porque através dele encontraremos o Universo, que vive em nós.
Amigos, ainda não pude voltar às atividades normais, o que deverá ocorrer em breve. Esta postagem é a minha forma de agradecer a companhia e desejar a todos uma Feliz Páscoa, com muita saúde e paz!