6.30.2008

O PAU DE BOSTA E A LEI IDIOTA

Aqui na Bahia, a expressão “pegar em pau de bosta” significa exatamente o que parece: arranjar problemas para si mesmo.

E acredito que é isto que estou fazendo, ao escolher o tema de hoje; tenho certeza que as reclamações virão, inclusive de dentro da própria família. Mas, convenhamos, se isto me assustasse, eu não teria criado o Opiniaum; nem seria fiel a ele, se não dissesse o que acho do assunto.

Então, vamos lá: pelo que vi na TV, parece que a nova lei sobre beber e dirigir é, não diria draconiana, mas perfeitamente idiota. Pela primeira vez na vida, sinto vontade de apoiar o anarquismo; a absoluta não intervenção do Estado na vida do cidadão.

Dizem que o brasileiro só fecha a porta depois de roubado. E eu acrescento: não contente em fechar, coloca 46 trancas e fechaduras, de tal modo que ele mesmo tem dificuldades para entrar em casa. É uma síndrome nossa.

Claro está: não sou a favor de bêbados dirigindo, causando acidentes e matando pessoas. Mas, pergunto: a pessoa, o adulto responsável que bebe uma cerveja, perde a capacidade de dirigir? Torna-se uma ameaça pública?

Porque, repito, pelo que vi na TV, basta o cidadão de bem tomar uma cervejinha e ter o azar de cair numa blitz, para ir em cana como se marginal fosse. Enquanto os verdadeiros marginais continuam soltos, cada vez mais audaciosos.


Isso é justo? O mesmo cidadão que paga seus impostos, sustenta sua família e dá 5/12 do seu salário para sustentar os políticos, responsáveis por mais esta lei idiota. Até porque políticos não dirigem: têm motoristas. Que nós pagamos.

Ou seja: já não se pode mais ir à praia, num domingo, e beber duas cervejinhas, com a família e os amigos. Ou ir a um aniversário, a menos que seja de criança e sirva apenas refrigerantes. Aliás, nem se pode usar anti-séptico bucal, ou comer dois bombons de licor... a cadeia espreita.

Volto a dizer: jamais farei apologia a dirigir bêbado, até porque é um crime contra a vida. Mas, como reza o provérbio, est modus in rebus; o que, aliás, nada tem a ver com rabos. A virtude está no meio, nunca nos extremos; tão ruim como a liberdade absoluta, é a coerção exagerada.

Em poucos dias, completo 60 anos de vida; 34 de CNH. Já houve ocasiões em que bebi demais, sim, e numa delas quase morro, inclusive. Hoje, muito menos atirado e mais prudente, sei que as duas ou três cervejinhas que bebo não representam risco algum a quem estiver comigo no carro que dirijo; se pensasse diferente, eu seria o primeiro a não beber.

Há muitos irresponsáveis? Concordo. Deve-se restringir o consumo de álcool? Concordo. Mas por que não limitá-lo a um patamar inteligente, que as pessoas possam realmente respeitar? Condene-se por crime doloso, sim, a quem se envolver em um acidente e estiver embriagado. É mais do que justo. Mas não se trate o cidadão como criminoso, por dois copos de cerveja.

Estou advogando em causa própria? Talvez. A verdade é que posso ser preso qualquer dia, embora provavelmente beba muito menos que o Lula.

Eu não posso ter motorista.


UPGRADE, EM 01/07/2008 : Amigos, sintam-se à vontade para discordar; até porque o nosso objetivo, aqui, sempre foi este: que cada um dê a sua opinião, sem que ninguém se aborreça. Só faço questão de deixar bem claro: não sou contra a proibição de beber, mas contra o limite imposto. É o exagero que acho idiota; como todo exagero, aliás.

6.13.2008

O BRAGA E O BAZUCA

Esta história ocorreu há quase quarenta anos, quando o Braga, hoje gerente de banco, começava a trabalhar em uma agência do interior, numa cidade calma e pequenina. Tão pequenina, que nem puteiro tinha.

Hoje, quase todos os puteiros fecharam: não dá pra encarar a concorrência das amadoras, que fazem de graça e melhor, por puro amor ao esporte. Porém naquele tempo eram de grande utilidade à ordem pública, principalmente nas cidades do interior, onde foram responsáveis pela longevidade de grande número de respeitáveis e insossos casamentos.

Recém-chegado à cidade, ficou o Braga curioso com o apelido de “Bazuca” dado a um dos colegas, um rapaz franzino e baixinho, sem nada que justificasse um apelido de tamanha potência. Bazuca, vocês sabem, é um canhão portátil, capaz de detonar um tanque de guerra.

Logo descobriu que o apelido se devia a determinada parte da anatomia do rapaz, anormalmente avantajada em comprimento e calibre; assustadora, mesmo, segundo os mais enfáticos. Tanto que o cognome de “tripé”, inicialmente proposto, pareceu acanhado para tamanho prodígio da natureza.

Como em cidade pequena tudo se sabe, o Bazuca continuava virgem, aos 25 anos: nenhuma corajosa se aventurara a descobrir se o canhão era tão potente quanto ameaçador. Eram manuais, os seus eventuais disparos.

Uma noite, o Braga foi convidado por um colega a visitar o puteiro da cidade vizinha e resolveu levar o Bazuca; de pura sacanagem, acho eu, mas ele jura que pelo nobre motivo de introduzir o pobre rapaz nos mistérios da vida. Literalmente falando, eu diria.

Depois de uma sacolejante viagem de jipe e umas três cervejas, lá se foi o Bazuca, agarrado a uma mulata bunduda, para os quartos do andar de cima, enquanto o Braga e o outro continuaram bebendo, no salão quase vazio, ouvindo Waldick Soriano e azarando o mulherio.

De repente, uma porta bateu com força e a mulata desceu correndo as escadas, apavorada e seminua; atrás dela vinha o Bazuca, todo atrapalhado, tentando abotoar as calças, enquanto o canhão teimava em escapar.

Ao descer os últimos degraus, ele tropeçou e caiu; a Bazuca se esparramou pelo chão, os comentários cessaram e um “OH!” de assombro, medo e inveja se fez ouvir. No silêncio, todo mundo ouviu perfeitamente a pergunta do Braga:

- Caramba, Bazuca! Que foi que você fez?!

Ainda caído, o Bazuca respondeu:

- Nada, colega! Eu só tirei as calças e perguntei se atrás era o mesmo preço...