2.22.2007

O APRENDIZADO DO PERDÃO


O perdão, quando concedido entre os homens, vem quase sempre acompanhado pelo silvo do chicote; poucas vezes, encontra a suave música da compreensão.

Os nossos acertos são esquecidos, mas os nossos erros são guardados na memória daqueles a quem ofendemos, como promissórias que nos serão cobradas no futuro; e esta é uma dívida que jamais poderemos saldar, porque reside no passado. Cabe-nos, apenas, resgatar os juros da humilhação.

Em si mesmo, este perdão é uma mentira; e, como todas as mentiras, não resiste à luz da verdade. Porque não é um perdão, mas apenas a aceitação de um fato; e aquele que o concede é como o credor que não esquece o débito, mas antegoza a eterna cobrança dos juros que julga devidos.

Este não é o perdão que se mostra, mas sim a vingança que se oculta. E não é o Amor que o concede, mas o ódio que finge concedê-lo. Nele não está a compreensão que liberta, mas a revolta que escraviza.

O verdadeiro Perdão traz consigo o esquecimento. É como uma fonte de águas límpidas, a lavar de um coração a amargura do rancor e de outro o sofrimento do remorso; e, ao fazê-lo, constrói entre esses corações uma sólida ponte, que os ventos do destino jamais conseguirão lançar por terra.

O falso perdão, entretanto, é como um lodaçal coberto por uma vegetação traiçoeira, que ao menor sopro de vento exibe a sua verdadeira face. E, ao submergir a ambos, ofensor e ofendido, em suas fétidas águas, impede que os seus corações se possam encontrar na mansão da Companhia.

Melhor seria que não fosse concedido! O amor pode vencer o ódio, mas não consegue conviver com a mágoa. Porque o ódio é como o fogo, que a tudo queima nas suas efêmeras labaredas; mas a mágoa é o veneno insidioso, que traz um pouco da morte a cada dia.

Aquele que abriga as lembranças ruins do passado, conserva em seu coração a mágoa que poderia ter superado. E quem pode construir a felicidade de amanhã, convivendo com o sofrimento de ontem? O Amor não pode reluzir em nossos olhos, se a mágoa enevoa os nossos corações.

É com a alma, e não com a mente, que cada homem deve conceder o seu perdão; não para atender às necessidades do momento, mas sim para que o ressentimento seja expulso do seu coração. Só assim poderá deixá-lo limpo, para que nele o Amor se possa novamente abrigar.

Necessitamos do perdão, para conviver neste mundo. Porque ninguém pode ser perfeito, se caminha sobre a terra, e assim o erro é natural no homem; é através do erro, que descobrimos o acerto. Como é através da tristeza, que descobrimos o valor da felicidade.

Precisamos aprender a perdoar, porque todos necessitamos ser perdoados. E como alguém poderá confiar no perdão de outrem, se não consegue acreditar no seu próprio perdão?

Cada erro é, apenas, uma experiência a mais; e no arrependimento está o seu próprio castigo, que na verdade é apenas uma forma de acelerar o aprendizado. Mas é dentro de cada homem que deve nascer o arrependimento, pois dos castigos por outrem infligidos apenas pode brotar a revolta.

Precisamos aprender a perdoar.

Para que possamos libertar a nós mesmos...