LENDA URBANA?
Já publiquei, aqui, um post sobre a escalada da insensibilidade.
Mas eu me referia a uma insensibilidade mais light, mais cool, se é que isso existe: a nossa indiferença diante de notícias, que dão conta da morte de centenas e até milhares de seres humanos, como se essas pessoas fossem apenas números.
Agora, acho que a coisa pode ser muito pior do que eu pensava! Li, ontem, no blog da Luma, que um rapaz de 16 anos divulgou, durante um mês, o seu suicídio, em um chat de bate-papo, marcando data e horário e pedindo a ajuda dos participantes do chat, para se matar. E eles ajudaram! O garoto morreu.
Já acho um absurdo que se façam guerras; que se matem pessoas em nome de conceitos cada vez mais abstratos, como de pátria, de raça ou de religião, que a globalização nos oferece a chance de trocar pelo título, bem mais humano, de cidadãos do mundo; de um mundo melhor e mais unido.
Inegavelmente, estamos endurecendo e perdendo a ternura; de nada adiantou o aviso de Guevara. Mas deve haver um limite. E, considerando que um site de bate-papo costuma contar com diversos participantes, uma pergunta insiste em martelar na minha mente.
Na postagem, a Luma discorre sobre os aspectos psicológicos do caso, abordando o perigo da melancolia, que pode ter motivado o gesto do jovem. Mas o que eu quero saber é: que pessoas incentivariam e ajudariam no suicídio de um garoto de 16 anos? Que filhos-das-putas fariam isso? Assim mesmo, com traço de união e tudo, porque esses são os legítimos, na pior acepção do termo.
Eu me recuso a acreditar nisso. Prefiro pensar que é mais uma lenda urbana, como tantas outras que cercam a Internet. Não acredito que já chegamos a esse ponto de insensibilidade e estupidez.
Não acredito que estamos renunciando à nossa humanidade. Ou, talvez, a coisa seja ainda pior.
Porque nunca vi um animal ajudar outro a se suicidar!
28 Comments:
Você não quer acreditar, assim como eu também não. Fiquei estupefata! Não é lenda urbana, senão um Jornal como o Zero Hora não iria publicar. Os leitores do luz que residem no Rio Grande do Sul também comprovam.
Eu me apeguei ao perfil emocional do garoto, porque se ele não estivesse tão mal da cabeça, não iria embarcar nessa. E quantos garotos não estão pedindo SOCORRO?
Parece que o principal acusado de incentivar o garoto é um bombeiro. Adulto e treinado para salvar vidas.
E assim caminha a humanidade.
Temos que prestar mais atenção em nossas crianças, nos gestos simples do dia a dia, um tudo bem, pode mudar a história de alguém.
Obrigada pela citação.
Bom fim de semana!
Beijus
Luma, eu não sabia que tinha saído no Zero Hora; mas é complicado mesmo, não é? E o que mais me assusta é exatamente o que vc falou: qtos garotos mais serão vitimados por gente assim? Em certos aspectos, às vezes parece que a humanidade caminha pra trás. :( Bjs
Flávio, a situação está chegando a níveis insuportáveis. Comentei num post sobre o caso de Suzane. “Estamos deixando de acompanhar o desenvolvimento de nossos filhos”. Muitos pais que trabalham o dia inteiro, não sabem o que lhes acontece. Não percebem quando algo não está bem. Veja nesse caso, quanto tempo levou pedindo socorro e ninguém teve sensibilidade para entender e estender a mão. Nem os pais, ou, pessoas mais próximas. Muitas questões psico/emocionais, (nessa fase de adolescência), trazem conteúdos tão significativos para eles, que não conseguem encontrar uma saída. Casos que muitas vezes, um olhar mais significativo, um acolhimento, um esclarecimento, um acompanhamento psicológico, ou, até mesmo médico, pode evitar que venha a ter um desfecho trágico. É triste ver que nada mais somos, ou, representamos. Que o mundo material e sócio/econômico se sobrepôs aos nossos princípios básico, aos sentimentos e ao princípio fundamental da vida, o amor.
Anônimo, vc está com a razão. Mas eu ainda prefiro acreditar nas pessoas como vc, que têm o amor como princípio basico... é triste admitir que o mundo desmorona!
Que horror Flávio. Acho que li qualquer coisa na página do Terra mas que o garoto teve o "incentivo" de outros eu não sabia e isso pra mim acaba sendo muito pior do que o ato em si.
Horrível mesmo, Márcia! E não houve qualquer ganho material dos envolvidos. Será que pessoas participam de uma insanidade destas, pelo simples prazer de matar? :(
Flávio, a insanidade humana perpassa pelo desamor. A família, que é a base de tudo tem sido a grande culpada. Os filhos já não têm mais referencial. Tanto que temos visto coisas horríveis acontecerem dentro do ceio familiar. As pessoas que incentivaram tal ato, também carecem de cuidados. Talvez, não pela mesma questão, mas essa atitude é normal? Ou, teremos que admitir que anormais somos nós, que ainda nos comovemos com o outro.
Anônimo, concordo que os filhos carecem de referencial. Mas acho que não é o caso de culparmos "a família", como entidade abstrata, pq somos nós, pessoas, que a constituímos. Como naquele ditado, o buraco é mais embaixo...
Flávio entenda; a família é o princípio de tudo. E com a necessidade da ausência dos pais, os filhos crescem sem orientação devida. Nem todos são iguais, (claro), mais existem aqueles que nem sabem, quando os filhos têm comportamentos diferentes. Porque não observam e não dispõem de tempo para uma boa conversa. Precisamos ter coragem para admitir; todo filho com problemas emocionais, a raiz está diretamente ligada aos pais. Muitos chegam a levar seus filhos aos consultórios, de especialistas da área e dizem meu filho tem problemas. Claro que sim, mas quem precisa de acompanhamento? Tanto pais, quanto filhos. Alguma coisa na relação familiar, em algum momento, desencadeou todo processo e não foi observado. Existem outros fatores, sim, também, mas aí passaríamos horas para entender, como eles se entrelaçam.
flacião, tu tinha lido sobre isso e me estragou o dia. a noticia diz que uma guria do canada avisou a policia. os pais dela devem cuidar mais dessa garota, afinal, o que ela fazia nesse chat? do mais, tem doido pra tudo amigão.
Anônimo, eu entendi... e sei que essa é a sua área! :) Mas o que eu quis dizer é que, ao dizermos que a culpa é "da família", estamos culpando uma entidade abstrata... formada por nós mesmos, entende? Precisamos consertar-nos, para consertar "a família"! ;)
Olá.....É a primeira vez que passo por aqui,adorei seu Blog ,vou voltar.Amei o texto do Kazu,lindo!
Sobre o suicídio do rapaz,eu acho que cada um que estava na conversa,achava que éra pura brincadeira.Na maioria das vezes quem se suicída ,não fica avisando,faz e pronto.
Júnior, uma notícia dessas estraga o dia de qualquer um... principalmente de quem tem filhos adolescentes! :( Qto à garota, ela pelo menos avisou... mas concordo com vc que os pais devem redobrar os cuidados! Abração.
Valéria, obrigado pela visita, pela classificação do texto e pela participação! Qt à sua opiniaum, eu conheço bem o IRC e tb pensei nessa possibilidade; é possível, sim. Mas foi, no mínimo, irresponsabilidade criminosa ensinar como fazer, vc não acha? Volte sempre... o espaço é nosso! :)
Flavio, eu dei uma pesquisada e tá com cara de lenda urbana... ninguém dá nome do guri, nem o link do blog do infeliz.
o fato de várias agências terem publicado as mesmas informações imprecisas me reforça essa impressão.
e eu já li várias notícias parecidas, só muda o país ou o sexo e idade do "suicida"...
hoje em dias de internet é assim: neguinho fica com a bunda na cadeira da redação, entra no Gúgol, ou chupa nota de agências e publica. ninguém checa nada.
Caramba, Serbon, eu trabalhei em jornal daqueles velhos tempos... de notícia sofrida na rua, ou telex e teletipo! Lembra? :)
Espero, mesmo, que seja "barriga"; não só pelos pais do eventual guri, mas tb para saber que a miserabilidade humana ainda não chegou a este ponto! Se conseguir algo me avisa, certo? Abração.
Flavio, internet é terra de ninguém ,e o papel e a tela do computador aceitam qualquer coisa...
basta lembrar os boatos do Cocadaboa e os jornais caindo que nem patinhos. Gente calejada como o Noblat, Claudio Humberto e Moacir Japiassu engoliram os boatos do Mr. Manson.
se alguém me falar o nome, endereço e link do blog do guri suicida, eu acredito. por enquanto, pra mim é lenda urbana.
Serbon São Tomé...
rapaz, eu cheguei a pegar o Telex...
depois veio a internet. facilitou por um lado, deixou gente preguiçosa do outro. e este tipo de publicação de noticias falsas ou irrelevantes faz a festa do Esfiha Pirada, né não?
É, Serbon: por um lado, trabalhando em redação, a gente fica calejado. Se bem que eu tenho tanto tempo fora, que nem sei se ainda funcionam UPI, France Press, Reuters... :)
Por outro lado, essas notícias que vc falou realmente municiam o Esfiha... e nos proporcionam boas risadas! :)
De fato as pessoas tendem a ser insensíveis e demonstrar descaso habitual.
Cristiano, cada vez mais. E isto é preocupante...:(
Isso, Vanessa, este é o ponto principal: a insensibilidade. será que as pessoas entram em transe coletivo, ou simplesmente não se incomodam mais com as outras?
No mais, não sei se existe uma sanção legal para indução ao suicídio; acredito que sim. Mas é certo que deveria haver, não é? A mesma de assassinato doloso,eu acho!
Pode ser lenda urbana, mesmo, mas o caso é que historias de suicidios de uma maneira bem mórbida fascinam as pessoas.
Acredito que a presenca da platéia representa uma pressao enorme e acaba colocando a pessoa num beco sem saída: ela precisa cumprir a promessa feita, dando o espetáculo que o povo tanto busca, com risco de ser profundamente ridicularizada depois.
Lembra de um caso horrível de uma menina que ameaçava se matar pulando de um prédio, o povo ao redor gritando "pula, pula" e o SBT mostrando tudo?!
Ela acabou pulando mesmo e morreu. Na frente de todo o mundo, na frente das cameras. Seguramente, nao só por seus motivos pessoais, mas pelo "estímulo" que recebeu e a presenca da mídia espetacularizando a coisa toda.
A impressao que tenho é que todo o mundo entra num transe coletivo e tudo vira entretimento, esquecendo o que de fato significa aquilo.
Nao a toa, praticamente nao se noticia suicidio no Brasil´, pra que nao influencie outras pessoas.
Aqui no Peru o suicidio é quase que uma epidemia. É muito comum e quase sempre por motivos passionais. E qualquer historia é primeira página nos jornais. Um horror, realmente.
Abracos,
Vanessa
PS: Aliás, uma pessoa que assiste um suicidio e que o estimula, sem fazer nada pra evitar, nao pode sofrer uma sanção legal?!
Isso, Vanessa, este é o ponto principal: a insensibilidade. será que as pessoas entram em transe coletivo, ou simplesmente não se incomodam mais com as outras?
No mais, não sei se existe uma sanção legal para indução ao suicídio; acredito que sim. Mas é certo que deveria haver, não é? A mesma de assassinato doloso,eu acho!
Ok, mas esquece o "envolta" (ui) e substitui por ao redor, tá?! ;-)
Vanessa, já fiz isto... notou? ;)
:-)
Quando li essa matéria, que saiu tb na revista época, fiquei confuso sobre o que poderia concluir a respeito. Não creio que devamos culpar alguma pessoa pelo que houve, pois também me coloco no lugar do garoto e acho que entendo as suas motivações. A idéia da morte como libertação é uma coisa que me acompanha desde muito criança; mas não é fácil lidar com a idéia e chega a um ponto em que não tomar uma atitude soa como um verdadeiro fracasso. A vida toda tenho tentado me adaptar, ja fiz diversos tipos de tratamento como acupuntura, anos de psiquiatria e de psicoterapia. Leio até hoje diversos livros, desde literatura comum a textos específicos de neurociências, qualquer coisa que possa me dar alguma luz. Procurei algumas religiões, conversei com sacerdotes budistas e até mesmo com padres. A minha lista de alternativas vai se esgotando aos poucos. Não quero dizer que não existe esperança, ou que o suicídio seja a melhor solução. Note-se que o garoto fazia análise, nada indica que fosse negligenciado pelos pais. Até mesmo liberaram a casa para um churrasco com amigos, o que me parece muito generoso da parte deles.
O ponto é que não vejo sentido em buscar culpados, pois acredito que a vida, para algumas pessoas, pode ser árdua e incompreensível. O que penso é que sabemos muito pouco sobre a complexidade humana. Vivemos num mundo novo, buscamos conviver com as transformações imensuráveis das tradições e dos costumes. Mas nem todos conseguimos nos adptar. Às vezes olho em volta e não vejo o mundo onde eu cresci; problemas de criação? sem dúvida! fatores genéticos? é bem possível. O fato, resumidamente, é muito simples: ainda carrego o meu corpo todos os dias, como uma penitência que me estorque as forças. Ainda quero ter esperanças, muitas vezes peço socorro. Mas quem pode socorrer? Como se pode socorrer, de fato, alguém nesse estado? Talvez algum dia eu termine internado num hospital psiquiátrico. Seria vitória para quem, em todo caso?
Postar um comentário
<< Home