O PÉ DA TIA E O MINGAU DE MAIZENA
Em 1970 cheguei a Amargosa, para trabalhar no BB. Na época, a cidade ainda não era famosa pelo São João; aliás, não era famosa por coisa nenhuma. Era uma merrequinha de cidade, com cerca de 7.000 habitantes, já incluída a zona rural. Pequena, mesmo; mas bonita e pacata.
O pessoal do Banco do Brasil morava em uma “República”: uma casa enorme, onde cada um tinha seu quarto e todos dividiam as despesas. E foi pra lá que eu fui. Éramos eu, Tião Mineiro, Gil, Sant’Anna, Roberto, Hélio, Brochado (vê lá se isso é nome de gente!) e Wanderlei, mais conhecido como Badeco.
O Badeco tinha deixado uma noiva, em Salvador, pela qual era apaixonado; assim, não namorava ninguém na cidade. E muito menos ia ao puteiro (pois é, naquela época havia puteiros); isto o transformava em alvo predileto das nossas piadas, já que nenhum dos outros era, digamos, santo ou apaixonado.
Havia, também, a Tia Maria. Seria a empregada da república, se não fosse a “mãezona” de todos nós, com autoridade bastante para dar um baita esporro em qualquer um que saísse da linha.
Que me desculpem os politicamente corretos, mas não vou dizer que Tia Maria era afro-descendente; seria errado. Ela era a própria africana: negra, daquelas que a pele até parece azul. Baixinha, com 1m50 de altura, e gorda; tão gorda, que até parecia quadrada.
Ninguém sabia a sua idade; dizia-se que tinha sido escrava. Tampouco, alguém havia visto os seus cabelos, se eram brancos ou não; ela usava um lenço, na cabeça, que parecia haver nascido ali. Passei um ano na república, e nunca vi Tia Maria sem o tal do lenço.
Ignorante ao extremo, no sentido mais amplo do termo. Não sabia ler; muito menos escrever, é claro. Mal fazia as contas mais fáceis e falava tudo errado. O pessoal adorava pedir que Tia fosse no bar da esquina, comprar cerveja, porque ela falava “Drama” e “Fantástica”, em vez de Brahma e Antarctica; as únicas marcas que havia naquele tempo.
Só andava descalça; dizia que não havia sapatos que dessem em seus pés. E, realmente, os pés da Tia Maria eram enormes; como se estivessem permanentemente inchados. Descalça, ela andava em casa, ou cruzava a cidade, como se não sentisse o chão quente do meio-dia.
Um sábado, estávamos todo sentados à mesa, almoçando. Tia Maria servia os pratos, calada, com a cara emburrada. Tião, que já tinha tomado umas duas cervejas, perguntou:
- Que cara é essa ,Tia?
Ela respondeu bem alto, ainda de cara fechada:
- Eu não vou mais limpar o quarto de Badego!
Não lembro quem foi, mas alguém perguntou:
- Por que, tia?
E ela:
- Fui limpar aquela porcaria hoje de manhã, e na hora que eu vi, tinha enfiado o pé no mingau de Maizena. Nunca vi, um homem desse tamanho que ainda toma mingau na cama e derrama tudo! Caiu até no lençol!
A gargalhada explodiu, em volta da mesa. E nasceu o apelido de “Badeco Punheteiro"...
50 Comments:
Menino, acho que vc vai ter que escrever um livro com as suas histórias. Vc é muito bom nisso! Conheci Santana, Tião, Brochado...Viramos vizinhos.Bjs.
Hahaha!
Sentiria vergonha por ele, que comédia.
Abraço
...rs... muito engraçada... imaginei a cena... me vi nela, gargalhando até doer a 'rabiga'...rs...
Detalhe: odeio mingau seja lá do q for...rs...
Beijosssssssss
Só rindo muito viu!!
Ótima semana
bjs
Boa rs. cada uma... bj laura
auhuaha que coisa. Engraçadíssimo! A senhora citada me lembrou uma outr a pessoa...
Sobre o seu comnetário ao meu texto. Desculpe a minha falta de visão. Mas a hipocrisi da qual se referia era a de quem no texto?
O bom moço não era o hipócrita, ele até reconhece seus erros, o que o incomodava era ser colocado num altar do qual achava não ter mérito e realmente não tinha, ele não se fazia de bom, ele apenas busca melhorar-se, mas isso quando se faz é uma coisa que incomoda não é mesmo? A vontade de ser como todo mundo é mais forte. Desculpe se não entendi gostaria que me escrevesse um e-mail sobre o assunto, percebo aqui um grande oportunidade de desenvlver um assunto de aprendizado. Agradeço se aceitar e se não aceitar também só o comentário me despertou a curiosidade. Obrigado!
Hahahaha! O Badeco quase engravida a Tia Anastácia, quer dizer, Tia Maria!
Essa história me fez lembra o meu tempo de república. O Eugênio, maconheiro de primeira linha, costumava fumar dentro do banheiro antes de tomar banho. Quando terminava, deixava aquele vapor com cheiro de bosta de vaca. A "Vó", versão branca da Tia Maria, costumava comentar:
_O Geninho tem "obra" ruim...
A coitada achava que aquele cheiro era merda!
Abraços!
DB.
Ainda bem que Tia Maria não resolveu provar do mingau, rsssss
Vocês aprontavam heim?
Suas histórias são perfeitas Flávio...
linda semana querido
beijossssssssssss
Ele deixou a noiva la..mas encontrou um jeitinho...
Rita, bom vc ter conhecido a galera... assim, testemunha que é verdade! :) Bjs
Gabriel, acredite... o cara ficou vermelho, na hora!
Jess, de Maizena inclusive? ;) Desculpe, viu? Não resisti à piada. Zangue não! :) Bjs
Xará, esta foi a idéia! :) Bjs, boa semana
Laura, realmente... é cada uma. Até parece aquelas dos e-mails, né? :) Bjs, tks
Mago, foi engraçado mesmo. O azar do cara foi que o apelido pegou! :)
DB, a Tia Maria era, mesmo, a minha imagem da Tia Nastácia. Agora, esse seu companheiro de república, hein?... que cara de pau! :) Abração
Clarinha, ela era solteira... acho que nunca provou daquele mingau, não! ;) Bjs, boa semana!
Cilene, acredite... nessas horas, o cara se vira! ;) Boa semana, amiga.
hahahahahahahah!!!!!
bem, esse risco o Brochado não corria!!!!!
Serbon, o pior é que esse Brochado casou... e teve filhos! Naquele tempo, não tinha lei contra propaganda enganosa... ;)
Flávio, você com essas suas histórias, me quebra de rir! rsrs
Em algum momento, no Rio, num dos eventos que fiz pra funcionários, tinha um Brochado entre os premiados... foi num hotel fazendo em Teresópolis... e foi uma zona só a homenagem a ele... não sei se seria o mesmo... mas Brochado assim...será que tem muitos???? No BB ?????
Beijins
Essa Tia Maria era uma figuraça heim, pedir Drama e Fantástica? hahahaha
Bom, mingau de maizena... hahaha deixa quieto essa daí...
ahhh eu li o comentário q vc deixou sobre o meu comentário no seu post passado...
que houve? eu li seu comentário lá no meu blog... ou vc tentou depois e deu certo. Ou será que meu blog tava off pra troca de layout, hã hã hã...
hahahahahaha, de qualquer forma, seja la o que foi que houve eu preciso te linkar, seu blog é foda demais, quero estar sempre por aqui pra ler seus contos, suas memórias.
beijooooooooooo
Hahahahaha
Mas o melhor ainda foi a Drama e a Fantástica, hahahah
hahahahahaha. adorei. Mingau é demais mesmo. Ô cara porquinho para comer mingau na cama...hahahhhaha
Valeu !!!
abs
Essa é a idéia, Júnior... essa é a idéia! :)
Lourdinha, acredite em mim: tem muito Brochado, sim... e não só no BB. Banco é dose! :) Esse da história chamava-se Antonio José... Bjs, bem vinda de volta! :)
Anne, figuraça mesmo! Já pensou, se naquele tempo tivesse Kronenbier ou Heineken? :) Brigado pela opinião sobre o blog, viu? Tb gosto do seu! Bjs
Márcia, eu sabia que vc ia gostar. Boa sorte no lançamento de hj, viu? Tou torcendo! :)
Claudo, porquinho não sei... mas necessitado, com certeza! :) Abração
rindo, rindo e rindo...
Beijo.
Mingau de maisena é ótimo! Ha! ha! ha! Como sempre, o timing certo no desfecho, Flávio. Muito bom.
Flávio, ainda bem que ele se resolvia sozinho. Imagina a criatura ficar sem opção???
Ri muito com a Tia Maria.
Bjos.
Clara: gostei, gostei e gostei... esse era o objetivo! :) Bjs
Marconi, obrigado. E de timing vc é professor! :)
Vera, com certeza... era um cara independente! ;) Bjs
ahahahahahah genial! bela memória e impagável final.
Oi querido!
Só passei para dizer que adorei seu comment. Quando minha "correria" se normalizar, voltarei como sempre.
beijos mil, e obrigada pela torcida.
Ricardo, obrigado. Tens unslances que são, realmente, incríveis... :)
Tina, não agradece... vc merece! :) Bjs
Piadinha sem-vergonha...rs...
Não, só o de amido-de-milho.
Vc takita, né?...rs...
Beijosssssssss
Sensacional, eu tava com muita saudade dessas suas histórias. Eu tb morei em republica e tenho algumas, uma delas até bem parecida com essa.
um abração amigo
hahahahahah Fiquei com dó da Tia Maria, não é mole não cuidar de tanto marmanjo largado na vida...rsrs
Boa história, como sempre!
Até mais!
Jess, essa foi mesmo. Mas eu pedi desculpa, não é? :) Bjs
Júnior, a gente tb tava sentindo falta docê! República é uma fonte de histórias, né? :) Abração.
Chris,a tia gostava! :) De vez em qd, eu tenho minhas dúvidas se ela não fazia uma dessas já de sacanagem... :) Bjs
Flávio, já disse e repito: ocê sabe contar histórias!! rsrsrs morri de rir!! Bjs!
Enoísa, e só agora eu vi o seu comentário, viu? ;) Bjs, bom fds
cara.... q louco deve ter sido.. vcs devem ter kurtido d++ queria muito ter conhecido a velhinha... beijos t++
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