DE CORNOS E BIG BROTHERS
Vamos por partes; filosofia, aliás, muito do agrado do Dr. Frankenstein.
Primeiro, o corno; uma instituição mundial e secular, que até hoje persiste com elogiável democracia. Observe-se que, no Brasil de hoje, como na Roma antiga, até Senadores levam os seus chifres.
Desde que eu era criança, citavam-se vários tipos de integrantes da benemérita Confraria de São Cornélio: o corno manso (todo mundo conhece), o corno churrasco (aquele que põe a mão no fogo pela mulher), o corno enganador (bate na porta da frente e entra pelos fundos), o corno delicado (chega em casa antes da hora e espera a mulher acabar), o corno alto-falante (aquele que conta pra todo mundo) e muitos outros.
Como a corneação não pára, a tecnologia acaba de lançar um novo tipo de chifrudo: o corno Big Brother; aquele que é transmitido pela TV, em rede nacional, para todo o país. É o corno que sente a dor na hora em que o chifre nasce, benefício negado aos seus antecessores.
E é assim que chegamos ao Big Brother, da TV Globo; pioneiro, aliás, na nova modalidade. Desde o primeiro programa, alguém esquece o namorado ou marido que deixou cá fora e vai pra baixo dos edredons, com algum colega de casa. Ou a carne é fraca, ou a aranha tem mais fome do que se imaginava dantes. O que, aliás, vai dar no mesmo; e no mesmo chifre, inclusive.
Diga-se de passagem que eu não assisto o Big Brother; jamais assisti. Tenho o péssimo defeito de não ter curiosidade pela vida alheia, mesmo porque a minha já é muito complicada. Ora; se eu, que não assisto, tenho conhecimento dos cornos que rolaram, presumo que todos no Brasil também saibam.
E isto, convenhamos, é de doer. Talvez mais até que o próprio corno! Uma coisa é o chifre secreto, que permite ao cidadão decidir o que vai fazer a respeito; outra coisa é passar na rua e ser apontado como corno. Ou chegar no trabalho e ouvir as risadinhas; ou estar jogando o futebolzinho do fim de semana e ouvir alguém gritar: “Vai que é tua, corno!”. Não deve ser mole.
O que nos leva ao marido da Katilce, intrépido herói brasileiro: o cara enfrenta uma fila desgraçada, para comprar o ingresso da mulher no show do U2, e a ingrata chega lá e dá uma bela e demorada sentada no colo do Bono, além do beijo na boca, em despedida. Tudo isto, em rede mundial de TV e com direito a reprise no Jornal Nacional, em horário nobre. É de lascar... nem que seja com o chifre!
Os números não mentem: soube que a página dela, no Orkut, recebeu, num único dia, mais de 150.000 scraps... e caminha pra um milhão. É a celebridade instantânea, tão ao gosto do brasileiro. Deve ter sido um recado, para cada vez que o infeliz foi chamado de corno.
Calculo o day after do coitado, no trabalho: as risadinhas, os comentários, os tapinhas nas costas, a admiração e a solidariedade fingidas e maldosas. A raiva contida.
E pior ainda terá sido se, ao desfiar as suas queixas no fim do dia, ele ouviu da mulher a tradicional frase de consolo:
“Ora, querido, chifre não existe. Isso é coisa que puseram na sua cabeça!”.
10 Comments:
É certo que existem muitos tipos de cornos, como foi citado acima, mas, também existem muitos tipos de casais. Talvez quem sabe eles acreditem que a fama traga algum lucro. Ela conseguiu em pouquissimo tempo ser mais conhecida em todo país, que certas artistas de cinema ou tv. Quem sabe agora, a globo não lhe faz uma proposta de trabalho?
Agora só falta ele pegar carona no sucesso e transformar o chifre num mero galo na testa fazendo valer o ditado: os fins justificam os meios.
anônimo, é uma tese interessante. Como foi interessante o cara dizer que ficou feliz, "pois o Bono é o ídolo dela". Marido bom taí! Esse rapaz merece a mulher que tem :)
bem, vcs viram que já tem diretor da Globo de olho na moça!!!
Flavio, acho que vou escrever outro post com minha tese:o grande corno nessa história de mega shows não é bem o marido da Katilce.
O post tá muito divertido, Flávio, mas eu não consigo ver o que a Katilce fez como traição ao marido. Foi uma brincadeira, uma encenação - o Bono nem sabe quem ela é, tirou-a do meio da multidão, e faz isso em todos os shows; ela simplesmente aproveitou para tocar um ídolo mundial, tirar uma casquinha, já que ela estava ali mesmo. Era uma oportunidade única para qualquer fã. Não tem nada a ver com namoro ou caso.
Abraços,
Taí, Serbon... concordo. Se compararmos os dois casos, o careca tá bem pior... e nem tem cabelo pra disfarçar o ornamento! :)
leila, bem vinda e obrigado pelo toque; nosso objetivo é este: que cada amigo dê a sua opinião. Mas, cá pra nós, vc achou mesmo legal aquela "casquinha"? Afinal, todo corno começa com uma casquinha, não é? E, como brasileiro não perde piada, o day after do cara deve ter sido bravo!:)
Rapaz, esse negócio do corno do show do U2 foi realmente interessante. Eu fico imaginando o marido da Katilce num boteco lá no interior do Espírito Santo, tomando a sua Jamel, tirando umas férias da mulher, comendo um amendoinzinho sossegado com os colegas e eis que, de repente, sua santa mulher aparece dando beijo de língua em vagabundo na televisão. Este aí passou vergonha no boteco.
Paulo, não é? No boteco, no futebolzinho de fim de semana, no trabalho... este é o ponto!
Outra coisa:por que pode no colo do Bono e não no de um peão como eu? Até nisto tem discriminação?! :)
Podes crer, Mestre Flávio. Está na moda o corno Big Brother.
Relembro, a propósito, aqueles malhos que o Chico Buarque deu numa certa senhora em público, na praia de Ipanema.
Era casada, a ousada moça, com o cabra dono do estúdio onde o Chico gravava. Como bom corno, o homem assumiu o chapéu de touro, chorou, chamou a mãe para ampará-lo, e pediu que a mulher largasse desse costume de corneá-lo em público, porque ele ainda a amava.
Assim como a puta, o corno é figura das mais antigas da História, e por isso merece o nosso respeito e admiração.
Dom Gustavo, só hj li o seu comentário... aliás, abalizado como sempre. Apenas para citar um exemplo, é ao corno Menelau que devemos a sedutora narrativa de Tróia... :)
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