5.19.2007

A VISITA DO PAPA


Sim, eu sei que é matéria vencida. Mas, sobre a maioria das coisas, podemos pensar melhor depois que o tempo veio acalmar os nossos ânimos.

Além, disto, confesso, tive outro assunto que julguei mais importante: homenagear a minha mãe. Para mim, ela é bem mais importante que o Papa; merece bem mais a minha atenção.

Não sou católico. Mas respeito todas as religiões, desde que não arranquem o lombo dos crentes. Desde que não tentem cobrar o dízimo; muito menos transformá-lo em quinto, ou quarto, ou até meio a meio, como algumas seitas fazem por aí.

Portanto, nada tenho contra o Papa; muito menos contra os devotos, mesmo os mais inflamados. Cada um acredita no que quer; no que melhor combina com o seu próprio raciocínio.

Confesso que tenho uma certa dificuldade para imaginar que um homem possa ser o representante de Deus na Terra. Mas, para alguém que consiga acreditar nisso, certamente ele o é; e vê-lo pode ser a maior realização de uma vida.

Nada tenho, repito, contra o Papa; nem mesmo contra a pompa e o cerimonial que cercaram a sua visita. Teria, talvez, contra o dinheiro público que foi gasto nessa pompa e seria bem mais útil (e até cristão) auxiliando os pobres. A própria Igreja Católica ensina que o Cristo nasceu numa manjedoura, exatamente para ensinar a humildade.

Mas concedo que a renda gerada pela invasão de turistas talvez até tenha compensado parte desse gasto; vá lá que seja. Portanto, isto não me aborrece muito; talvez seja até melhor perder os meus impostos para o Papa, do que para políticos corruptos.

Entretanto, me aborrece que todo um país pare para acompanhar a visita de um homem. Me aborrece que a mídia fique tão centrada nessa visita, que os deputados possam aumentar em quase 30% os seus salários, sem qualquer protesto do povo.

Me aborrece que políticos peçam ao Papa para apressar a canonização de Irmã Dulce. Na minha acanhada ótica, alguém é ou não santo junto a Deus; nada que ninguém (a igreja, inclusive) faça aqui na Terra, pode alterar essa condição. Se eu tiver que pedir uma graça a Irmã Dulce, vou pedi-la... independente de lhe terem conferido o diploma de santa, ou não.

Aliás, também não entendo a importância de termos ou não um santo brasileiro. Alguém, por favor, me explique o que tem a ver! Os santos padroeiros continuarão a ser os mesmos, e cada um continuará a venerar o santo de sua devoção, seja ele de nascimento inglês, alemão, português... ou até um verdadeiro capadócio, como São Jorge.

O que altera a nossa vida, presente ou futura, material ou espiritual, o fato de termos um santo brasileiro? Teremos uma proteção especial? Vou esperar um pouco, para não queimar a língua. Vamos ver se a carga tributária baixa, os políticos roubam um pouco menos, a violência e o desemprego diminuem: esses, sim, serão verdadeiros milagres! E aí vou venerar São Frei Galvão.

Que me desculpem, portanto, os amigos católicos. A minha crítica não é à religião, mas à comoção que toma conta do nosso país e do nosso povo; por motivos a meu ver menos importantes que a fome, o desemprego, a corrupção, e a falência dos serviços públicos, como a educação e a saúde.

O Papa? Até que eu o achei mais simpático do que antes me parecia!...