EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA
Pessoal, o comentário do Paulinho ao último post me fez pensar que talvez eu esteja passando uma impressão errada.
É hora, portanto, de repará-la. De deixar bem claro que não sou, absolutamente, favorável ao PSDB ou a qualquer outro partido. Que não tenho qualquer tendência político-partidária.
Indo mais longe ainda, tento ser totalmente apartidário. E considero uma ironia do destino ter-me levado a trabalhar com política. Algo assim como um vegetariano trabalhando num abatedouro.
Repito: não tenho a menor simpatia por qualquer partido ou corrente. Se a tivesse, seria pela esquerda; lembrança dos tempos em que, adolescente, fui simpatizante do socialismo.
Mais do que simpatizante. Cheguei à militância, embalado pela idéia romântica de um sistema justo, que viria resgatar o povo e eliminar o sofrimento dos pobres. Lamarca, Marighella, Prestes, Guevara, Fidel, eram nossos heróis. Os militares eram os nossos vilões. Tolo e infantil romantismo.
Fiz parte de diretórios, escrevi manifestos, carreguei bandeiras, fui detido e ouvido pela então S-2 (braço militar do DOI-CODI); participei de passeatas e entrei em confrontos com a polícia. Levei muita porrada, para que nossos líderes pudessem escapar incólumes.
Líderes, aliás, que assim que puderam se tornaram políticos e deram uma banana pro povo. Como diriam Dom Gustavo e Dom Paulo, para os símios que apanharam por eles, preservando as suas valiosas peles, para que fossem entregues intactas ao sistema.
Data daí, a minha primeira desilusão com o socialismo. De amigos, parceiros dos nobres ideais e das lutas do dia-a-dia, que de repente se passaram para o sistema, indo fazer parte de tudo que abominávamos. Marcelo Cordeiro foi o primeiro deles; nunca me esqueço, porque foi o marco inicial do meu desencanto.
Entretanto, sou um romântico por natureza. Saudei o nascimento do PT, e acompanhei a sua trajetória, esperando que viesse resgatar os nossos ideais daqueles anos e fazer pelo povo, como um partido organizado, o que o nosso movimento, disperso e desorganizado, não havia conseguido.
Percebi os desvios do partido, ao longo dos anos, é lógico. Mas mantive a fé no PT, sustentada basicamente em valores individuais; para cada Marta e Erundina, eu procurava me lembrar que havia um Mercadante e um Lula. Especialmente o Lula.
Vibrei, quando Lula foi eleito; a verdade é esta. Embora, calejado pelos anos, escondesse bem as minhas esperanças; isto é coisa que a vida nos ensina, para que não fiquemos tão vulneráveis a novas decepções. O que, aliás, mais uma vez se revelou muito acertado, pois as desilusões não tardaram a chegar, em grande doses.
Portanto, quero deixar bem claro: NÃO, EU NÃO ACHO QUE AS OPOSIÇÕES SEJAM HONESTAS; NEM BEM PREPARADAS; NEM QUE VÃO FAZER NADA DE BOM PELO POVO. Se fossem, já o teriam feito.
Também NÃO ACHO QUE O PT TENHA ROUBADO MAIS QUE OS OUTROS. Acho que roubou tanto quanto (convenhamos que em menos tempo, mas tanto quanto). O CASO É QUE ELE ROUBOU, desmentiu o seu próprio discurso. Não importa o quanto. E, ao mergulhar na lama, apagou a estrelinha da esperança.
É daí que vem o meu desencanto. E, com ele, a minha revolta. O PT e o Lula eram as minhas últimas (e ocultas) esperanças, embaladas talvez pelas lembranças do passado. Os sonhos da juventude se recusam a morrer.
Hoje, penso como o Serbon: todo partido só quer chegar ao poder e perpetuar-se nele. E fim. O socialismo se tornou anacrônico; não pela falência de seus ideais, mas pela corrupção dos homens que diziam defendê-lo.
E eu acreditava nele. É por isto que não posso perdoar o Lula. Nem o PT.
17 Comments:
Flávio, durante a leitura, desse inflamado desabafo, observei que nossos sentimentos são muito parecidos. Também na minha ingenuidade política, acreditei e me engajei na campanha, desde a primeira vez que Lula saiu candidato. Enfrentei críticas e oposições ferrenhas, mas mantive minha opinião, porque acreditava e até admirava a figura que discursava em nome dos operários. Que categoricamente, se afirmava contra as elites, contra a corrupção e a roubalheira no país.
É o que sempre digo; nenhum deles está preocupado com ninguém e muito menos com o país. Já não temos mais em quem confiar. Todos fazem parte de um mesmo cenário triste e um mesmo enredo, de um livro, cujas páginas escritas com sangue da nação, deveriam ser arrancadas e destruídas para sempre.
Hoje descobri que ser romantismo só traz decepções, também na política. Ele nos cega ao obvio. Faz-nos ver estrelas brilhantes, mesmo quando elas estão apagadas; deixa-nos vulneráveis aos ensaiados discursos, que acabamos por transformar homens em heróis.
anônimo, acho que muitas pessoas sofrem com essa decepção. E este é o grande perigo do romantismo: muitas vezes, nos faz ver as pessoas melhores do que são...
acho até que chovi no molhado falando isso, basta lembrar do PRI mexicano, que é mais adesista e governista que o PFL.
e é da natureza do homem ser corrupto e amoral??? Rousseau previu tudo isto???
boas perguntas. faltam as respostas...
Serbon, eu me recuso a acreditar que seja. Cá pra nós, em termos de idealismo, hj em dia, aposto na Heloísa Helena... e espero que jamais chegue ao Planalto, para não se prostituir tb. Paradoxal, não é? Mas é como eu disse: sou um eterno romântico. ;)
O problema é que no Lula e no PT não dá mais pra aceditar...
Serbon, aliás: Rousseau, Schoppenhauer, Nietzsche, Kant e muitos outros, até o ancestral Diógenes. Até hj, é preciso acender uma lanterna, na eterna procura... :(
Engraçado como os sentimentos e idéias de um mundo melhor, justiça e amor entre os homens sejam colocados sempre como romantismo, idealismo, ingenuidade ou utopia, embora todo mundo ache normal vivermos num mundo cheio de coisas absurdas muito mais difíceis de acreditar. Eu não sou mais adolescente (um jovem adulto, talvez), mas serei teimoso neste aspecto. Antes um discurso ingênuo a um amargurado. A luta é para sempre.
Paulinho, concordo com vc; não deveria ser assim, não é? Mas veja de qd data a "Oração aos moços", de Ruy Barbosa... que, infelizmente, continua a ser atual. Aliás: se o próprio Cristo voltasse à Terra, teria que ensinar tudo de novo... se Lhe dessem tempo pra isto, é lógico! :(
Professor, deu pra entender a sua revolta. Mas não consigo imaginar você trocando porrada com a polícia!
Eu estou com o Paulinho. Também acho que não devemos desistir.
Rappha, antes tivesse trocado! Para ser sincero, recebi muito mais! :)
Júnior, eu tb acho . Por isto mesmo, fico puto da vida a cada nova decepção!
Mestre Flávio, é uma honra aparecer em vosso texto. Lamento que o nobre colega tenha se frustrado com o nosso Lulassímio.
Fiz minhas as palavras do Dori Caymmi, que são mais ou menos o seguinte: "antes eu me desgostava muito de o Brasil nunca ir pra frente, entra governo e sai governo; desde que me conformei que isso aqui não tem jeito mesmo, que vai ser assim pra sempre, finalmente deixei de me preocupar e consegui dormir em paz". Em suma: não acredite em político brasileiro - você vai se arrepender.
Pois é, o PT só teve tudo mais 'escancarado', portanto a decepção foi maior.
Dom Gustavo, sábias e apropriadas as vossas palavras, como altamente honrosa a vossa presença; não por acaso, o Caymmi é o maior exemplo da filosofia baiana. :) Ah! Muito me alegra a volta do nosso Mundo Símio!
Cristiano, com certeza! E não só o escancaramento, como tb a negação do discurso de décadas, sobre honestidade e seriedade... :(
A verdade é que o PT esta certo, e ponto final. Quem não meteria a mão nessa grana?
Dinheiro público é dinheiro sem dono. Por isso sonego tudo que posso, não pago IPTU (aguardo ansiosamente um Refis municipal que perdoe juros, multa e correção) e dou calote em meus credores.
Acreditar no PT, tomar porrada para salvar pele alheia... começo a achar que cada porrada foi bem dada, ou melhor, foi pouco, foi insuficiente para deixar esse negócio de política.
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