VAMOS OFICIALIZAR O RACISMO?
Na blogsfera, tenho conhecido pessoas inteligentes e capazes, cujas opiniões tenho em alta conta; não irei nomear, pois correria o risco de cometer uma injustiça, esquecendo alguém na hora. Basta dizer que algumas destas pessoas me dão a honra de comentar aqui e também frequento os seus blogs.
Em um destes blogs, o da Vanessa (http://inconfidenciamineira.com/), a propósito de uma postagem sobre a Taís Araújo, tivemos um debate sobre o sistema de cotas para ingresso nas universidades e concursos públicos.
Embora enfrentando (educamente, claro! Afinal,somos amigos! :) oponentes do porte da própria Vanessa e do Serbon (http://www.chinfra.blogger.com.br/), faço questão de dizer que sou contra o sistema desde o seu nascimento. E, como não seria justo ocupar demasiado espaço lá do Inconfidência Mineira para dizer tudo o que penso, tomo a liberdade de reproduzir, abaixo, uma matéria que fiz, logo quando a lei foi aprovada; esta matéria foi publicada na revista Bahia Atual e, se não me engano, no antigo Armázem3.
Não reescrevi; nem sequer reciclei.Tudo bem, talvez seja matéria vencida. Mas o debate continua atual... e eu continuo pensando exatamente do mesmo jeito!
Então... vamos ver a opinião de vocês! :)
Ouvi hoje, no rádio, uma notícia que me pareceu inacreditável: a Câmara Federal aprovou uma Lei, reservando 20% das vagas nas Universidades, Concursos Públicos, etc., para os candidatos negros.
O mais incrível é que, segundo o autor do Projeto, esta é uma lei contra o racismo. Eu devo ser uma verdadeira anta, pois não consigo entender o que se passa nas iluminadas mentes dos nossos ilustres Deputados: para mim, esta lei é a oficialização do racismo!
Na própria raiz da idéia, já existe um conceito racista: o de que o negro é inferior ao branco, e por isto precisamos de mecanismos que nos igualem, nas disputas de intelecto e cultura. Para mim, esta premissa é absurda; racismo puro! Somos iguais.
Mais, ainda: a cor do candidato passará a ser um elemento da maior importância, para definir a sua classificação; assim, terá que ser um dos itens de grande destaque, no preenchimento da ficha de inscrição: o candidato necessitará informar se é branco ou negro. Isto não é segregação?
Outra pergunta interessante: suponhamos que um branco tire, em um concurso Público ou em um vestibular, notas maiores que um negro, e mesmo assim a vaga fique com o negro, em função da nova lei. Não é racismo puro, prejudicar ou beneficiar alguém, apenas em função da sua cor? E mais: a sociedade, como um todo, não será prejudicada com a eventual vitória do menos competente, determinada pela cor da sua pele?
Se o objetivo do ilustre parlamentar é combater o racismo, porque assegurar as vagas apenas aos negros? Por que não garantir também aos integrantes da raça amarela, nisseis e sanseis, a sua cota de vagas... digamos, uns 10% ou 15%? E por que não os índios? Por que não determinar um percentual de vagas para cada raça, oficializando de uma vez o racismo e acabando com a classificação por merecimento?
E, já que estamos falando em cotas, cabe a pergunta: em que critério o sábio parlamentar se baseou, para instituir o percentual de 20% ? Que relevantes estudos foram feitos, para definir este percentual?
Talvez o próximo passo seja definir percentuais de vagas, em função da religião do candidato, do seu sexo, das suas opções sexuais... enfim, com base em qualquer dos conceitos e preconceitos que o homem usa, para exercer a discriminação contra aqueles que não são iguais a ele.
Não sou advogado, e muito menos jurista. Mas sempre ouvi dizer que a maior lei do Brasil é a Constituição Federal, e nenhuma lei pode ser criada que vá contra algum dos seus dispositivos. Se assim for, esta nova lei se torna de um absurdo ainda maior, por que vai contra dois dos principais dispositivos da nossa Constituição: “todos são iguais perante a Lei”, e “ninguém será discriminado por questões de cor, raça ou religião”.
Se esta lei passar, meus amigos, estaremos rasgando a nossa Constituição.
E, mais do que isto, legalizando o racismo em nosso país!...
21 Comments:
Flávio
Como você disse esta medida vai estimular o racismo no Brasil. A constituição federal assegura que todos são iguais perante a Lei e a não discriminação por questões de cor, raça ou religião. A educação é um direito universal e não deve privilegiar nenhum setor da sociedade. Julgo que entrei na UFMG não pela cor da minha pele e sim por mérito.Esta medida fere o principio da universalização do ensino público.
Um aluno de classe média pode muito bem estudar em uma escola particular de manhã e a noite numa pública, garantindo assim o seu acesso a universidade pública de maneira ainda mais fácil.O objetivo disto tudo é eleitoreiro. Você sabe.
Um abraço
Marco Aurélio
Hhehehe
Vou comentar, claro. Mas, antes, preciso processar o seu argumento! :-) Guentaí que já volto!
Beijos,
Vanessa
Marco, estamos inteiramente de acordo, inclusive qt ao eleitoreiro; foi o que achei, desde que soube da proposta. Como professor, vc tem direito a voto duplo, pq convive direto com o assunto! Obrigado por marcar presença no Fórum... volte sempre! :)
OBA!!! meus argumentos foram tão fortes, que a Vanessa precisou de tempo para processá-los... bom sinal! :)
Flávio eu até hoje não tinha uma opinião formada a respeito desse assunto, mas sempre me questionei se a reserva dessas vagas para negros não seria já uma atitude racista. Mas de todas as opiniões que eu já li por blogs afora em relação a esse tema, hoje eu posso dizer que a sua me pareceu a mais sensata de todas.
Vou pensar melhor sobre esse assunto.
Flavio, na verdade, nao tenho muito o que dizer. Você já sabe a minha posição. Já comentei lá no Inconfidência.
Continuo discordando de seu argumento e acredito firmemente que a lei das cotas pode nos trazer benefícios enormes a médio e longo prazo.
Como o Serbon, acredito que medida é emergencial e altamente necessária. A gente precisa promover a inclusão social da população negra marginalizada agora. Neste momento. Caso contrário, continuaremos com o mesmo blablablá de sempre. Bem pouco efetivo, aliás.
Abracos,
Vanessa
Márcia, obrigado. E pode crer: talvez não seja a mais sensata, mas eu acredito nela de verdade. E realmente precisamos continuar pensando no assunto: nós... e toda a sociedade brasileira!
Vanessa, então nossas opiniões são diferentes neste assunto... mas não é por isto que vamos discutir à francesa, ou seja: dando cabeçadas! :) Para o bem da comunidade, espero que o futuro venha provar que eu estava enganado. Ou, a médio prazo, teremos uma legião de médicos, arquitetos, engenheiros, etc. com uma formação acadêmica deficiente, por falta da base necesária. Abraço grande, e vamos continuar polemizando; como eu já disse, devemos sinceridade aos amigos! :)
Esta questão é difícil. Também não acho que o facilitamento indevido das cotas vá alterar nada, a não ser o nível de qualidade dos profissionais a serem formados. Acho que precisamos investir mais no social como remédio para todas essas disparidades.
Essas tais cotas, nada mais são que atestado de burrice, que o governo quer passar para os negros. Eles não merecem, nem precisam disso. Conheço muitos que são sumidades e se destacaram em várias profissões por méritos. O foco da preocupação deveria ser o aperfeiçoamento das escolas públicas, reciclagem dos professores, salários dignos pra que deixem de fingir que ensinam, porque o governo finge que paga.
As universidades por sua vez deveriam ser respeitadas e não serem obrigadas a ignorar o conhecimento. Que mundo é esse? É certo formar profissionais sem o conhecimento devido? É certo, profissionais que não sabem o básico; ler e escrever corretamente? E aqueles que lidam com vidas? Então pra que vestibular? Marca-se a data da matrícula, os que conseguirem ficar mais dias no sol e na chuva esperando a hora, enquanto houver vaga, serão matriculados. Nossa! Nem dá pra imaginar. Já passei por isso tentando uma vaga em escola pública pra meus filhos. Mas é isso que posso imaginar, não é mais conhecimento. É injusto pra quem estuda muito, e é desclassificado porque alguém que não sabe nada, mas está dentro das cotas. Qual estímulo alguns estudantes vão ter daqui pra frente?
Ensino decente, sim! Escolas dignas, lógico! Cursinhos pré-vestibulares, pra alunos oriundos de escolas públicas, excelente! Qualificar, melhor ainda, mas cotas? ISSO SIM, É PRÉ-CONCEITO RACIAL. É chamar os negros de incompetentes e incapazes. E já tem até pronunciamento deles no congresso contra isso. Mas do que justo. Respeito é bom e todos têm direito a ele.
Rappha, estamos de acordo. Tb acredito nos investimentos na educação e no social, como única forma de reduzir as disparidades.
anônimo, isso é o que eu acho. E, pela sua defesa apaixonada, nota-se que vc realmente já enfrentou a dificuldade de matricular filho em escola pública. Eu também, pq não tinha dinheiro para a particular. Com o sistema de cotas do que jeito que está, se seus filhos tiverem a pele branca, a dificuldade vai ser maior ainda! :(
Flávio, eu sempre estudei em escola pública. Fiz vestibular e passei também para faculdade pública sem precisar de cotas. Acredito que a dedicação do estudante é que faz a diferença.
Oi, Flavio, não sabia que você tinha feito um post sobre isso. Enfim, deixei um outro breve comentário no blog da Vanessa. Abraços!
Eu também acho, Júnior... eu também acho! :)
Flávio tenho uma irmã de criação negra, da qual me orgulho muito. Fez duas faculdades públicas, mestrado e ainda, trabalhando. Super inteligente, estudiosa. Fez concurso público para o Estado e obteve ótima classificação. Arrumou não só sua vida, como a dos irmãos de sangue. Nunca precisou de cotas, mas de vontade de vencer, coragem e disposição pra estudar.
OI, Gi! Vou lá dar uma espiada, pra ver se continuo teimando com você! :) Brincadeiras à parte, obrigado pela visita, viu? Apareça sempre! Abração.
anônimo, é isto mesmo. São inúmeros os exemplos de pessoas que vencem por seus próprios méritos. Estas,sim, merecem a nossa admiração!
Como o comentário anterior saiu truncado, reproduzo-o novamente abaixo. Perdoem, é que sou muito símio.
As quotas, as quotas... Como não acho que o negro seja mais burro que os demais, só posso ser contra. A porta da universidade é do mesmo tamanhos pra azuis, amarelos e verdes. Se os negros são historicamente mais pobre, e por isso têm pior formação pré-vestibular, a solução - a única - é dar-lhes ensino básico de melhor qualidade. Todo o resto é demagogia.
Se o argumento é demográfico - temos de ter dentro das universidades estudantes que representem os mesmos percentuais raciais" do resto da população - então teremos de reduzir a participação dos nipônicos, como já observou um raro observador de bom-senso, posto que os nipos são desproporcionalmente mais representados dentro das nossas universidades.
A mescla universitária vai ficar da cor do resto do Brasil. E que se fodam os méritos individuais. E que a escola pública continue porca. E que cada qual se diga negro se quiser, preguiçosamente, valer-se da benesse inconstitucional.
Este é um país de merda. O simples fato de se propor resolver o problema do ensino por meio de lei - sem sequer se tocar no cerne da questão, que é a má qualidade do ensino básico fornecido aos pobres - já é uma coisa admirável, inacreditável em qualquer nação civilizada, proposta cínica e eleitoreira que seria ridicularizada em qualquer país mais sério, como o Paraguai.
Viva o Brasil. O Mundo Símio nunca deixará de ter assunto.
Dom Gustavo, só agora vi o seu comentário; aliás, aproveitei e apaguei o anterior, que tinha saído truncado... vosmecê merece a preservação da imagem! :)
Espero que não seja muito tarde para dizer que concordo com as suas palavras; em gênero, número e grau. Aqui, tenta-se solucionar as mazelas por decreto, até a inflação e a (des)educação. Como se se pudesse curar a planta tratando das folhas e não das raízes...
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