10.14.2014

A QUASE IMPOSSÍVEL BUSCA DO SEXO NOS ANOS 60



Já faz muito tempo que li Milan Kundera.
E acho que não gostei muito. Tanto, que nem me lembro do texto. Mas, naquele tempo “A Insustentável Leveza do Ser” era leitura obrigatória de todo pretenso “intelectual”; e, com meus cerca de 17 anos, era nessa categoria que eu me julgava enquadrado.
O maior atrativo do livro, se não me falha ainda mais a memória, eram as descrições de um sexo desenfreado e sem limites; o mesmo fator, aliás, que deu grande sucesso à trilogia “Sexus”, “Plexus” e “Nexus”, de Henry Miller, também daquele tempo.
Fácil de explicar: não havia internet, nem sites pornôs, e os poucos filmes dedicados à nobre arte do sexo só passavam em cinemas obscuros, onde a gente ia pra tocar punheta. Punheta, aliás, que também honrava as poucas revistas que mostravam mulheres nuas, a grande maioria importada da Suécia e mostrando fotos de nudistas, cada uma mais esquisita que a outra.
Sacanagem da grossa, mesmo, só nos famosos catecismos, onde pontificava o Carlos Zéfiro. Desenhos rústicos, de mulheres com coxas e bundas absurdamente grandes e homens com pirocas que deixariam o Kid Bengala com complexo de inferioridade. Nos desenhos, funcionavam; na realidade, duvido que um troço daquele tamanho levantasse!
Era duro molhar o biscoito! Naquele tempo, as namoradinhas não cooperavam e conseguir alisar uma coxa, só com uns 3 meses de namoro; e daí não passava, acreditem. Menina que deixasse botar nas coxas (o máximo que se conseguia) ficava logo “mal falada”. Quase o contrário de hoje.
Não tinha drive-in nem motel. Os bregas eram poucos e na maioria vagabundos: o 63, a Maria da Vovó, a Ladeira da Misericórdia. Os melhores eram o Tabaris e o Sonho Azul; mas onde que os adolescentes iam arranjar dinheiro pra ir lá?
Sério, não era fácil! Lembro-me que, por muito tempo, os meus livros preferidos foram “A Carne” e “O Amante de Lady Chatterley”; ainda bem que minha mãe nunca teve curiosidade de descobrir porque eu gostava tanto de ler no banheiro. Só reclamava, porque eu demorava muito lá. 

Data daquela época, inclusive, a minha paixão pela mitologia grega; e, diga-se, de passagem, "paixão" aqui é um termo muito bem empregado. Acontece que meu pai tinha um alentado compêndio (gostaram? é adequado para a época) sobre o assunto, onde pontificavam sugestivas gravuras de ninfas seminuas, sátiros entusiasmados e deusas gostosíssimas, com túnicas mínimas. Aí... já viu, né? A mão e a imaginação faziam o resto.

Além disso, o livro contava as picantes (literalmente, aliás) aventuras de Zeus, que não dava mole (também ao pé da letra) e não economizava esforços para satisfazer a libido. Transformou-se em cisne, para afogar o ganso na Leda, e em touro, para fazer com a Europa o que hoje em dia os políticos europeus estão fazendo, com bem menos esforço.  

Outro material, digamos, lúdico, naqueles tempos bicudos, eram as revistinhas de cordel, de impressão vagabunda e vendidas nas feiras. Contavam, em versos de pé quebrado, as aventuras de homens e mulheres excepcionalmente bem dotados e cheios de tesão.
Engraçado que até hoje me lembro de algumas. Veja os títulos: “O Plebeu que Comeu a Rainha”, “A Princesa que deu Pro Alfaiate do Reino” e por aí vai. Minha preferida era a história de Aragão, que, segundo o versinho, tinha um saco tão grande que “só a pele do culhão dava pra forrar um colchão” (e de casal, o autor fazia questão de salientar).
Outro grande “quebra-galho” eram os livros de bolso, com aventuras de detetives tarados. Eu era fã de Shell Scott, que comia todo mundo, mas apreciava ainda mais Brigitte Monfort, a filha de Giselle (a espiã nua que abalou Paris, outra personagem); Brigitte era uma morena linda, gostosa e insaciável, rainha das minhas homenagens solitárias.
Agora, na certa, você quer saber: e o que o Milan Kundera tem a ver com isso? Nada, sinceramente, É que eu pretendia escrever um post bem filosófico, tratando sobre “A Pesada Carga de Ser”, ou coisa assim, mas entrei pela sacanagem e não deu mais pra sair.
De toda forma, valeu a viagem nostálgica. Fico devendo o post filosófico, mas prometo que depois eu faço! Me aguardem.
 Viram as imagens, lá em cima? Não era uma gata, a tal da Brigitte? 

7 Comments:

Blogger Lúcia Laborda said...

Oie Flávio; ainda bem que esse enveredou por outra via. Porque o momento não está pra filosofia. Ta mais pra sacanagem mesmo, pelo menos política. Mas o tema não é esse, e, adorei as lembranças, apesar de não ter lido nenhuma. Isso era proibido para menininhas daquele tempo.
Ainda bem que esse conceito mudou. Os bregas acabaram quase obsoletos, porque eram transmissores de muitas doenças venéreas. E as mulheres se libertaram daquele estigma que impedia a mulher de ser feliz. Hoje existe abertura entre casais de namorados, existe liberdade de se escolher o que se quer de fato. Mas, concordo, que por algum tempo, esse tipo de literatura, fez parte da mesa de cabeceira de muitos adolescentes e até adultos insatisfeitos.
Adorei o post! Leve, solto e fez uma viagem regressiva ao tempo em que sexo, era coisa do outro mundo. Felizmente esse tempo passou e ficaram apenas lembranças.
Belo post! Beijos

11:42 AM  
Blogger Chato de Plantão said...

Eu, sinceramente, nunca tive nenhum desses problemas, não por alguma outra habilidade especial que não fosse minha fértil e imagética imaginação. Acho que cada tempo tem suas mazelas e o bom é o natural, a natureza e os bichos. Tive minha dose de erotismo lendo "Conan" e saboreando o desenho de mestres como Buscema e Pablo Marcos. Por via das dúvidas, guardo minha coleção...

1:57 PM  
Anonymous Flavio said...

Era proibido mesmo, Olhos de Mel. Agora, quanto aos bregas, eu diria que estão realmente obsoletos, com exceção daqueles lá em Brasília, onde, inclusive, o sexo e as sacanagens (principalmente com o povo) continuam rolando soltos (que o diga a Denise, Furacão da CPI). Boa semana.

7:55 PM  
Anonymous Flavio said...

Não era bem problema, Chato; tava mais pra solução. :) Agora, tu é chato mas tem bom gosto, viu? Eu lembro daquelas revistas do Conan... cada pedaço de mulher que dava gosto! Especialmente a Sonja, lembra? Se eu fosse mais novo, ia tentar comprar a coleção... nunca se sabe quando se pode necessitar, né? Abração, boa semana.

7:59 PM  
Blogger Tina said...

Oi Flávio!

Só você mesmo! Viajei no tempo e dei risada. Bom ter mudado de ideia, o post ficou ótimo!

beijo grande querido amigo!

6:48 PM  
Blogger O Árabe said...

Este comentário foi removido pelo autor.

11:26 AM  
Blogger Flávio said...

Também viajei no tempo com a sua visita! Muito bom ver você de novo, amiga! Obrigado, bom fim de semana.

11:29 AM  

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