O DIABO E A PIZZA
Dizem alguns religiosos que o maior truque do diabo foi convencer a humanidade de que ele não existe.
Eu não sou dos mais religiosos, mas preciso admitir: se é que o chifrudo existe mesmo, esse foi sem dúvida um belo truque; gostaria inclusive de aprendê-lo, para usar com o Imposto de Renda e outros credores menos usurários, mas que também me enchem o saco.
Ou um certo vizinho, que acha que andei comendo a mulher dele. Injustamente, diga-se de passagem, porque aquele bofe acho que só ele mesmo encara; é a chamada "comida por obrigação". Creio que ele quer mesmo é pensar que alguém compartilha o seu sofrimento. O pior não são as ameaças veladas; é que o pessoal da rua anda rindo pelas minhas costas e um amigo mais atrevido até já me chamou de "papa-mocréia".
Mas deixemos o chifrudo doméstico e voltemos ao outro, o da roupa vermelha. Diante do título, talvez você esteja pensando que ele se empregou em alguma pizzaria, para substituir com o tridente o velho fogão de lenha. Ou até mesmo como entregador; o que, aliás, seria uma boa idéia: assim, a pizza sempre chegaria quentinha na casa do cliente.
Mas não é nada disso. A pizza em questão é aquela em que terminou a CPI do mensalão: os senhores deputados e senadores levaram um tempão investigando (e recebendo os seus régios salários, pagos com nossos impostos), para finalmente concluírem que "não ficou provada a existência do mensalão".
Ou seja: comprovou-se o "Valerioduto", que movimentou milhões, os quais foram sacados exatamente por deputados, ministros e outras excelências; descobriu-se também o desvio de milhões do Banco do Brasil, lavados em forma de empréstimos por outros bancos, para abastecer esse rio de dinheiro.
Como se fosse pouco, ainda foram descobertas as malas sagradas de dinheiro daquele deputado da Igreja Universal. Dinheiro de donativos dos fiéis, disse ele; todo em notas de 50 reais, digo eu. Vai ter fiéis generosos assim no inferno!
Não vamos esquecer, também, aquele assessor do irmão do Genoíno, que tinha dólares até na cueca. Quando eu era criança, a gente chamava os alunos estudiosos de "cu-de-ferro"; destes, eu conheci alguns. Mas cu-de-ouro, confesso, é a primeira vez em que ouço falar!
Pois é: apesar de todas as maracutaias descobertas, das festas com prostitutas (para mim, é orgia), e dos saques milionários em favor dos excrementos (perdão, das excelências), não ficou provada a existência do mensalão. Alguém pode me dizer, então, para onde foi todo esse dinheiro?
Pessoalmente, acho que deve ter rolado um bônus por fora, para que a CPI não fosse prorrogada. Descobriram-se os chifres, os cascos e, pior, o enorme rabo do mensalão. Mas não ficou provada a sua existência!
Isto não faz lembrar aquele truque do diabo?
13 Comments:
Infelizmente mais uma vez, fica provado que o povo tem o governo que merece. Fomos nós mesmos quem elegemos os "excrementos".
Vamos ver se tomamos vergonha e fazemos alguma coisa nas próximas eleições. 2006 vem aí...
Por aí, SB! Enquanto não aprendermos, vamos continuar levando ferro...
Diante do teu texto, sou forçado ao trocadilho: a estes políticos FDP, que o diabo os carregue...
Vai carregar, com certeza! O problema é que demora muito... :)
Paulo, obrigado pela opinião sobre o site e pela observação, muito válida. Diante dessa peculiaridade técnica, realmente teríamos duas categorias para as propinas: o "mensalão" e o "bimensalão". Sem essa divisão, estaríamos sendo injustos para com alguns dos nossos nobres parlamentares... :)
Grande Mestre Flávio. Excelente texto, como de hábito. Este ainda mais perfeito, na forma, no conteúdo e no tom.
Além da justíssima analogia com o dito de que "o maior truque do diabo é fazer crer que ele não existe", o lance do vizinho também foi hilário.
De fato, se há aqueles que preferem dividir o prato de manjar em 10 do que comer um de merda sozinho, pelo jeito há também aquele sujeito que, sozinho com o pratão de bosta, deseja comungar desse quitute com os vizinhos, amenizando assim o seu pesado fardo.
Quanto à declarada inexistência do mensalão, creio que a resposta do Paulo, acima, responde tudo.
Keep walking.
Mestre Flávio, já estás lincado em minha humilde choupana que chamo de blogue!
E, quanto ao caso da mulher do vizinho, pode contar com minha solidariedade! Abraços!!!!
O caso é sério e inexplicável como tudo aqui. Já devíamos estar acostumados a este "final feliz". O que me causou um certo espanto foi a propriedade que Flávio conseguiu transformar um episódio lamentável, em algo engraçado.
Quanto a história da vizinha, essa sim, deve ser alvo da próxima CPI. Acho que não ficou muito bem esclarecida.
Dom Gustavo, obrigado por tudo. Com um público deste nível, vou ter que redobrar o cuidado, para que os textos melhorem sempre. Utilizando a sua ótima analogia, vocês têm o tipo de paladar que sabe apreciar o manjar; Deus me livre de servir aqui um prato de bosta. Quero vcs sempre comigo :)
No caso do vizinho, o fardo é pesado mesmo; a referida "beldade" deve pesar uns 100 quilos!
Serbon, obrigado pela lincada. Aguardo o endereço do seu, para retribuir; tenho lido as aventuras do Max e gostado muito, de forma que assim estaria prestando mais um serviço aos nossos leitores.
Obrigado, tb, pela solidariedade no caso da mocréia. Espero que vc não seja solidário a ponto de encarar a dita cuja, que apelidei de Zeca Pagodinho: ninguém merece! :)
Caro anônimo, invertendo a famosa frase do macaco Simão: "nós goza, mas nós sofre". A nossa política, realmente, é uma tragicomédia.
Quanto ao lance da mulher do vizinho, não seria uma CPI; teríamos que inverter as letras para ICP (Investigação de Corno Presumido). E essa, com certeza, iria dar em pizza; no meu caso, pode crer, não vai dar em mais nada! :)
Mestre Flávio, depende : depois de uns goles de pinga a vizinha fica, digamos, "encarável"? heheheheheheh.
lá vai meu endereço: www.chinfra.blogger.com.br
aguardo a visita!
abração!
Serbon, muito legal o seu blog! Já estive lá, como vc deve ter visto. Como eu não sei lincar, vou ter que esperar o Paulinho, que é quem me acode na Internet; em breve, teremos seu endereço aqui.
Agora, qto à mocréia, não tem pinga certa. Nem com uma garrafa inteira, e 6 meses de serviço na Legião Estrangeira!
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