O PLENÁRIO DA HIPOCRISIA
Eu até que sou um cara tolerante. Mas certas coisas, realmente, locupletam o meu já bastante opilado saco.
No caso de hoje, é a reação dos nossos políticos ao depoimento do ex-ministro e hoje prefeito Adauto, na CPI do mensalão. Realmente, preciso perguntar: ainda haverá algum idiota, neste país, que não saiba que as campanhas políticas são feitas com Caixa 2? Ou que o tráfico de influência rola adoidado, para todos que a possuem?
Ora, façam-me o favor! Daqui a pouco, vamos ter deputados dizendo que Papai Noel existe e foi ele que depositou nas suas contas as tais verbas de procedência duvidosa! Ou que os bebês são trazidos pelas simpáticas cegonhas!
O Adauto (que, aliás, caiu na minha simpatia pela sinceridade) teve a coragem de admitir o que todo mundo já sabe: que as campanhas não são feitas com os valores declarados e que, como ministro, não lhe faltariam financiadores (leia-se corruptores) para o que ele quisesse. Alguém duvida disso?
Entretanto, era de se ver a indignação dos senhores políticos, só porque um deles admitiu o que todos fazem! Comoveu-me, principalmente, a revolta do deputado Grampinho, um paradigma de seriedade, até mesmo pela tradição familiar; certamente, é pela honestidade que ACM possui a Bahia há 30 anos. E foi por ser honesto que ele perdeu um mandato, naquela fraude do painel eletrônico, e quase perde outro, no episódio dos grampos telefônicos, românticos e eletrônicos.
É muita hipocrisia, para um Congresso só! Esses nobres senhores elevam à potência “n” aquele velho provérbio, do roto criticando o esfarrapado. E merecem um Oscar, pela representação de surpresa, ao “ficarem sabendo” que “algumas” campanhas são feitas com Caixa 2!
Roubem, senhores, tudo bem; faz parte do ofício. O próprio ACM tem a minha admiração: é o político que mais fez pelo nosso estado. A Bahia que hoje temos, progressista e boa de morar, em grande parte, se deve ao trabalho dele.
Mas, pelo amor de Deus, poupem-me dessa cara de pau! Ou será que Vossas Excelências estão, no caso, utilizando outro velho provérbio: “Ladrão é (só) aquele que é apanhado com o furto na mão” ?!
11 Comments:
Grande texto, Mestre Flávio, como sempre. Na terra da hipocrisia, culpado é o menino que disse que o rei está nu.
Sensacional a crônica.
Incluso em "favoritos"...
Bem lembrado, Dom Gustavo! Impressionante como uma história escrita há tanto tempo continua tão atual, não é?
Permanganato, obrigado pela opinião e pela inclusão nos favoritos. Volte sempre! Com você, temos um aumento de 25% em nosso número de leitores!... :)
Brilhante, Mestre Flávio.
Gostei do deputado "Grampinho". Mui apropriado.
Peço licença para incluir o Opiniaum entre os linques de meu modesto blogue. Posso?
Um abraço.
Grande SB!
Vc consegue mostrar algo engraçado no meio da podridão que é nossa política.
Abraços
Serbon, tks. O "Grampinho", preciso confessar, não é criação minha; é o apelido dele, aqui na Bahia... apropriado, mesmo!Qt ao linque no seu blog, claro que pode!Sinto-me honrado,agradeço e espero o endereço do seu, para retribuir a gentileza.
Brigadão, SB! O pior é que a gente ri, mas paga a conta. Como naquela antiga frase: "seria cômico, se não fosse trágico... " :)
Oi, Flávio! Sempre passo por aqui, me divirto, me instruo, mas nunca deixo recado. Resumindo: sou uma sanguessuga ingrata. hehehe
Que bom que você não parou depois que o armazém de Paulinho fechou as portas! Eu tô no meu canto, escrevendo pra mim mesma. Pelo menos por enquanto...
Tô vendo que Dom Gustavo trouxe a tropa toda pro seu Opiniaum, hein? Que bom! Leitores de peso só pra fazer você caprichar ainda mais nos textos, hein?
Tá ótimo isso aqui, não desanime. Logo, logo passo aqui de novo.
Beijo grande.
Oi, Camila! Realmente, Dom Gustavo e o pessoal do Mundo Símio me deram essa honra, e vc tem razão: com leitores desse calibre, é preciso caprichar mais ainda... qto mais agora, que vc apareceu! Felizmente, nossos políticos nunca me deixam sem assunto.:)
Beijão. Sodade do Armazém e dos seus textos. Apareça sempre!
Pior que aguentar esses caras tentando passar imagem de inocentes, que ainda acreditam em Papai Noel é ter que aguentar o saco das mentiras deles. A encenação teatral das CPI's, que antecipadamente já conhecemos os resultados, são simplesmente uma forma de mostrar trabalho, ou melhor, faz parte da peça que há algum tempo está em cartaz no Brasil: "A diversão política e os caras de babacas, no país das maravilhas".
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