10.27.2014

ERREI. GRAÇAS A DEUS!





Há exatos 20 dias, postei aqui que o PT (leia-se: Dilma Rousseff) ganharia as eleições presidenciais no segundo turno. E de goleada.
Graças a Deus, errei a segunda parte da previsão. E digo isto porque a vitória apertada de Dilma foi, a meu ver, a melhor coisa para o País. Até porque não sei se Aécio seria, realmente, a mudança que o Brasil precisa; e, com este resultado, o próprio PT já sabe que precisa fazer mudanças.
Este é o recado que fica das urnas: o povo não está satisfeito com o PT. Aécio não foi eleito porque não despertou a credibilidade necessária para derrubar um partido que há 12 anos está no governo; e que sabe utilizar a máquina e a propaganda a seu favor.
Se Marina tivesse passado para o segundo turno, talvez outro tivesse sido o resultado final e o PT estivesse hoje amargando uma derrota ainda pior. Digo “ainda pior”, porque acredito que, para o PT, este resultado não foi uma vitória, mas uma derrota.
Convenhamos: 51 a 48%, para o partido que criou as bolsas isso e aquilo (só o Bolsa Família tem, entre os beneficiados, mais eleitores do que há em São Paulo, maior colégio eleitoral do País) e com mais de uma década de poder, é um resultado pífio, para dizer o mínimo.
Que ninguém se engane: este resultado não é um sinal verde para o PT; acende o alerta amarelo. E desenha um Brasil mais politizado e eleitores mais conscientes, embora sejam lamentáveis o baixo nível da campanha e a abstenção de 21%; mais de um quinto do eleitorado renunciou a mostrar a sua vontade. Em uma eleição definida por 3% de diferença, os omissos poderiam ter mudado o quadro; com folga.
Mais uma vez, prevaleceram os maiores cabos eleitorais do PT: a pobreza e a ignorância de grande parte dos eleitores. Como eu havia previsto (e nesta parte acertei em cheio), o PT teve uma votação arrasadora nas áreas mais pobres e menos escolarizadas do País. Mas nenhuma vitória se sustenta por muito tempo, quando é baseada na fome e no medo.
E não adianta descer o cacete nos nordestinos (como fazem alguns revoltados e desinformados,aproveitando a comodidade das redes sociais), pela votação de Dilma. Só quem padece com hemorroidas, sabe porque teme o papel higiênico; ninguém entende a situação que não vive. Ninguém sabe o que é a pobreza, a menos que viva nela.
A solução, portanto, não é jogar uma bomba no nordeste. Como sabem os realmente inteligentes, é resgatar a dívida histórica de presidentes que nada fizeram pela região; é construir um Brasil que seja o mesmo, cultural e economicamente, em todos os estados. É oferecer oportunidades iguais para todos, educação do mesmo nível, empregos e desenvolvimento para todos os brasileiros.
É isto que o povo quer. E a mensagem das urnas, longe de referendar Dilma e o PT, ratificou os protestos recentes, que tomaram todo o País; desta vez, sem excessos nem violência. Sem as máscaras dos blackblocs, nem as bandeiras vermelhas do PT; em paz, com sensatez e maturidade. Como deve ser, em uma verdadeira democracia.
Esta é a mudança que precisa ser feita: construir um Brasil igual, em todas as regiões e todos os estados; um Brasil onde ninguém dependa de Bolsa Família ou outras “caridades”, mas todos tenham educação e empregos, para que possam viver com dignidade, ganhando o pão com o suor do seu rosto. Talvez seja uma utopia, mas gosto de pensar que podemos chegar lá.
Pelo menos, já estamos no caminho. Estamos aprendendo a votar.  

10.14.2014

A QUASE IMPOSSÍVEL BUSCA DO SEXO NOS ANOS 60



Já faz muito tempo que li Milan Kundera.
E acho que não gostei muito. Tanto, que nem me lembro do texto. Mas, naquele tempo “A Insustentável Leveza do Ser” era leitura obrigatória de todo pretenso “intelectual”; e, com meus cerca de 17 anos, era nessa categoria que eu me julgava enquadrado.
O maior atrativo do livro, se não me falha ainda mais a memória, eram as descrições de um sexo desenfreado e sem limites; o mesmo fator, aliás, que deu grande sucesso à trilogia “Sexus”, “Plexus” e “Nexus”, de Henry Miller, também daquele tempo.
Fácil de explicar: não havia internet, nem sites pornôs, e os poucos filmes dedicados à nobre arte do sexo só passavam em cinemas obscuros, onde a gente ia pra tocar punheta. Punheta, aliás, que também honrava as poucas revistas que mostravam mulheres nuas, a grande maioria importada da Suécia e mostrando fotos de nudistas, cada uma mais esquisita que a outra.
Sacanagem da grossa, mesmo, só nos famosos catecismos, onde pontificava o Carlos Zéfiro. Desenhos rústicos, de mulheres com coxas e bundas absurdamente grandes e homens com pirocas que deixariam o Kid Bengala com complexo de inferioridade. Nos desenhos, funcionavam; na realidade, duvido que um troço daquele tamanho levantasse!
Era duro molhar o biscoito! Naquele tempo, as namoradinhas não cooperavam e conseguir alisar uma coxa, só com uns 3 meses de namoro; e daí não passava, acreditem. Menina que deixasse botar nas coxas (o máximo que se conseguia) ficava logo “mal falada”. Quase o contrário de hoje.
Não tinha drive-in nem motel. Os bregas eram poucos e na maioria vagabundos: o 63, a Maria da Vovó, a Ladeira da Misericórdia. Os melhores eram o Tabaris e o Sonho Azul; mas onde que os adolescentes iam arranjar dinheiro pra ir lá?
Sério, não era fácil! Lembro-me que, por muito tempo, os meus livros preferidos foram “A Carne” e “O Amante de Lady Chatterley”; ainda bem que minha mãe nunca teve curiosidade de descobrir porque eu gostava tanto de ler no banheiro. Só reclamava, porque eu demorava muito lá. 

Data daquela época, inclusive, a minha paixão pela mitologia grega; e, diga-se, de passagem, "paixão" aqui é um termo muito bem empregado. Acontece que meu pai tinha um alentado compêndio (gostaram? é adequado para a época) sobre o assunto, onde pontificavam sugestivas gravuras de ninfas seminuas, sátiros entusiasmados e deusas gostosíssimas, com túnicas mínimas. Aí... já viu, né? A mão e a imaginação faziam o resto.

Além disso, o livro contava as picantes (literalmente, aliás) aventuras de Zeus, que não dava mole (também ao pé da letra) e não economizava esforços para satisfazer a libido. Transformou-se em cisne, para afogar o ganso na Leda, e em touro, para fazer com a Europa o que hoje em dia os políticos europeus estão fazendo, com bem menos esforço.  

Outro material, digamos, lúdico, naqueles tempos bicudos, eram as revistinhas de cordel, de impressão vagabunda e vendidas nas feiras. Contavam, em versos de pé quebrado, as aventuras de homens e mulheres excepcionalmente bem dotados e cheios de tesão.
Engraçado que até hoje me lembro de algumas. Veja os títulos: “O Plebeu que Comeu a Rainha”, “A Princesa que deu Pro Alfaiate do Reino” e por aí vai. Minha preferida era a história de Aragão, que, segundo o versinho, tinha um saco tão grande que “só a pele do culhão dava pra forrar um colchão” (e de casal, o autor fazia questão de salientar).
Outro grande “quebra-galho” eram os livros de bolso, com aventuras de detetives tarados. Eu era fã de Shell Scott, que comia todo mundo, mas apreciava ainda mais Brigitte Monfort, a filha de Giselle (a espiã nua que abalou Paris, outra personagem); Brigitte era uma morena linda, gostosa e insaciável, rainha das minhas homenagens solitárias.
Agora, na certa, você quer saber: e o que o Milan Kundera tem a ver com isso? Nada, sinceramente, É que eu pretendia escrever um post bem filosófico, tratando sobre “A Pesada Carga de Ser”, ou coisa assim, mas entrei pela sacanagem e não deu mais pra sair.
De toda forma, valeu a viagem nostálgica. Fico devendo o post filosófico, mas prometo que depois eu faço! Me aguardem.
 Viram as imagens, lá em cima? Não era uma gata, a tal da Brigitte? 

10.07.2014

SIMPLES ASSIM


Acabou o primeiro turno das eleições.
Talvez não seja o momento de fazer um balanço; ainda vamos voltar a votar, para escolher o presidente. E este, confesso, é um processo que não entendo: por que dar mais trabalho aos eleitores e mais despesa ao País? Não seria mais simples e funcional decidir logo tudo num turno só e dar posse ao mais votado?
Será que a vontade do povo vai mudar, em pouco mais de um mês? Duvido. E, sinceramente, não é isso que a experiência mostra. Não me lembro de um único caso em que o vencedor do primeiro turno tenha sido derrotado no segundo.
Acho que isto tem origem na nossa cultura futebolística. Afinal, aqui no Brasil todo campeonato tem que ter uma grande final; de preferência em dois jogos, para dar mais renda. Ainda bem que as coisas estão mudando e já estamos adotando o sistema de pontos corridos, bem mais lógico e barato para o povo. Talvez um dia esta praticidade também chegue à política.
Há 16 anos, trabalho com política e políticos. Hoje, não estou resistindo à tentação de fazer o meu exercício de futurologia; e quero me arriscar a queimar a língua, dizendo a vocês que, apesar de toda aquela onda de protestos que varreu o País durante a Copa, não tenho a menor dúvida: vai dar PT de novo. E de goleada. 
Por uma razão muito simples: o maior cabo eleitoral do PT é a fome. E contra a fome, não há argumento ou raciocínio que funcione; não adianta. Desenvolvimento, educação, saúde, inclusão social, mobilidade urbana, são palavras que só significam alguma coisa para quem tem a barriga cheia e um teto sobre a cabeça. Ainda que a comida seja só farinha e feijão e o teto seja uma folha de zinco.
É simples assim. Nem me dei ao trabalho de olhar os índices de votação por cidade, mas tenho certeza de que as maiores votações do PT ocorreram exatamente nos lugares mais pobres; onde a população mais depende de Bolsa Família, Bolsa Escola e outras benesses do governo. Facilidades que o PT garante que vão terminar, se outro partido ganhar.
É terrorismo? É. Mas funciona; até porque o brasileiro, por índole e cultura, é indolente e gosta de pensar que tira vantagem em tudo. Não foi por acaso que os estúdios Disney escolheram o Brasil, para ser a terra natal e o habitat do Zé Carioca. Simpático, preguiçoso e malandro, ele continua a ser o retrato do nosso povo; não há como negar.
Esta é a realidade. E não adianta os “evoluídos” de outras regiões xingarem os nordestinos e nortistas, pela votação que dão ao PT; com isto, só demonstram ignorar as reais condições de vida da população, nestas regiões tradicionalmente ignoradas pelos nossos presidentes, quase todos originários de cidades e estados privilegiados. Basta ouvir “Vozes da Seca”, de Luiz Gonzaga, que eles vão entender melhor; e a letra foi escrita em 1953.
Entretanto, à medida que esses programas assistenciais e eleitoreiros vão diminuindo a fome, as pessoas começam a pensar e a ter outros desejos. Vão desejando ter sapatos, roupas, moradia digna, escola melhor para os filhos, atendimento médico decente, segurança pública, cidades mais estruturadas e serviços públicos de qualidade. Coisas que deveriam ser direitos básicos de todo ser humano.
Ninguém pode deter a evolução, como já descobriram os dinossauros. Um dia, o País vai evoluir e as coisas vão ser diferentes.     

Mas, desta vez, ainda vai dar PT!