3.17.2007

DE ELOGIOS E CENSURAS


Como na Natureza convivem as tempestades e as bonanças, dentro de nós se alternam a violência e a paz.

E, se a tempestade intimida e afasta a todos, a bonança a todos atrai, pela segurança que transmite. Os ruídos da vida, que o rugir da borrasca acredita sufocar, voltam a fazer-se ouvir, tão logo o sol volta a brilhar.

Erra, portanto, aquele que acredita impor-se pela violência das suas reações; é apenas pela Razão, que alguém consegue fazer-se ouvir por aqueles que o cercam. E a Razão não tem o rugir da tempestade, mas a voz suave da brisa que acaricia.

Mesmo a censura não ofende, quando é feita com carinho. Antes, muitas vezes desperta a consciência do erro cometido; e faz surgir a gratidão, por aquele que nos indica um novo caminho.

Devemos preferir a censura ditada pelo Amor, ao elogio proferido pela falsidade ou pelo interesse. Porque aquela nos devolve às verdadeiras proporções, enquanto este busca que nos julguemos maiores do que somos, para melhor usufruir da nossa queda.

Aprendamos, pois, a ouvir censuras e elogios. E, antes de nos sentirmos humilhados ou engrandecidos, busquemos sufocar o nosso orgulho, para que possamos distinguir se através deles nos fala o Amor ou o interesse de quem os profere.

E aprendamos a reconhecer os nossos erros, sem que os vejamos como humilhações. Porque ninguém pode estar certo todo o tempo, e aquele que se admite perdido é o mesmo que começa a procurar um novo caminho.

Podemos fazer de um erro o farol que ilumine o caminho para o acerto. Ou encerrar-nos nele, como em um castelo onde a argamassa da vaidade una solidamente os tijolos do nosso orgulho.

Entretanto é certo que, se nos prendermos no castelo dos nossos erros, jamais veremos a luz da Verdade; como não chegaremos ao fim do caminho, que é a plena descoberta do nosso Eu maior.

E, assim como precisamos reconhecer os nossos erros, também devemos apontar aos nossos irmãos os seus próprios erros. Porque compomos a corrente do Universo, e de cada elo depende a segurança de toda a corrente; como da harmonia de cada verso, depende a beleza de todo o poema.

Mas, assim como reagimos, também reagem os nossos irmãos. E a censura violenta não faz brotar a compreensão do erro, mas a dor da humilhação, à qual se seguirá a revolta do ofendido.

Cuidemos, pois, ao proferir as nossas censuras. É preciso que através delas falem o Amor e a Razão, para que possam ultrapassar os ouvidos dos nossos irmãos e encontrar abrigo em seus corações.

Como é preciso cuidar, também, dos nossos elogios. Que os desperte a admiração sincera, pois ela saberá encontrar as palavras corretas, que os transformarão nas sementes para que o bom se torne ainda melhor.

Porque a censura mal formulada não corrige; antes ajuda o orgulho a fazer com que o erro se perpetue no ofendido. Como o falso elogio não faz crescer; apenas induz a pessoa a se julgar melhor do que é.

Perseverar no erro é fatal para o ser enfurecido que, cego em sua louca disparada, termina por precipitar-se no abismo onde se perderá.

Porém, não é menos fatal a presunção que leva alguém a atirar-se de uma montanha, por acreditar que será capaz de voar.

E todo sofrimento recai sobre aquele que o causou: esta é a Lei do Universo, da qual não podemos fugir e ante cuja luz nenhuma das nossas mentiras será capaz de esconder-se nas sombras.

Saibamos, portanto, receber as censuras com humildade e gratidão. Pois, através delas, o Amor nos pode estar indicando o caminho a ser trilhado.

E recebamos da mesma forma os elogios. Porque, antes de nos sentirmos gratos pelas palavras que nos acariciam os ouvidos, precisamos ser humildes, para saber se as merecemos.

E vigiemos as nossas palavras, ao censurar ou elogiar aqueles que nos cercam. Pois poderemos estar ajudando no seu crescimento, ou prejudicando as suas vidas.

E isso decerto se refletirá nas nossas próprias vidas...
Pessoal, vou estar viajando nesta segunda... mas, com fé em Deus, eu volto em breve!

3.10.2007

O Amor é natural em nós.


E o que chamamos de ódio é o nosso amor corrompido.

Isto acontece, porque não sabemos viver o Amor. Porque não entendemos que o Amor, como o Universo e a Vida, tem as suas próprias regras; e tentamos subordiná-lo às nossas necessidades e carências.

É do Universo, que vem a própria essência do Amor. E pretender dominá-lo é como tentar deter o vento, ou impedir a marcha contínua das ondas.

O Amor existe em nós. E isto nos deve bastar. Porque é através dele, que descobrimos a Felicidade. Com as suas palavras, escrevemos os nossos versos mais lindos; em suas notas, descobrimos as mais belas melodias que pode compor o nosso Eu maior.

Entretanto, tememos o futuro. E procedemos como o insensato que, ao invés de desfrutar a alegria da presença, entrega-se ao sofrimento de temer o abandono.

Não existem as dores do Amor; e sim as suas alegrias. E, se abrirmos a nossa compreensão a esta simples verdade, toda a Vida se transformará para nós.


Porque o Amor se mantém, mesmo na saudade, que nos traz as doces lembranças do ser amado. Saudade não é a ausência de alguém a quem amamos, mas a sua presença em nosso coração.

É o egoísmo, que nos traz os sofrimentos; que faz brotar o ciúme, e assim envenena a essência do Amor. Porque o Amor é livre como o vento, e voa nas asas de um sorriso; ou no brilho de um olhar.

É a incompreensão de um momento, que pode afastar de nós o ser amado. Entretanto, o verdadeiro Amor continua a existir; e, através da distância, mantém unidas as nossas almas.

Não é por Amor que sofremos, mas pelas nossas carências; e bastaria sentir verdadeiramente o Amor, para que todas estas carências fossem preenchidas, e o nosso coração voltasse ao coração do Universo, que é o seu verdadeiro Lar.

Aquele que Ama, renuncia ao egoísmo. E não o faz por imposição, mas pela Razão; porque a felicidade do ser amado faz surgir a sua própria felicidade. E renuncia às suas angústias, para que não façam sofrer o ser amado.

Somos homens. E, se o mundo onde vivemos nos impõe as suas limitações, é no nosso Eu maior que podemos encontrar as forças, para ultrapassar as suas fronteiras .

O Amor fala às nossas almas, através das emoções que nos desperta. E fala aos nossos corpos, através das carícias que entre nós trocamos.

Assim, é o Amor a nossa ponte maior para o Coração do Universo. Porque precisamos dos corpos, para que possamos educar as nossas almas.

Não devemos confundir o Amor com o desejo; pois isso seria como acreditar que o céu não fosse senão o brilho das estrelas.

Como não podemos julgar que o Amor seja apenas a ternura; porque não veríamos o céu noturno, sem o brilho das estrelas, que atrai o nosso olhar.

Nenhum pecado existe, entre um homem e uma mulher que se ligam pelo Amor. Porque é o próprio Amor que santifica essa união; não as palavras dos sacerdotes, nem as assinaturas nos livros das nossas leis.

Como nada pode haver de ofensivo ao Pai, entre aqueles que se unem pelo sexo. Entretanto, ao buscar apenas a satisfação do corpo, o homem se afasta do seu Eu maior. E essa é apenas uma união transitória, como passageiros são os nossos corpos e as suas necessidades.

O sexo é a satisfação do momento, enquanto o Amor traz em si a plenitude do Universo.

Apenas o Amor pode ligar para sempre as nossas almas; porque, como o nosso Eu maior, é na Eternidade que estão as suas raízes e o seu verdadeiro mundo.

Por isto, é para o Amor que todos caminhamos; ainda que disto não nos demos conta. E é a sua falta que faz nascer em nós o vazio impreciso, aquela inquietação que a nossa razão não consegue explicar.

O Amor é natural em nós.

E a verdadeira essência do nosso Eu maior...

3.03.2007

SOBRE O EGOÍSMO


O instinto de preservação existe em todos os seres vivos, e o egoísmo é uma das suas manifestações.

Assim, todos somos egoístas. Entretanto, cada um de nós precisa controlar o próprio egoísmo, para que se torne possível a convivência. Outra não é a função das leis criadas pelo homem, que a de limitar o egoísmo de cada um, possibilitando a existência da comunidade.

Porém, é nas relações com aqueles que nos cercam, que o nosso egoísmo se revela mais danoso. É nas pequenas batalhas do dia a dia, que o Amor termina perdendo a guerra nos nossos corações; e não poucas vezes se transforma em ódio ou ressentimento.

O egoísmo é fatal para a convivência. Porque ninguém consegue ceder todas as vezes, sem que a revolta e a mágoa encontrem guarida em seu coração.


Contra o egoísmo, a maior arma é o Amor. Porque, para aquele que ama, nada é mais importante que a felicidade do ser amado. O seu egoísmo consiste em fazê-lo feliz, para que ele próprio possa ser feliz.


E assim é a mãe que, embora cansada, acalenta o filho e lhe oferece o seio generoso, esquecendo as próprias aflições, ao ver satisfeito o fruto do seu ventre.

A generosidade tem, em si mesma, a sua maior recompensa. Aquele que dá esperando a alheia gratidão, não raro colhe apenas decepções; entretanto, aquele que o faz porque assim lhe ordena o coração, encontra na própria doação a felicidade.


Porém, ninguém existe que possa dar sempre. Assim como o lago mais profundo se transformaria no deserto mais árido, se sem descanso fossem sugadas as suas águas.

E é por isto que a ciência do Amor é a arte do ceder. Porque, assim como as nuvens são alimentadas pela própria água que do chão se evapora, também aquele que recebe encontrará a felicidade ao retribuir.


Tenhamos presente esta verdade, em nossos relacionamentos. E veremos que o pequeno sacrifício de hoje pode ser a grande alegria de amanhã; pois, assim como o egoísmo é a semente da solidão, da entrega brota a verdadeira Companhia.


E, se a solidão nos é necessária para que possamos encontrar a nós mesmos, é na Companhia que ouvimos a canção da Plenitude, tão cara ao nossso Eu maior.


Dominemos, pois, o nosso egoísmo. E não o façamos apenas em nome da razão. Plantemos, em nosso coração, a árvore da generosidade, pois só assim poderemos apreciar inteiramente o doce sabor dos seus frutos.


Dominemos o egoísmo, e estaremos prontos para viver o Amor que nos espera. Abandonemos o temor da entrega, e estaremos livres para viver os nossos sentimentos.


Assim, encontraremos a essência do Universo.