2.26.2007

NOVOS PROBLEMAS, VELHA PERGUNTA




Bem sabem os amigos da correria em que ando. Tanto, que venho postando textos de meu novo livro, por absoluta falta de tempo para redigir qualquer coisa.

Hoje, entretanto, preciso atender ao convite do Ricardo_Rayol e participar da blogagem coletiva contra o eventual retorno do Zé Dirceu e a gradual concessão de plenos poderes ao Lula, aqui incluída até mesmo a possibilidade de um terceiro mandato; ao qual, provavelmente, se seguiriam um quarto, um quinto... sabe-se lá quantos!

Não precisarei escrever muito. Já faz algum tempo, venho alertando para o perigo de Lula e o PT tentarem eternizar-se no poder; vontade para isto, não lhes falta. É um risco real. E antes que me digam que seria um absurdo, deixem-me registrar que absurdo é mensaleiros e sanguessugas terem sido reeleitos, como foram. Estes são os nossos políticos; este é o nosso país, e este é o nosso povo.

O risco é real, portanto, e ainda mais, porque o PT não se contenta em ter o poder; ele precisa MOSTRAR que tem o poder. Ainda que seja reconduzindo cassados, ou rasgando a Constituição para prestigiar o presidente.

Talvez a nossa Constituição não seja grande coisa, mas é a única que temos; é a nossa lei maior. Desculpem-me a pergunta escatológica, mas até quando os nossos políticos, os mesmos que juram defendê-la, insistirão em cagar em cima dela?!

2.22.2007

O APRENDIZADO DO PERDÃO


O perdão, quando concedido entre os homens, vem quase sempre acompanhado pelo silvo do chicote; poucas vezes, encontra a suave música da compreensão.

Os nossos acertos são esquecidos, mas os nossos erros são guardados na memória daqueles a quem ofendemos, como promissórias que nos serão cobradas no futuro; e esta é uma dívida que jamais poderemos saldar, porque reside no passado. Cabe-nos, apenas, resgatar os juros da humilhação.

Em si mesmo, este perdão é uma mentira; e, como todas as mentiras, não resiste à luz da verdade. Porque não é um perdão, mas apenas a aceitação de um fato; e aquele que o concede é como o credor que não esquece o débito, mas antegoza a eterna cobrança dos juros que julga devidos.

Este não é o perdão que se mostra, mas sim a vingança que se oculta. E não é o Amor que o concede, mas o ódio que finge concedê-lo. Nele não está a compreensão que liberta, mas a revolta que escraviza.

O verdadeiro Perdão traz consigo o esquecimento. É como uma fonte de águas límpidas, a lavar de um coração a amargura do rancor e de outro o sofrimento do remorso; e, ao fazê-lo, constrói entre esses corações uma sólida ponte, que os ventos do destino jamais conseguirão lançar por terra.

O falso perdão, entretanto, é como um lodaçal coberto por uma vegetação traiçoeira, que ao menor sopro de vento exibe a sua verdadeira face. E, ao submergir a ambos, ofensor e ofendido, em suas fétidas águas, impede que os seus corações se possam encontrar na mansão da Companhia.

Melhor seria que não fosse concedido! O amor pode vencer o ódio, mas não consegue conviver com a mágoa. Porque o ódio é como o fogo, que a tudo queima nas suas efêmeras labaredas; mas a mágoa é o veneno insidioso, que traz um pouco da morte a cada dia.

Aquele que abriga as lembranças ruins do passado, conserva em seu coração a mágoa que poderia ter superado. E quem pode construir a felicidade de amanhã, convivendo com o sofrimento de ontem? O Amor não pode reluzir em nossos olhos, se a mágoa enevoa os nossos corações.

É com a alma, e não com a mente, que cada homem deve conceder o seu perdão; não para atender às necessidades do momento, mas sim para que o ressentimento seja expulso do seu coração. Só assim poderá deixá-lo limpo, para que nele o Amor se possa novamente abrigar.

Necessitamos do perdão, para conviver neste mundo. Porque ninguém pode ser perfeito, se caminha sobre a terra, e assim o erro é natural no homem; é através do erro, que descobrimos o acerto. Como é através da tristeza, que descobrimos o valor da felicidade.

Precisamos aprender a perdoar, porque todos necessitamos ser perdoados. E como alguém poderá confiar no perdão de outrem, se não consegue acreditar no seu próprio perdão?

Cada erro é, apenas, uma experiência a mais; e no arrependimento está o seu próprio castigo, que na verdade é apenas uma forma de acelerar o aprendizado. Mas é dentro de cada homem que deve nascer o arrependimento, pois dos castigos por outrem infligidos apenas pode brotar a revolta.

Precisamos aprender a perdoar.

Para que possamos libertar a nós mesmos...

2.12.2007

DA MENTIRA, DO MEDO E DO PERDÃO


A mentira não é a negação da verdade, apenas o seu adiamento.

Como a nuvem de chuva não apaga o brilho do sol, apenas o oculta por um instante.

A mentira não é natural em nós. E nasce, sobretudo, do medo; na raiz de cada mentira, existe o desejo de escapar a um sofrimento. Assim a mentira é, antes de tudo, inútil: por que adiar o sofrimento de hoje, para recebê-lo em dobro amanhã?

Entretanto, é assim que somos: vivemos o hoje, e o amanhã se nos afigura como um porto distante, ao qual não necessitaremos chegar. Porque o futuro nos aparece entre a névoa das esperanças, como o passado se perde na neblina do esquecimento.

Aquele que mente, confia no tempo para consertar o seu erro; como o beduíno imprevidente confia em encontrar um oásis, antes que a sede ponha fim à sua vida. Todavia, o tempo não acoberta os nossos erros; como os oásis não surgem por milagre no deserto.

Assim, mais sábio seria a um não haver errado; e ao outro ter enchido o seu cantil, antes de iniciar a jornada. Porém não somos sábios, mas homens; cabe, portanto, ao mentiroso reconhecer o seu erro, e ao beduíno esmolar um pouco de água da caravana que encontra em seu caminho.

Um e outro dependerão da caridade alheia, para obter o que precisam. E, em verdade, é mais fácil para o homem dar um pouco de sua água, do que conceder o seu perdão. Preferimos dar do que possuímos, a ceder de nossos sentimentos e convicções.

Por isto, é maior a hesitação do mentiroso. E, como após a primeira gota desaba a chuva torrencial, a cada minuto julga necessária uma nova mentira; até terminar como a aranha incauta, que se vê presa na própria teia. Então, só a luz da verdade poderá libertá-lo; e será ainda maior o sofrimento que tentou evitar.

É o medo, e não o erro, o que causa a mentira; porém, é no próprio medo que reside o maior castigo pelo erro que se possa ter cometido. Aquele que se entrega à mentira, entrega-se ao medo; ao acalentar o medo de ser descoberto, sacrifica a própria paz. E que castigo pior pode haver, para o homem, do que se afastar do seu Eu maior?

Precisamos assumir os nossos erros, e aceitar os sofrimentos que nos possam trazer; é assim, que podemos libertar-nos do medo.

Entretanto, isto não basta para afastar-nos da mentira: precisamos exercitar a tolerância, para que possamos perdoar os erros dos nossos irmãos. Porque, quanto mais medo infundirmos aos que nos cercam, mais mentiras ouviremos. Ou não são os mais intolerantes, os mesmos que mais se queixam das mentiras?

Aquele que busca a Verdade, deve exercitar a humildade e a tolerância: a humildade, para saber que todos erramos; e a tolerância, para compreender os erros de outrem.

Sejamos tolerantes, e ninguém mentirá para nós. É a Verdade, e não a mentira, que encontra guarida no coração do Universo, onde reside o nosso Eu maior.

A mentira não é natural no ser humano. Ninguém irá mentir, se souber que o seu erro encontrará o refrigério da compreensão, e a libertação do perdão.

Um dia, o medo e a mentira serão banidos dentre nós.

E neste dia o Amor existirá, realmente, em nossos corações!

2.07.2007

DO AMOR, DA LIBERDADE E DO MEDO


O rio sacrifica a liberdade de suas águas, ao percorrer resignado o seu leito. E, como o rio, precisamos estabelecer os nossos limites, para que possamos seguir o nosso curso.

Entretanto, a liberdade é necessária ao nosso Eu maior. E, assim como o rio muitas vezes transborda e leva a destruição às suas margens, também o espírito aprisionado busca as formas de exprimir a sua revolta.

Por isto, devemos ter cuidado ao escolher as nossas cadeias. E ter presente que não nos cabe o direito de escravizar a nenhum de nossos irmãos. Ou a sua revolta findará por esmagar-nos, ao romper os diques que lhes tentamos impor.

Por que dizemos "meu marido", "meu filho", "meu pai" e "meu amigo"? Acaso podemos possuir alguém, se a verdade é que livres fomos criados, para que pudéssemos aprender o que necessitamos?


Ninguém existe, que aprenda com a experiência alheia; cada homem é o seu próprio professor, e o seu único aluno. Se o homem sente apenas as suas próprias dores, é justo que apenas ele possa escolher o seu caminho.

E, ao escolhermos os nossos caminhos, devemos atentar para os limites que nos impomos. Porque, embora livres nos tenha feito o Pai, a verdade é que precisamos ligar-nos uns aos outros, para que juntos possamos prosseguir a nossa caminhada.

Algumas cadeias nos são leves; porque nós mesmos as escolhemos. São assim os laços do Amor que, ao estabelecer-se em nosso coração, constroem a ponte invisível que nos liga ao coração do Universo, onde está a nossa verdadeira essência.

Entretanto, costumamos desvirtuar os nossos sentimentos. Não raro, transformamos o amor em egoísmo; e nos descobrimos a sofrer, pelo medo de perder o ser amado.

É então, que o vemos como se de nossa propriedade fosse. Buscamos impor-lhe limites, obrigá-lo a seguir as nossas próprias convicções; e este é o caminho mais curto, para afastá-lo de nós. Porque a submissão gera a revolta, e aquele que se cala não está aceitando a alheia imposição, mas remoendo a sua própria amargura.

O Amor existe, e afortunados são aqueles que o recebem em seus corações. Ele não pede nem exige, apenas É. E desperta em nós a consciência do Ser, que nos conduz a um mundo melhor, onde a Vida reluz em todas as cores e o sopro do vento nos traz as mais lindas canções.


Não devemos, entretanto, escravizar-nos ao amor; ou tentar escravizar o ser amado. Pois o Amor, por emanar do Universo, traz em si o sopro da liberdade, e é apenas em liberdade que o podemos viver.

Muitas vezes, lamentamos o amor que se foi. E não percebemos que, se por ele choramos, o Amor ainda existe em nós; não foi o amor que perdemos, mas alguém a quem amamos. Como não foi o desamor que o levou, mas o nosso egoísmo que o afastou de nós.

Ninguém nos pode escravizar; apenas cada homem pode definir os limites que irá aceitar, em sua própria alma. E aquele que aceita os grilhões de outrem, escraviza apenas a sua vontade, pois não conseguirá escravizar o seu Eu maior, que um dia mostrará a sua verdadeira face.

Como os astros, gravitamos uns ao redor dos outros. E, como os astros, é necessário que haja um espaço entre nós, para que seja possível a convivência. Precisamos cuidar, para que possamos manter o nosso próprio espaço e não invadir o espaço que a outrem pertence.

Aquele que a outro se escraviza, findará por dele afastar-se, premido pela própria revolta. Como aquele que tenta dominar será, um dia, vítima da revolta que no outro despertou.

E isto não acontece apenas nos nossos relacionamentos, mas em toda a nossa vida. Assim, o melhor trabalhador não é aquele que ao trabalho se escraviza, mas o que o executa com amor e dedicação, sabendo que dele provém o seu sustento.


Este, entretanto, sabe que a vida não se resume ao trabalho. Mantém em si o espaço onde se abrigam os seus amores, o seu lazer e as demais necessidades do seu Eu maior, sabendo dividir o seu tempo e os seus cuidados. Assim, o trabalho lhe é mais leve e gratificante; por isto o executa melhor, e se destaca entre todos.

Por medo do desemprego, nos escravizamos ao trabalho; por medo da solidão, aceitamos as imposições daqueles a quem amamos. E não percebemos que, ao aceitar estes grilhões, semeamos, em nossos corações, a destruição do mesmo futuro que acreditamos preservar.

Do medo, são forjados os nossos grilhões. Mais livre é o encarcerado que defende as suas convicções, do que aquele que as sacrifica para caminhar entre os outros homens.

Ao aceitarmos o medo, não é a liberdade que sacrificamos; ela está em nós, e um dia a sua voz se fará ouvir mais alto em nossos corações, arrebentando todos os grilhões que nos tentaram impor.

Entretanto, a sua canção não nos chegará na brisa suave da alegria.

E sim, no amargo turbilhão do arrependimento.


(Por absoluta falta de tempo para escrever, e como não consigo ficar longe de vocês, estou postando textos de meu novo livro, ainda inédito. Mas logo eu volto!)