1.30.2007

UM CAMINHO PARA A PAZ


Ao franzir o semblante, diante de um espelho, ninguém espera ver nele refletido um sorriso.

Entretanto, é assim que fazemos aos nossos irmãos: neles descarregamos as nossas mágoas e as nossas inquietações, mas esperamos que sempre nos ofereçam um sorriso amável e um gesto de carinho.


Esperar que isto aconteça, é como acreditar que um espinho se transforme em rosa; ou que da ofensa possa brotar o elogio.

Das nossas ações, dependem as reações daqueles que nos cercam. Como da intensidade do vento dependem as belas canções das palmeiras; ou os vendavais, que a tudo destroem.

Todos precisamos de companhia.

Porque o homem não é como a montanha, que se eleva por si própria; somos, antes, como as gotas que, unidas, formam este infinito oceano a que chamamos Universo. Todavia, nós mesmos construímos os invisíveis muros que nos separam.

Da compreensão, surge a integração. E da orientação surgirá a confiança. Da humilhação e da ofensa, entretanto, surgem a mágoa e o ressentimento, que mais cedo ou mais tarde nos envolverão em suas ondas turvas.

Assim, devemos vigiar os nossos sentimentos; porque é deles que brotam as nossas palavras e as nossas ações. E podemos ter a certeza de que, algum dia, a palavra ofensiva que a alguém dirigimos, por esse alguém nos será devolvida; como o prejuízo que a outrem causarmos, por ele nos será cobrado.

A gentileza é como a flor, a espalhar o seu doce perfume por quantos dela se acercam. E a agressividade é como a onda impetuosa, que ao encontrar o dique se dobra sobre si mesma e retorna ao mar revolto de onde partiu.

Nada nos custa sermos gentis, e ao nosso redor espalhar a compreensão e os mais nobres sentimentos. Quando assim agirmos, veremos florescer à nossa volta um belo jardim, cujas plantas nos oferecerão os seus aromas e o sabor dos seus frutos.

Porém, aquele que ofende aos seus irmãos semeia as pedras que machucarão os seus próprios pés. E cria para si mesmo um deserto árido e impiedoso, onde não poderá refrescar-se à sombra da amizade; nem desfrutará do poço cristalino da companhia, que dessedenta a nossa alma.


Enganam-se, portanto, aqueles que julgam dominar através do temor que infundem. Porque assim fomentam a raiva e a revolta, que nas dobras das suas vestes sombrias escondem os aguçados punhais da vingança.

Como se enganam aqueles que a todos se julgam superiores, e aos seus irmãos oferecem o desdém; porque ninguém é verdadeiramente grande, enquanto a vaidade permanece em sua alma. E estes jamais encontrarão um braço amigo, que os ampare na queda do pedestal onde se tentam colocar.

Existem, também, os que se refugiam na indiferença e a espalham ao seu redor. Assim fazendo, acreditam evitar o sofrimento; não percebem que, ao evitá-lo, também se afastam da felicidade. Pois é apenas através dos sentimentos, que um e outra têm acesso ao nosso coração.

Há aqueles que sobre todos derramam a sua irritação, a contrariedade pelos percalços da vida; e, ao fazê-lo, afastam a possibilidade de receber um abraço meigo, ou uma palavra de carinho, que poderiam trazer a paz à sua alma. Porque são poucos, entre nós, os que à violência respondem com a brandura.

E há os que tentam impor os seus conceitos. Esquecem que a Verdade não necessita ser imposta, porque é a voz do Universo que fala pela Razão, e as suas palavras sempre encontram guarida em nosso Eu maior.

Assim, aquele que tenta convencer aos seus irmãos busca convencer a si mesmo. E as suas dúvidas não encontram respostas, antes se perdem no silêncio da desconfiança. Pois cada homem tem as suas próprias verdades, e ninguém existe que as sacrifique para aceitar as verdades alheias.

Como a terra faz brotar a semente, que no seu seio é plantada, é o coração do homem. E são as nossas palavras, os nossos gestos e as nossas atitudes, as sementes que plantamos nos corações dos nossos irmãos.

Assim, é de nós mesmos que dependemos, para encontrar entre eles a sombra amiga da árvore, onde possamos repousar das fadigas da vida; ou os cruéis espinhos do cacto, que virão aumentar os nossos sofrimentos.

Juntos, caminhamos; e é juntos que chegaremos ao fim da Jornada.

Por que espalhar lágrimas entre os nossos irmãos, se deles necessitamos para enxugar as nossas próprias lágrimas? E por que semear de dores os seus caminhos, se são os mesmos caminhos que devemos percorrer?

Busquemos semear, sempre, o carinho, a tolerância e a paz, ao nosso redor.

Para que possamos encontrá-los, em nossos próprios caminhos!


(Como indica o selo, este texto atende ao convite do Lino_Resende, para a postagem pelo Dia da Não Violência: hoje, 30 de janeiro. A causa é nobre, vamos participar! Aceitem as minhas desculpas pela semi-ausência, causada por problemas de ordem particular; em breve, eu volto. E obrigado, por vcs!)

1.23.2007

A PATINHA NOS OVOS... OU VICE-VERSA


UPGRADE

Gente, eu sei que é humor negro. Mas me mandaram esta foto de uma suposta nova trepada aquática da Patinha, agora durante a enchente em São Paulo, e eu confesso: não resisti.
Desta vez, atire a primeira pedra aquele que resistiria!



Atendendo a inúmeros pedidos (do Gabriel) e cobranças (do Serbon) hoje vou cumprir a promessa feita na semana passada e falar sobre a patinha que sentou nos ovos, na praia. Com Tato e sem muito tato, diga-se de passagem.

Confesso uma preocupação: se a jovem (eu ia escrever moça, mas acho que não combina) conseguiu tirar do ar o You Tube, imagine-se o que não pode acontecer a este humilde blog... talvez um banimento perpétuo, para dizer o mínimo. Mas vou correr o risco; sou muito pequeninho, ninguém repara em mim.

A primeira pergunta, que tenho visto ser muito repetida, é: a Daniela estaria certa ou errada? Tenho a certeza que a minha resposta, por ser de uma simplicidade cristalina, vai acabar com a dúvida, de uma vez por todas.

Porque é inegável que a Daniela tem (ou não tem) o mesmo direito que qualquer outra pessoa, de trepar na praia. Famosos ou não, os direitos são os mesmos. Quem nunca trepou na praia, portanto, sinta-se à vontade para atirar a primeira pedra.

Segunda pergunta: o fotógrafo errou em filmar? Mais uma vez a resposta se impõe, lógica e cristalina: o mesmo direito que tinha (ou não tinha) de filmar qualquer outro casal, comprando pipoca ou passeando na praia. Atire a primeira pedra aquele que nada tenha de voyeur.

E ele tinha o direito de vender? Ora, vamos! O cara vive disso, tem nas mãos um filme que pode render uma grana... e não vai vender por que?! Aqui, o direito de atirar a primeira pedra cabe a quem não gosta de dinheiro... ou não precisa comer todo dia!

Se o You Tube tinha o direito de exibir? Pombas, ele é um site de postagem de vídeos... existe para isto. O cara vai lá e posta... simples assim. Diante do volume de postagens, não acredito que o site tenha a menor condição de controlar o que exibe.

Chegamos, portanto, à última pergunta: e o casalzinho estava certo em processar o You Tube? Aqui, realmente, acho que não. Caberia um processo se alguma calúnia houvesse sido levantada... mas pela exibição de um filme com algo que eles realmente fizeram?!

Porque este é o meu ponto: a cada direito corresponde um dever. E responsabilidade consiste em pesar as conseqüências de algo, antes de fazê-lo. Quer fazer? Faça. Mas não chie, na hora de pagar a conta.

Quer privacidade? Vá trepar no quarto! E aí, sim: se alguém lhe filmar, pode processar; é invasão de privacidade. Mas processar alguém por exibir uma cena filmada em público, numa praia cheia de gente? É meio forçado, me parece. E as pessoas que viram a trepada, ao vivo e em cores? Vão ser processadas também? Ou o casal é que invadiu a privacidade delas?

Claro, eu posso estar errado. Mas esta é a minha opinião.


(A imagem, se não me engano, peguei no Kibe Loco. Engraçada, não é?)

1.19.2007

COM ELIS, SEMPRE

Em 1965, eu estudava na EsPCEx, em Campinas.

Uma noite, na sala de recreações, a TV chamou minha atenção; uma baixinha de cabelos curtos e um cara alto e magro apresentavam um programa musical, que eu ainda não havia visto: Dois na Bossa. E cantavam pra caramba!

Apesar da imagem (em P&B) e do som precário, começou ali a minha admiração por Elis; e não parou até hoje, nem com a morte dela. Mesmo porque, para os fãs, Elis não morreu; foi para o panteão dos nossos maiores artistas. E, de lá, continua a embalar os nossos sonhos; os nossos amores e as nossas desilusões.

A história de Elis é um capítulo inesquecível da música brasileira; as suas canções serviram de fundo musical a importantes capítulos da minha vida. E, tenho certeza, da vida de todos vocês, que me lêem. Eu tive a sorte de ser contemporâneo de Elis; mas, de certa forma, todo brasileiro ainda o é: através de seus discos, da sua voz, ela continua viva e entre nós.

Dois na Bossa, Arrastão, Upa Neguinho, Menino das Laranjas, O Bêbado e a Equilibrista, Águas de Março, Como Nossos Pais, Romaria, Black is Beautiful, Fascinação e inúmeras outras lindas músicas continuam a fazer parte de minha vida.

Agradeço à
Vera, pelo honroso convite para esta blogomenagem coletiva e merecida; valeu, amiga! Mas me permita discordar do título, sim? Não dá pra concordar com ele.

Eu nunca fiquei sem Elis...

1.16.2007

OS LADRÕES E A PATINHA


Conforme a promessa (ou ameaça) da semana passada, estou abandonando a linha zen, para falar de duas coisas que estão atravessadas na minha garganta. Como diria o amigo Júnior, tou doido pra meter o bedelho nelas!

O primeiro assunto é a maior fonte de badernas e roubalheiras dos últimos tempos: o nosso querido congresso nacional. Ah! Era pra escrever com maiúsculas? Bem, talvez até fosse... algum tempo atrás!

Mas, dizia eu, a passada foi considerada a pior legislatura na história do Brasil. E olhe que não é dizer pouco; afinal, há 506 anos o povo vem sendo roubado pelos governantes, neste país. E, mesmo assim, as excelências conseguiram estabelecer um novo recorde!

Até aí, digamos, menos mal: o passado é passado, principalmente quando conseguimos sobreviver a ele. O problema é que a nova legislatura, ainda no começo, já vem mostrando que deverá ser ainda pior! E aí, convenhamos, não tem fiofó de povo que agüente!

Iniciamos o ano com aquele escândalo dos “suplentes” ganhando R$ 80.000,00 cada um, só pra ter o título de excelência e não fazer merda nenhuma: nem ir aos gabinetes. Mais um assalto parlamentar aos nossos bolsos.

Eu vi a entrevista de um desses ladrões, perdão, dignos senhores a uma emissora de TV: “Eu não vou dizer que devolvo nada; não sou hipócrita.”. Pois é: nem ele, nem o Marcola, nem o Fernandinho Beira Mar. A diferença é que os dois últimos roubam com mais dignidade.

Porém, mal passada a revolta por mais esse absurdo, sobrevém a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. E quem são os candidatos?

O primeiro é o Aldo Roubá-lo, perdão, Rabelo: o mesmo que tinha assinado aquele aumento de mais de 90% para os deputados, vocês lembram? Foi há pouquíssimo tempo e só o clamor popular conseguiu impedir a maracutaia.

Do outro lado, um pleonasmo: o deputado canalha, perdão, Chinaglia, que fez a chinaglice de prometer aumento para os nobres parlamentares; graças a esta promessa, em votação secreta (essas votações são sempre secretas), a maioria das excrescências, perdão, excelências resolveu apoiá-lo. Eu acho que já vi esse filme; com um baixinho chamado Severino.

Diante das alternativas, fiquei satisfeitíssimo ao saber que estava sendo cogitado o lançamento de um terceiro nome. Mas, ontem, soube que um dos maiores articuladores dessa “terceira via” é exatamente o deputado Raul Jungmann... que está sendo investigado por improbidade administrativa.

Agora, vocês me dizem... é mole? Pelo jeito, estamos ferrados de novo!

E, por falar em “ferrado”, o espaço acabou e não vai dar pra tratar do outro assunto hoje. Mas no próximo post eu falo da galinha, perdão, da patinha que sentou nos ovos, na praia; o caso ficou famoso.

Tão famoso que, segundo eu soube, a Ryder já está pensando em lançar uma linha especial de sandálias de praia para homens, cuja propaganda será calcada nas fotos da modelo, com a frase: “Você também pode! Leve a Daniela para a praia!”.

Vocês não acham que vai ser um sucesso de vendas?

1.12.2007

VERDADES SOBRE O BARCO E A VIDA


Decidimos o rumo das nossas próprias vidas.

Como o barqueiro, que não tem poderes sobre o vento e, entretanto, determina o rumo do seu barco, ao posicionar as suas velas.

A todos os dias, em nossas vidas, o destino coloca novas escolhas. E cada escolha que fazemos é como virar uma esquina, que nos leva a outro caminho. Assim, se não podemos comandar os ventos do destino, devemos colocar as nossas velas no rumo da felicidade.

Sempre, a escolha é nossa. E, se somos os responsáveis por nossas próprias escolhas, que justiça existe em culpar a outrem pelos seus resultados? Aquele que escolhe o caminho precisa aceitar as suas pedras, se pretende concluir a jornada. Nenhum mérito existe na realização, sem o trabalho que a tornou possível.

As lágrimas e os sorrisos são os frutos das sementes que plantamos.

Precisamos aprender esta verdade, para que possamos escolher os nossos frutos.

Entretanto, não é assim que fazemos. E, quando sobrevêm as amarguras, não buscamos o consolo da resignação, mas sim a intranqüilidade da revolta. Como o viajante fatigado, que despreza o repouso do leito, pela exasperação com as dificuldades da caminhada diurna.

Vivemos o hoje, como se o amanhã não fosse existir. E esquecemos que o nosso hoje é apenas o futuro de ontem, e será o passado de amanhã. O hoje é o que ontem fizemos, e o amanhã será o que hoje dele fizermos.

Ao nos revoltarmos, pelo sofrimento de hoje, muitas vezes estamos construindo a mágoa do amanhã. As atitudes insensatas, que a revolta nos sugere, podem gerar os espinhos que, amanhã, irão ferir mais profundamente a nossa alma.

A verdade é que sempre buscamos culpados, para as adversidades que nos visitam. O orgulho nos impede de ver que criamos as nossas próprias armadilhas, e nada é mais natural do que nelas cairmos.

Ninguém existe, entre nós, que seja inteiramente inocente; a vítima de hoje é o culpado de ontem, e na raiz de cada sofrimento existe um erro cometido. E isto não acontece por vingança divina, mas porque assim é a Lei do Aprendizado.

Aprender a viver, é como aprender a andar: é preciso cair muitas vezes, para atingir o conhecimento do equilíbrio. Entretanto, a criança que cai não busca culpados pela queda: apenas se levanta e, um pouco mais sábia, volta a ensaiar os seus passos; por isto, é mais curto o seu aprendizado.

Esta é a humildade que nos falta. A humildade de assumir os nossos erros, para que não os vejamos como fontes de vergonha, mas como fontes de conhecimento. Pois não é através da vergonha que aprendemos, mas da compreensão.

Afinal, se são nossas as escolhas, que direito nos cabe de reclamar a outrem pelos seus resultados? E, todavia, muitos são aqueles que se queixam do Pai por seus sofrimentos, quando deveriam agradecer-Lhe pelas escolhas que colocou em seus caminhos.

Orgulho e intolerância: eis as causas da maior parte das nossas angústias. Na raiz do fim de um amor, existe o orgulho de julgar-se melhor que o outro e a intolerância de não perdoar as suas falhas. Como, na raiz de cada frustração, existe o orgulho de considerar-se merecedor de atingir um objetivo, e a intolerância de revoltar-se porque este não lhe foi concedido.

Entre os ventos do destino, podemos decidir o rumo das nossas vidas.

Mas é preciso ter a humildade da criança, para alcançar a sabedoria do barqueiro.


(Não; eu não resolvi me tornar guru da auto-ajuda, nem me filiei a alguma nova igreja. Na realidade, este texto complementa o do post anterior; por isto, resolvi publicá-lo. Semana que vem, a irreverência estará de volta!)

1.09.2007

A SINFONIA DA VIDA


Não dominamos o mar, mas aprendemos a respeitar as suas leis, para que possamos desfrutar das suas ondas.

Entretanto, costumamos pensar que podemos controlar a nossa vida; e este é o primeiro erro que cometemos. Porque a vida, como o mar, tem as suas próprias leis e as suas ondas imprevistas.

Mas não é este, afinal, o seu maior encanto? O deserto não seria de uma monotonia atroz, se o sopro do vento não modificasse a cada dia as suas dunas? E como seriam as nossas vidas, sem os imprevistos que o destino nos traz?

Muitas vezes nos entregamos à revolta, quando a vida modifica os nossos planos. E, assim fazendo, esquecemos que é nas dificuldades que mais aprendemos; se enfrentarmos a luta, a amarga preocupação de hoje trará o doce sabor da vitória de amanhã.

Em cada ser humano, existe a força de que necessita. E existem, também, as fraquezas que precisa vencer, para atingir a plenitude dessa força.

Dizem os pessimistas que a felicidade não existe; e, ao dizê-lo, esquecem de todos os momentos em que a receberam em seus corações.

E dizem os otimistas que a felicidade pode ser eterna. Esquecem que a felicidade é um estado de espírito, como a alegria e o amor; esperar que seja perene, seria como acreditar que o vento possa soprar sempre na mesma direção.

A verdade é que nenhum de nós sente as mesmas emoções, todos os dias. O nosso Eu maior é livre, como a Força que o criou. E, assim como aprendemos a direcionar o vento, para que mova os nossos moinhos, precisamos direcionar a nós mesmos, para que mais rapidamente possamos atingir o fim do caminho.

Direcionar o nosso Eu, não é restringir a sua liberdade: é, antes, conceder-lhe uma liberdade maior, integrando-o ao infinito do Universo. É da responsabilidade plena, que deriva a plena Liberdade, e ninguém pode atingi-la sem o Conhecimento; ou a liberdade de um seria a escravidão de outro.

Nenhum homem será realmente livre, enquanto aos seus ouvidos ressoarem os grilhões de outrem. Como nenhuma gota do mar será inteiramente pura, enquanto existir a água poluída ao seu redor.

Entretanto, é pela purificação de uma gota que se inicia a purificação do mar. E pelo brilho da primeira estrela que se anuncia o belo espetáculo das constelações, reluzindo no céu noturno. Como é o primeiro raio de sol que afasta o escuro da noite, e traz o esplendor de um novo dia.

Juntos, executamos a Sinfonia. E o Maestro não descansará, enquanto as notas não estiverem perfeitas. Entretanto, não é Ele quem afinará os nossos instrumentos; nem tomará de nossas mãos, para obrigar-nos a extrair os acordes corretos. Ou não seríamos músicos, mas escravos; cada músico precisa tocar por si mesmo, para que seja plena a melodia.

É por isto, que não podemos dominar o que chamamos de vida: cada um de nossos momentos, cada uma de nossas alegrias e dificuldades, não passa de um novo ensaio, para que possamos executar a Sinfonia do Universo.

A verdadeira Sinfonia da Vida.

1.06.2007

O ETERNO CANTADOR


Às vezes, acredito que em mim secou a fonte e nenhuma outra palavra dela irá brotar.

Como a planta que, através dos anos, produziu todos os seus botões, e a quem agora só resta assistir ao lento apodrecer dos seus galhos, e à desintegração de suas raízes.

Entretanto, como às marolas cariciosas se sucedem as violentas vagas, também no oceano da vida se alternam as alegrias e as tristezas; e, enquanto no mar existirem as ondas, o som que delas se origina far-se-á ouvir no silêncio da praia.

Assim, aquele que nasce para cantar jamais emudecerá, enquanto a vida lhe trouxer os sentimentos que inspiram novas canções. E as palavras brincarão em sua mente, quase como se tivessem vida própria e formassem novas sentenças, enquanto as emoções existirem em seu coração.

Porque cada um tem o seu destino; e, se a alguns é dada a glória fugaz das vitórias mundanas, a outros cabe amadurecer mansamente, descobrindo em seu íntimo as palavras que servirão para esclarecer as dúvidas dos seus irmãos.

Eis que sou um destes últimos. E não o sou porque assim o tenha pedido; ou porque para isto me tenha escolhido o coração do Universo. Apenas, sou assim; e, como à roseira não se pode pedir que produza outra coisa, senão as flores que perfumam e enfeitam o mundo, também não posso esperar que o silêncio se instale em minha alma, enquanto a vida canta as suas canções ao meu redor.

È verdade que já sonhei muitos sonhos. E, assim como cantei a alegria do seu nascimento, tive que cantar a dor da sua partida. Mas, afinal, não são a felicidade e o sofrimento as duas portas por onde a inspiração alcança os nossos corações? E, para aquele que tem o dom do sentimento, a partida de um sonho não abre apenas o espaço para que outro se possa alojar?

É também verdade que, muitas vezes, amaldiçoei o meu jeito de ser; e desejei tornar-me como aqueles que não atribuem tanta importância a sonhos e sentimentos. Mas, se neste mundo apenas rochas existissem, onde encontraria o vento as palmeiras de que precisa, para assoviar as suas lindas canções?

E, de resto, porque seria o mais forte aquele que ignora os sentimentos? Não é entre o fogo e a água que o ferro se transforma em aço, e assim sobrevive aos séculos? E não é através da felicidade e do sofrimento, que o nosso verdadeiro Eu amadurece e atinge a sua plenitude?

Quantos ditadores e exércitos, que por armas e destruição escreveram os seus nomes, pereceram ao longo dos anos, enquanto até hoje sobrevivem as palavras dos Mestres, gravadas pelo Amor na alma dos homens? Os sentimentos se eternizam no Universo, enquanto as vitórias mundanas se perdem na simples mudança de gerações.

Não é fraco, o homem que não oculta as suas lágrimas; é um forte, que não se envergonha do que está em seu coração. Como não são fortes aqueles que rejeitam os sentimentos e, ao jardim florido das emoções, preferem o deserto árido da solidão.

Enfim... cada um é como é. Eis uma verdade que aprendi, ao longo dos anos. E é o egoísmo que nos leva a tentar mudar as pessoas que amamos, quando deveríamos desfrutar o amor que nos inspiram.

Somos os frutos da nossa insegurança. E é nela que nos perdemos, quando buscamos a falsa segurança de uma vida sem emoções, esquecidos de que é a amargura do pranto que nos ensina a doçura do sorriso.

Eu sempre viverei por um olhar, por um sorriso, por um momento de amor. Na esperança dos sonhos que o novo dia me trouxer, suplantarei a tristeza daqueles que na véspera me houverem deixado.

É assim que eu sou.

* * *


Às vezes, acho que em mim a fonte secou.

Mas basta percorrer os meus caminhos, para beber das suas águas...


(Mais uma vez, desculpo-me com vocês. Não sei porque, senti vontade de publicar esta página, que escrevi em maio/2002. E, juro, não foi preguiça... apenas achei que ela talvez pudese ajudar alguém. Muitas vezes, julgamos que a nossa fonte secou... e depois descobrimos que não era bem assim.)

1.02.2007

BUSH: A CAGADA DE FIM DE ANO


OK, eu sei que o título foi muito irreverente e que a imagem (colhida na Internet, aliás) não é das mais agradáveis; mas diz a sabedoria popular que os fins justificam os meios, e o objetivo era mesmo chamar sua atenção.

Explico o título: acho que a execução do Saddam Hussein, tal como ocorreu, foi o maior dos (muitos) grandes erros do novo Capitão América, perdão, de George W. Bush.

E a razão disso é simples: homens morrem; símbolos, não. Saddam, que era apenas um tirano violento e polêmico, pode agora tornar-se um símbolo. E, aí, adeus qualquer esperança de paz para o Iraque; ou até mesmo entre Oriente e Ocidente.

Exagero? Talvez. Mas não podemos esquecer que o fundamentalismo árabe está profundamente envolvido em uma jihad, ou guerra santa, contra o ocidente, principalmente os Estados Unidos (ou Grande Satã, como eles chamam) e Saddam pode tornar-se o mártir dessa guerra. Quem sabe, para os fanáticos uma espécie de santo.

Para mim e, acredito, para todo o mundo, o julgamento de Saddam Hussein foi uma ridícula pantomima, orquestrada por Bush e executada por seus marionetes. Sem a menor dúvida, um jogo de cartas marcadas, que Saddam jamais teve chance de vencer; ou, sequer, de não perder. Como, aliás, um certo julgamento de Pôncio Pilatos, sob a batuta de Herodes e Caifás.

Some-se a isto a execução, durante um período de festas religiosas, autorizada por grandes sacerdotes; alguém já percebeu alguma analogia? E aqui vai mais uma: a forca deve ter sido escolhida por ser a morte mais humilhante, no Iraque; aquela a que são destinados os criminosos comuns. Como a crucificação, na Judéia, há dois mil anos.

Não; eu não acho que Saddam Hussein seja, em nada, semelhante a Jesus Cristo. Até onde eu sei, Cristo foi Amor e Saddam foi impiedade e prepotência. Estou, apenas, tentando mostrar como a situação pode parecer, para os árabes; principalmente, se manipulados por hábeis sacerdotes ou políticos.

Poupo-me, também, de opinar sobre se Saddam merecia ou não a pena de morte; porém, com certeza, em pleno Século XXI ninguém merece assistir ao enforcamento de um ser humano, perpetuado em vídeo. É muita barbaridade, eu acho; um retrocesso à Idade Média.

Considerações morais à parte, se era para matar o Saddam, teria sido mais inteligente baleá-lo na captura e dizer que ele havia morrido no combate, como aconteceu a muitos outros terroristas. Assim, ele seria só mais um terrorista morto. Do jeito como tudo ocorreu, repito, não me espantarei se ele se transformar em símbolo e herói; talvez até um santo, para o mundo árabe.

Sacramentando, assim, a estupidez do Bush...