10.26.2006

BRINCANDO DE DEUS

A água escorre, lentamente, pelo vidro da janela. Do outro lado o garoto aproxima o rosto, solta uma baforada e contempla, encantado, o vidro embaçado.

Absorto, estende o dedo indicador; traça, a esmo, uma figura sobre o vidro.


No sofá, o pai levanta os olhos do jornal. Olha para o garoto que, encarapitado na cadeira, se entretém com o vidro, respirando sobre ele e traçando as figuras que a imaginação lhe sugere, enquanto a chuva fustiga a rua lá fora.

O pai balança a cabeça. Quase não estava conseguindo ler, mesmo; o fim do mês se aproxima, as contas se acumulam, o carro precisa de conserto e as chuvas constantes começam a provocar uma infiltração, que embolora as paredes da casa.

Dobra o jornal; levanta e se aproxima, no instante em que o dedinho do garoto aprimora um círculo, toscamente desenhado no vidro embaçado:

- O que você está fazendo aí, meu filho?

O rosto infantil se volta, um sorriso nos lábios e um brilho orgulhoso nos olhos:

- Consertando o mundo, papai!

Por um segundo, os anos desaparecem. E o pai volta ao tempo em que também ele podia consertar o mundo com um dedo, no vidro molhado...



(A foto, encontrada no site 1000 imagens, tem o sugestivo nome de "uma entrada para o céu". Não parece?)

10.24.2006

Ô BOQUINHA SUJA!!!

Lendo o blog da Cilene, descobri que as coisas na Noruega (e em outros países europeus também) não são bem como a gente imagina. O primeiro mundo não é exatamente o Paraíso que muita gente acha.

Vejo, agora, que em Viena mictórios em forma de boca (confira na foto) provocaram polêmicas e tiveram que ser retirados. E me pergunto: que espécie de prazer especial existe em fazer xixi num vaso com esse formato?

Se atentarmos para o detalhe de que a boca reproduzida é visivelmente feminina e utensílios desse tipo só podem ser utilizados por quem faz xixi em pé, o que exclui todas as portadoras de pererecas (mesmo as nadadoras alemãs, acredito), achei um desrespeito às mulheres, para dizer o mínimo. Até um troço meio doentio e grosseiro. Bom que tenham sido retirados.

Mas o lance me fez lembrar o acontecido com um deputado que conheço. Ficou todo orgulhoso, ao receber uma carta do prefeito de sua cidade natal, informando que estava colocando o ilustre nome do deputado na mais nova obra da prefeitura e perguntando se o homenageado poderia estar presente quando da inauguração. Claro, e com todo orgulho, respondeu o nobre homem público; afinal, homenagens sempre rendem votos.

No dia marcado, num fim de semana, lá se foi o deputado para a sua cidadezinha, prestigiar a inauguração. Na segunda-feira seguinte, ao encontrá-lo eu quis saber como havia sido a solenidade. E eis o que me contou o nobre parlamentar, vermelho de raiva:

- Uma merda. Literalmente. Você sabe que a cidade é muito pequena e fica no cafundó do Judas; pois imagine que o desgraçado do prefeito construiu foi um sanitário público, no meio da praça. Melhor dizendo, um quartinho apertado, com uma privada lá dentro. E botou o meu nome, com todas as letras e a condição de deputado, numa placa enorme na porta.

Aqui, vocês já imaginam a força que eu estava fazendo pra não rir. E não consegui segurar, quando o nobre parlamentar concluiu:

- Mas no sábado até que não foi tão ruim; na inauguração teve banda de música, discurso, e muita gente me garantiu o voto. Pior mesmo foi no domingo, quando eu estava passeando com minha mulher na praça e ouvimos um garoto falar pra outro: agora eu vou lá embaixo, dar uma cagadinha no deputado!...

(A Márcia, o Cláudio e o Marconi, que são especialistas neste tipo de texto, contariam bem melhor. Mas admita: o lance foi engraçado!)

10.22.2006

DE DOMINGOS, INTELIGÊNCIA E BLOGS


Domingo. Dia de beber uma cervejinha; e isto é muito bom.

Porém, é o dia do Faustão, do Silvão, do Guguzão. Dia dos programas adjetivados, como Domingo Legal e Fantástico, ou de substantivos com foros de adjetivos, como Domingão.

Dia de imbecilidade total na TV. Como nada é perfeito, há o oásis do futebol; embora, é claro, a maioria das mulheres não concorde.

Dia de zapear pelos blogs dos amigos, para transformar um dia de burrice em um de inteligência; para recuperar um tempo que seria culturalmente perdido.

Considero os blogs um reduto da inteligência na mídia. Não vou dizer a “última fronteira”, porque essa definição é pessimista e me remete direto a Star Trek; que, convenhamos, embora agradável não é exatamente um exemplo de inteligência.

Depois da imbecialização do IRC e do Orkut, esta última ainda em progresso, aposto nos blogs. Porque reúnem pessoas que têm idéias e vontade de expressá-las; e, o mais importante, a inteligência para fazer isto.

São pessoas que exprimem pensamentos próprios, sem a ditadura dos meios de comunicação. De diversos estilos, do romântico ao prosaico cotidiano e ao político, passando eventualmente pelo culinário. Mas todos criativos, inteligentes, originais.

Sempre, recebemos aqui novos amigos. Faço questão de ir aos blogs de todos. E me considero privilegiado: não sei se é questão de sorte, ou do nosso próprio estilo, mas fazemos parte de uma comunidade selecionada. Não vou linkar todos aqui, pois tomaria muito tempo e, confesso, domingo também é dia de preguiça.

Mas desafio qualquer um a clicar sobre qualquer dos links que aparecem nos comentários, e comprovar o que digo: somos, todos, pessoas, inteligentes; com idéias próprias. Ainda que não mudemos o mundo, pelo menos, trazemos nossas opiniões sobre ele.

E, o mais importante, somos abertos ao debate. Um debate construtivo, nascido de argumentos lógicos; do raciocínio bem informado. De um debate inteligente, podem surgir novas idéias e grandes amizades; em uma discussão idiota, até dedos se perdem.

Obrigado pela convivência. Mas agora me dêem licença, sim?

Vou dar uma olhada em alguns blogs... :)

10.19.2006

DE DEUS, RELIGIÕES E ALGUN$ MINISTRO$


O Dono_do_Bar, em seu comentário ao último post, cita um famoso ditado popular: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” E o pior é que, depois de ter dito que religião, futebol e política não se discutem, lá vou eu meter a minha colher torta no primeiro destes explosivos assuntos. Mesmo sabendo que o DB tá certo.

Mas o culpado é o Serbon, que me atirou a isca também no seu comentário; e há certas iscas às quais, confesso, eu não resisto. Assim, resolvi falar um pouco do que penso sobre religiões. Deixando claro, entretanto, que não tenho a menor pretensão de ser o dono da verdade; esta é apenas a minha opinião.

A minha formação religiosa é tão eclética quanto uma boa salada de frutas.

Nascido de um casal espírita, freqüentei aulas de evangelização, da infância à adolescência, no próprio centro. Enquanto isto, assistia às aulas de religião (leia-se catolicismo), na escola pública. Era matéria curricular.

Depois de já crescidinho, descobri a umbanda. E fiz algumas pesquisas sobre islamismo, esoterismo, budismo e rosa-cruz; como também sobre o protestantismo e as chamadas religiões evangélicas. Pesquisei até sobre o candomblé e um pouco sobre a magia.

Isto me deixa a cavaleiro, para dizer que da mistura de muitas religiões surgiu a minha crença. Que não se subordina a qualquer uma delas, mas agrega elementos de todas. Eu disse que não sou sectário, vocês lembram?

Em princípio, acredito que toda religião é boa. Religião vem de “religare”, do latim, e significa a religação do homem a Deus. Isto jamais poderia ser ruim.

Além do aspecto místico e/ou metafísico, que é sempre discutível, creio que as religiões são verdadeiros freios sociais; talvez mais efetivos que as leis terrenas, porque envolvem a vida eterna. O criminoso, que não teme a pena de morte, pode temer a danação do inferno; e por isto não cometer o crime.

Têm as religiões, portanto, um papel importante, na viabilização da sociedade humana. E só encaminham o homem para o bem; eu não conheço nenhuma cujos mandamentos incluam matar, roubar ou estuprar. As religiões são boas. Não é nelas que podem residir os problemas, mas nos seus sacerdotes.

Aqui, o bicho pega. Porque os ministros religiosos são humanos e a maioria deles se arroga o direito de falar em nome de Deus. Isto, confesso, já me parece uma heresia. Mas não é o pior.

O pior é a própria falibilidade dos ministros; as falhas e imperfeições humanas, que os levam à defesa dos seus próprios interesses, ou dos interesses da igreja a que pertençam; o que vem dar quase no mesmo.

Desta falibilidade surgiram as Cruzadas, a Inquisição, o Cisma, as Indulgências. Surgiram muitos massacres ditos “religiosos”, ao redor do mundo, ao longo dos tempos. Dela, nasce muito do sofrimento dos povos judeu e árabe. Dela, nasceram os kamikazes e sua versão mais moderna, os homens-bombas.

Para mim, isto não é religião; já é fanatismo. E eu jamais acreditaria num Deus que ordenasse ou sequer aceitasse a matança entre seus filhos. Ao meu ver, é uma impossibilidade lógica.

Temos, também, as igrejas cujos ministros se comportam como verdadeiros fiscais da Receita Divina, exigindo pesados impostos daqueles que as freqüentam; em dinheiro vivo, de preferência, embora também sejam bem-vindos imóveis, jóias, automóveis e outros bens não perecíveis.

Para atrair donativos maiores, prometem o retorno divino; e, como vender bem-aventuranças no céu, após a morte, já caiu de moda desde a idade média, muitos deles oferecem a solução de problemas terrenos e o sucesso financeiro. É o legítimo dá-cá-toma-lá. Quase uma operação de venda, com a promessa de entrega do produto.

Para mim, isto também não é religião; é mercantilismo. Pior: é uma fraude. E uma fraude praticada com o nome de Deus.

Se os meus conceitos de Deus e religião estiverem certos, estes estelionatários que roubam pobres desesperados e incultos, agravando os seus sofrimentos, terão uma conta muito pesada a acertar do outro lado. Se eu estiver errado, eles foram espertos e se deram bem; mas, em nenhum caso, serão ministros de Deus.

Pelo menos, não do Deus em que eu acredito.

10.16.2006

RELIGIÃO, FUTEBOL E POLÍTICA...


... não se discutem. Ouço isto desde pequenininho. E, com certeza, é um sábio conselho.

Se bem que aqui, no Brasil, é meio diferente. Religião se discute, sim; e sem maiores problemas. Vocês já viram alguma briga por motivos religiosos? Não incluída, é claro, a divisão do botim... perdão, dos donativos recebidos; aí, já é diferente. E nada religioso.

Graças a Deus, não vivemos no Oriente Médio; nem na Irlanda, ou em outros locais onde a questão religiosa é realmente grave. Além do fato de que a grande maioria da nossa população é (ou se diz) ou já foi católica, o brasileiro não é inclinado ao fanatismo religioso; basta notar que, em toda a nosso história, há o registro de um único Antonio Conselheiro.

Somos mais de beber vinho na Sexta Feira Santa e descer a porrada no Judas, no sábado seguinte. E, podem apostar, quando fazemos isto, não estamos pensando no apóstolo traidor; mas no senhorio, no ex-cônjuge, no gerente do banco, na sogra, no chefe, e em outros infelizes semelhantes. É por aí.

Quanto a futebol e política... bem, aí é diferente; o bicho pega. E as altercações não se limitam aos blogs, onde são inofensivas, porque virtuais; ganham as ruas, originam brigas, episódios de violência e até mesmo mortes. Não é raro morrer alguém, durante as eleições; e muito menos numa briga de torcidas.

Feliz ou infelizmente, acho que disto estou livre. Assim como os X-Men têm a mais o gene “X”, que os torna super-homens, acho que tenho a menos o gene “S”, pois sou avesso a qualquer forma de sectarismo.

Há pouco tempo, o Serbon confessou-se espantado por que, sendo corintiano, torci pelo São Paulo, na Libertadores; eu sou assim, fazer o que? Acho que seria burrice esperar que o meu time fosse o melhor, todo o tempo; mesmo porque os jogadores mudam. Isto não é lógico?

Não tenho qualquer ideologia política ou esportiva. Militei na esquerda, o que não me rendeu nada, além de umas porradas da polícia, como já relatei aqui; foi um santo remédio, que me curou da militância. Hoje, sigo as minhas próprias idéias; não as de pessoas que nem conheço.

Não voto em partidos, nem ideologias; voto em pessoas. Voto nos candidatos cuja história me agrada, cujas propostas me parecem viáveis, cujas palavras me convencem. Já votei em candidatos de direita e de esquerda, na mesma eleição. E daí? Achei que eram os melhores, para o cargo.

Não escondo as minhas opiniões; mas também não tento enfiá-las goela abaixo de ninguém. O que eu ganharia com isto? Digo o que penso, e tento ouvir o que o outro pensa; aí, sim, ganhamos ambos. Sinto-me no direito de apontar o que julgo erros de um candidato, já que ele é uma pessoa pública e se coloca para ser julgado; mas jamais ofenderei os seus eleitores. Cada um tem direito à sua própria opinião.

Acho que a razão prevalece sem gritos, e aquele que tenta impor a sua opinião é alguém que tenta convencer a si mesmo. Acredito que já disse isto aqui, mas repito: estou com Voltaire, “Posso não concordar com o seu jeito de pensar, mas defenderei até à morte o seu direito de pensar dessa forma”. Acho que democracia é assim.


Esta é a chave, para que tudo possamos debater. E, quem sabe? Talvez o segredo da paz...

10.15.2006

INTERMEZZO


Sabe aqueles dias em que, de repente, uma lágrima escorre por seu rosto? As noites em que a lua cheia, a refletir dourada entre as nuvens, emociona você? Aquele instante em que uma música, no rádio do carro, lhe faz voltar ao passado?

Sabe aquele momento em que você enxuga o rosto, disfarçadamente, para que o resto da família não perceba que você chorou com o filme da TV? Em que uma criança lhe estende a mãozinha e essa simples confiança o comove? Em que a visão de um mendigo o enche de piedade?

Estes momentos existem, para todos nós. E nos fazem sentir a vida. Não é a felicidade que abre o coração do homem, mas a tristeza; porque é ela que o transporta para junto dos que sofrem. Ninguém entende senão o que sente.

Aonde eu quero chegar com isto? Em lugar algum. Nem sempre, somos pragmáticos; às vezes, escrevemos apenas para desabafar... ou para que uma idéia não se perca.

E esta me pareceu uma idéia interessante, que resolvi trazer para vocês. A de que a tristeza nos torna mais humanos, toca mais profundamente a alma, nos faz sentir mais vivos, na acepção da palavra. Faz mais aguda a percepção do que somos; dos nossos limites e do infinito que existe em nós.

Será? Talvez. Mas não fiquem tristes, por causa disto. A verdade é que não precisamos procurar a tristeza; ela sempre nos encontra.

Precisamos, sim, buscar a felicidade...



Talvez o título não tenha nada a ver, mas como hoje eu já escutei o Noturno de Chopin, o Bolero de Ravel, as Czardas de Monti e a Cavalleria Rusticana... até que explica! :)

10.11.2006

A SAGA DO PIROCÃO


Sei que vocês não vão acreditar, mas juro que a história é real. Até pensei em pedir pra Márcia contar; certamente, ficaria mais engraçada. Mas resolvi conservar meu copyright.

Aconteceu em 2001, se não me engano. Eu assessorava a Prefeitura de uma pequena cidade do interior da Bahia, situada em uma das áreas mais turísticas do estado.

A cidade era (e é) até bonita, bucólica, sossegada, com lindas praias e uma barra onde um grande rio encontrava o mar; com manguezais, áreas para eco-turismo, artesanato e culinária próprios, tinha potencial para o turismo e praticamente nenhuma outra fonte de renda.

O problema é que a cidade fica localizada no fim-de-linha (ou cu-do-mundo) do pólo turístico, e não tinha dinheiro para investir em infra-estrutura, eventos ou divulgação. Em conseqüência, quase ninguém chegava até lá; e a economia do município andava cada vez pior.

Recém-eleito, jovem e disposto a trabalhar, o Prefeito encontrou uma forma original e barata de divulgar a cidade: como estávamos na época do Carnaval e naquele tempo era uma verdadeira febre a propaganda do sexo seguro, ele dirigiu a ornamentação da cidade nesse sentido.

Talvez até um pouco demais, convenhamos. A peça principal era uma enorme piroca (desculpem, mas não sei outra palavra para designar tão bem o troço), com 6 metros de altura, colocada na praça principal da cidade e vestida com uma “camisinha” de dimensões apropriadas.

Como se pode imaginar, a novidade causou furor; e não exatamente uterino, mesmo porque nenhum órgão sexual feminino existia que proporcional fosse. No interior da Bahia, essa coisa de “moral familiar” é tão mais rígida e antiquada, quanto menor for a cidade; e esta, eu já disse, era pequeninha.

Assim, enquanto os rapazes aproveitavam para, gaiatamente, marcar encontros com as namoradas “no pé da piroca”, os pais e mães de família reclamavam pra cacete (meio literalmente, no caso), apregoando que aquilo era o fim do mundo, a derrocada da moral, capaz de atrair terrível castigo dos céus.

Começou a pressão sobre o Prefeito; e ele resistia, impávido. Sem trocadilhos de gosto duvidoso, a cada dia o pirocão subia mais... e as famílias se sentiam mais ameaçadas. Como as casas, no máximo, tinham dois andares, logo o polêmico membro tornou-se a mais alta construção local e a “cabeça” arroxeada era avistada de qualquer ponto da cidade; um verdadeiro farol da devassidão, para a contrita comunidade.

Vai daí, formou-se uma comissão das senhoras mais austeras e religiosas (é politicamente incorreto falar “beatas” e “carolas”, fazer o que?), para falar com o Prefeito. O azar delas foi que em cidade pequena tudo se sabe, e ele já estava de saco cheio da pressão.


Por coincidência estávamos conversando no gabinete, bem na hora da audiência, e ele me pediu que ficasse, dizendo que seria rápido . Sentei-me a um canto, o mais discretamente que pude, e fiquei observando a cena, enquanto fingia ler uma revista.

Depois de muitos rapapés e muitas tossidas, a mais corajosa das bea... perdão, religiosas senhoras, tomou a palavra:

- Senhor Prefeito, queríamos falar sobre aquele monumento...

- Que monumento, minha senhora?

- Aquele que o senhor está construindo...

- Qual? No momento, não estamos construindo nenhum monumento. Deve haver algum engano.

- Aquele que o senhor está fazendo, na Praça Central...

- Ah! Aquela rola? O nome daquilo é rola, minha senhora. Não está parecida?

- Nós achamos aquilo uma indecência e...

- Não, minha senhora. O objetivo é conscientizar todos, sobre a necessidade de fazer sexo seguro; de usar a camisinha. As senhoras não sabem que a AIDS se tornou uma ameaça mundial e divulgar o sexo seguro é uma obrigação de todos nós? Estamos fazendo a nossa parte!

- Mas... o senhor precisava fazer um negócio tão grande?

- Rola, minha senhora... o nome é rola.

Aqui, a dona perdeu a paciência e quase gritou:

- Que seja! Por que o senhor precisava fazer uma rola tão grande?

O Prefeito fez uma cara de inocência e respondeu, fazendo com os dedos polegar e indicador aquele gesto que se usa pra pedir um cafezinho:

- Acho que foi pra compensar, porque a minha é deste tamanhinho...

Acabou a audiência. As senhoras deixaram violentamente a sala, enquanto eu me esforçava para rir o mais discretamente possível, nas circunstâncias. O pirocão ficou na praça o carnaval todo, preventivo e altaneiro; o lance obteve uma boa repercussão na mídia e o município foi bem divulgado. O Prefeito tem uma bela carreira política e hoje administra uma cidade bem maior.

E eu nunca me esqueci deste caso...

10.09.2006

HARRY POTTER E OUTROS MÁGICOS


Assisti parte do debate entre Lula e Alckmin, na Band.

E confesso: digo “parte”, porque muito me vali do controle remoto, para alternar entre o debate e o filme Harry Potter e a Pedra Filosofal, exibido no mesmo horário pelo SBT. Afinal, se é para ver e ouvir coisas mirabolantes, ao menos o filme do bruxinho inglês tem uma produção melhor.

O debate, em si, não me interessou muito; foi, basicamente, a troca de acusações que já se esperava. Ninguém disse nada de concreto, sobre como pretende administrar o país; apenas atacaram os próprios passados, quando numa eleição é o futuro que está em jogo. Ficaram mordendo os rabos, quando deveriam olhar para a frente.

Talvez eu tenha dado azar, na alternância, mas a verdade é que não vi um fazer ao outro uma pergunta construtiva. O que, talvez, não faria muita diferença, pois é também verdade que não vi nenhum dos dois responder diretamente a nenhuma pergunta; vi desconversar, tergiversar, disfarçar e acusar. Responder, que é bom, nada.

Nenhuma novidade, honestamente. Já faz tempo que os nossos candidatos usam a tática de nivelar por baixo, em vez de buscar patamares mais elevados. Aqui, não se diz: “Vote em mim, porque eu sou bom”; diz-se: “Vote em mim, porque ele é ruim”. E isto é péssimo. Para os candidatos e para o país.

Como todo mundo já sabe, sou neutro: não voto nem no Lula nem no Alckmin. Por isto, sinto-me à vontade para dizer que, em minha opinião, o debate terminou empatado. E de zero a zero, porque não pode haver placar com números negativos.

Acho que ninguém ganhou, os dois perderam. Talvez tenha sido pior para o Lula, porque ele estava na frente e pode ter o maior prejuízo. Apenas por isto. A minha opinião não mudou, apenas se fortaleceu; estou mais decidido do que nunca, a não votar em nenhum dos dois.

Respeito, é claro, as opiniões divergentes. E, para facilitar a escolha dos votantes, sugiro que no próximo debate seja inserida uma nova regra: é obrigatório responder às perguntas formuladas. Porque, neste, não vi nenhuma ser respondida.

Se bem que, como eu disse, não assisti todo o debate. O que foi bom, porque me livrou de um prejuízo total.

Gostei de rever o filme do Harry Potter.

10.05.2006

POR FAVOR, SEM CENSURA NOS BLOGS!


Em post recente no seu (inteligente) blog, a Olhos de mel se declara admiradora do Lula, elogia o governo e confessa que já não agüenta mais todo mundo falando mal dele.

Nos comentários, o Dono do Bar (e de outro blog, que também considero de alto nível), apóia essa posição, e faz notar que muitos blogs vêm atacando o Lula, sem se importar se todos concordam com isso.

Vindo de dois blogueiros que respeito, esta atitude sensata e educada, ao colocar as suas opiniões, me fez atentar, mais uma vez, para um ponto importante.

É público e notório que não morro de amores pelo Lula e pelo PT; justamente porque acreditei muito neles e hoje me considero traído. Também é público e notório que não acredito numa boa administração do Alckmin. Como bem colocou o ótimo Marconi, no outro jardim também não há muitas flores cheirosas.


Nesta eleição, ganhe quem ganhar, estamos ferrados; esta é minha opinião. E tenho direito a ela. Como eles têm direito à opinião deles, é lógico! Mas não vou falar de política, hoje; o meu ponto é a liberdade de expressão.

Já disse, aqui, que vejo o blog como uma espécie de jornalismo do futuro; com as vantagens de ser mais rápido, interativo e sem censura. Acho que nós, os blogueiros de hoje, somos responsáveis pelo que vai acontecer com este novo veículo de comunicação.

Acho, também, que fazemos parte de uma elite sócio/cultural/econômica. Temos PCs, acesso à Internet, interesse no mundo que nos cerca e conhecimentos para discutir diversos assuntos. Não me julguem elitista, mas não consigo imaginar um desculturado escrevendo um blog; nem sequer lendo um, aliás.

Escrevemos, porque temos algo a dizer. Somos pessoas inteligentes, de idéias formadas. No post que originou este, a Olhos de Mel deixa bem claro que “Ninguém faz a minha cabeça.”. Nesta frase, ela sintetiza tudo; é difícil fazer a cabeça de algum de nós.



Não podemos ter todos a mesma opinião. E acho que externar uma opinião não é ofender quem pensa diferente, nem tentar impô-la; é colocar na mesa as próprias idéias, para que sejam debatidas. Muitas vezes, é um simples desabafo de quem escreveu.

Por outro lado, conhecer opiniões diversas, sobre qualquer assunto, nos dá uma visão melhor dele. Embora opiniões semelhantes à nossa sejam bem mais agradáveis, é com as discordantes que mais aprendemos; desde, é claro, que tenhamos o bom senso de ouví-las e pensar um pouco sobre elas.

Não é uma questão de orgulho, de estarmos “certos” ou “errados”; nem de mudar a nossa opinião. Apenas de aceitar ouvir outra, com respeito, para que possamos ver o assunto por outro ângulo e talvez aprender mais sobre ele, para avaliá-lo melhor.

É este o ponto de que quero falar. O blog é um fórum, onde colocamos as nossas opiniões, para que sejam avaliadas; mas, se temos este direito, temos também a obrigação de avaliar as opiniões que recebemos. Sem as agressões que surgem de vaidades feridas.

De certa forma, está nascendo uma censura nos blogs. Censura que se manifesta por algumas reações grosseiras, violentas, diante de opiniões divergentes. Sabem aquela pessoa que fica sem argumentos e berra, numa discussão real? Tem gente que quer ganhar “no grito”, também, um debate no campo virtual.

Já aconteceu comigo: colhi observações grosseiras, por ter dado educadamente minha opinião. Abandonei a discussão e o blog (do qual, aliás, gostava), porque pra mim já não valia a pena: o debate civilizado esclarece, mas a discussão grosseira só faz aflorar o pior das pessoas. Gosto de debater, mas odeio discutir. Para discordar, não é preciso ofender. Quem ofende não tem argumentos, nem idéias, e assim nada pode acrescentar.

Tenho dito, várias vezes, que a melhor parte do Opiniaum são os comentários; isto é o que acho, mesmo. Faço questão de que, aqui, todos possam dizer o que pensam, sem agressões ou ofensas. Somos esclarecidos; por isto, a convivência nos esclarece ainda mais. Crescemos juntos, ao trocar opiniões.

Este é o ponto; o mundo virtual precisa ser alertado para isto. Opiniões discordantes não são ofensas pessoais; são apenas idéias diferentes. Nós, que tanto defendemos o direito de livre expressão, precisamos assegurar a todos esse direito. A diversidade de idéias é necessária ao nosso progresso.

Acreditem: somos responsáveis pelo futuro dos blogs, na área da comunicação. Precisamos estar atentos, alertar quantos pudermos, para que esta censura não consiga invadir o mundo dos blogs. Vamos trocar idéias, jamais agressões.

Ou estaremos limitando a tribuna que nós mesmos estamos criando...

VOCÊ QUER OS LIVROS? VEJA NO UPGRADE DO POST ANTERIOR

10.04.2006

UPGRADE - SOBRE OS LIVROS



Pessoal, a minha intenção é divulgar as mensagens, e não vender os livros; por isto, fiz o site. Porém, como alguns amigos já perguntaram pelos livros e eu sei que não vai ser fácil achar, a estas alturas, as dicas são as seguintes.

O primeiro, Na Trilha do Profeta, como já disse, vendi os direitos autorais. Há algum tempo, estava disponível no Submarino. Hoje, só encontrei neste site: http://www.comprar-livro.com.br/livros/64191/, ao preço de R$ 13,00. Pode ser que exista em outros sites, ou em livrarias, não sei.

Do segundo, A Sabedoria de Hassan, tenho alguns exemplares que sobraram da segunda edição. O terceiro, Hassan, foi recentemente impresso e ainda não lancei, ou seja: tenho muitos exemplares. Basta me mandar o endereço, que terei prazer em remeter estes dois, para qualquer dos amigos. O pior que pode acontecer é vocês pagarem as despesas do envio, OK?

Ou então, é só curtir no site. Vocês decidem. :)

10.03.2006

DE GIBRAN, CHALLITA E COINCIDÊNCIAS

Vejo, no blog da Rita (http://la-loba.blogspot.com/), uma comovida referência ao Gibran Khalil Gibran. E, mais uma vez, me espanto, ao ver como as chamadas “coincidências” acontecem na vida da gente.

Explico: conheci os livros do Gibran, ainda na adolescência. Se eu tivesse que escolher o maior escritor do mundo, em todos os tempos e em todos os gêneros, o indicaria sem pensar duas vezes; e olhe que tenho lido um bocado, ao longo da vida.

Como aconteceu com a Rita e incontáveis outros, antes e depois de mim, a obra do Gibran me marcou profundamente. E, muitos anos depois, numa das piores fases de minha vida, veio-me a idéia de tentar escrever algo parecido; apenas como um desabafo.

Uma surpresa: as palavras brotaram, o texto fluiu. Assim, como se as idéias já estivessem prontas, em mim, e apenas aguardassem o convite para vir à luz. Em 15 dias, o que seria apenas um texto virou um livro; que me pareceu bom demais, para ser simplesmente esquecido em uma gaveta.

Entretanto, a fase era horrível também financeiramente; sem rodeios, eu estava falido. Faltava dinheiro até para comer, quanto mais para publicar um livro. Foi quando fiz uma loucura: tomei dinheiro emprestado e comprei uma passagem de ônibus para o Rio, onde me hospedei em casa do meu irmão caçula.

O objetivo? Encontrar Mansour Challita, tradutor e editor, no Brasil, da obra de Gibran. Eu jamais o havia visto, mas algo me dizia para procurá-lo. Loucura? Com certeza; eu já disse isto, no parágrafo anterior.

Pelo catálogo telefônico, descobri o endereço de Challita. Fui até ele, na maior cara-de-pau, apresentei-me e perguntei se tinha interesse em editar o livro. Um gentleman, ele me recebeu maravilhosamente bem; mas deixou claro que não era editor profissional, apenas editava no Brasil os livros de Gibran. E não tinha interesse em editar nenhum outro.

Uma ducha fria, vocês podem imaginar. Precisei insistir, para deixar com ele os originais e o telefone onde poderia me encontrar. E voltei para a casa de meu irmão; desamparado, deprimido e disposto a retornar para Salvador pelo primeiro ônibus, no dia seguinte. Aquele fracasso, realmente, me doeu; assim como se a última esperança se fosse.

Às 8 da noite, o telefone tocou. Meu irmão atendeu e me passou, surpreso: “É para você”. Atendi, mais surpreso ainda; e, do outro lado, a inconfundível voz de Challita: “Senhor Flávio? Mansour Challita. Gostaria de publicar o seu livro”. Acho que vocês podem imaginar como fiquei.

Para encurtar a história, vendi os direitos autorais do livro, que foi publicado pela Associação Cultural Internacional Gibran, presidida por Challita, que também me deu a honra de escrever o prefácio.

Não; não fiquei rico. Mas recebi a aprovação do homem mais qualificado para julgar o meu trabalho; e ainda tive a felicidade de vê-lo publicado com a chancela da Associação Cultural Internacional Gibran. Certas coisas valem bem mais do que dinheiro!

Depois dele, escrevi mais dois livros no gênero. E, agora, chegamos à coincidência: há cerca de dois meses, venho preparando um site que reúna estes livros. Aprendi até a trabalhar (muito mal!) com o Front Page, para montar o site.

Pois bem: assim que termino o trabalho, vejo o comentário da Rita. E isto me motiva, ainda mais, a colocar o site no ar. Porque acho que as mensagens nele contidas realmente merecem ser divulgadas.

O endereço do site é
http://br.geocities.com/acalanto_home_page. Também está nos meus links, com o nome de Acalanto. Não tem muitos recursos; lembrem-se que aprendi, na marra, a usar o programa. Nem ao menos sei colocar o contador de acessos e muito menos um livro de visitas. Ficarei grato, se alguém se dispuser a me ensinar.

Espero que vocês, meus amigos, passem por lá, de vez em quando, num desses dias em que todos precisamos de uma palavra amiga; e lá possam encontrá-la. Porque este é o objetivo do site: que suas mensagens possam ser úteis a alguém.

Como, tantas vezes, as mensagens de Gibran me ajudaram...

10.02.2006

VAI DAR CHUCHU OU CHUCK LULA?

No que me diz respeito, a campanha eleitoral acabou. E, graças a Deus, sou marketeiro e não analista político; ou estaria doido, tentando entender o povo.

Senão, vejamos: o picolé de chuchu se tornou um verdadeiro alckminsta e com a Heloisa Helena de pedra filosofal, transformou chumbo em votos; vai para o segundo turno, com o antes todo-poderoso Lula! Incrível, não é?

Ainda pior foi aqui na Bahia: Paulo Souto, que tinha 58% das intenções de votos, perdeu a eleição, ainda no primeiro turno, para Jacques Wagner, a quem as pesquisas atribuíam minguados 13%. Sem trocadilho: Freud explica?

Aqui, de uma forma geral, ou se ama ou se odeia ACM. A exceção sou eu, que o vejo como um mal útil: não concordo com os seus métodos e princípios (ou falta de), mas acho que ele ajudou muito a Bahia. E fatalmente teria que passar; assim como o Maluf vai passar um dia, em São Paulo. Nada dura para sempre.

Dizem-me, então, os amigos anti-ACM, que a eleição de Wagner foi o grito do povo oprimido, que não aceita mais o jugo do carlismo, no caso representado por Paulo Souto; ao votar contra Souto, o povo teria rejeitado ACM. Uma boa explicação?

Seria; bem lógica. Mas há um detalhe interessante: o deputado federal mais votado na Bahia é ACM Neto, com mais de 430 mil votos; o segundo colocado é Fábio Souto (filho de Paulo Souto), com 297 mil votos. E aí... onde fica a lógica? Rejeitar o avô e o pai, e glorificar o neto e o filho? Absurdo, me parece.

Portanto, não acredito nessa morte anunciada do carlismo. Acredito mais na força do apoio de Lula, que subiu no palanque com Wagner e o chamou de irmão; afinal, Lula teve 66,65% dos votos baianos, contra a média de 48,61% no Brasil. Acho que o apoio de Lula elegeu Wagner.

E acho, também, que o povo da Bahia fez merda. ACM à parte, Paulo Souto foi um bom governador, já por dois mandatos. Jacques Wagner, no mínimo, é uma incógnita; elegê-lo, foi trocar o certo pelo duvidoso. Não acredito que ele venha a fazer um bom governo, até pela falta de experiência; já sabemos que o processo petista de adquirir experiência é oneroso para o povo. Tá aí o Lula, que não me deixa mentir!

Por falar nisto, aliás, agora é que o baiano precisa mesmo torcer pelo Lula; se o governo de Wagner ainda tem alguma chance com Lula presidente, o quadro será bem pior com o Alckmin. Podem apostar.

Acho que o Lula ainda ganha, embora tenha ficado mais difícil. Acredito que os votos do Buarque migrarão quase todos para o Alckmin, mas são apenas 2,64%; poucos para mudar o quadro. O fiel da balança está no eleitorado de Heloísa Helena; que, lembrem-se, deixou o partido quando este virou governo e começou a trair seus ideais. Irônico, não é?

O problema é que o Alckmin (leia-se FHC e similares) também representa tudo que a Heloísa odeia. Seria muito difícil para ela apoiar qualquer um dos dois; por isto, liberou os seus eleitores. A vantagem é do Lula; o Alckmin é que mais precisa dos votos, para reverter o quadro.

Vejamos no que vai dar. Estou satisfeito, porque o Lula não se elegeu no primeiro turno, o que viria referendar todas as merdas que ele e o partido fizeram. Talvez agora ele entenda que Chuck Norris só existe um... e não está na política brasileira.

Talvez ele readquira um pouco de humildade. Gostei muito de uma frase que li, hoje, não lembro onde: “Agora, o Lula precisa descer do pedestal e entrar no ringue”. É por aí.

Vamos nessa. E que Deus nos ajude!