2.22.2006

DE CORNOS E BIG BROTHERS



Vamos por partes; filosofia, aliás, muito do agrado do Dr. Frankenstein.

Primeiro, o corno; uma instituição mundial e secular, que até hoje persiste com elogiável democracia. Observe-se que, no Brasil de hoje, como na Roma antiga, até Senadores levam os seus chifres.


Desde que eu era criança, citavam-se vários tipos de integrantes da benemérita Confraria de São Cornélio: o corno manso (todo mundo conhece), o corno churrasco (aquele que põe a mão no fogo pela mulher), o corno enganador (bate na porta da frente e entra pelos fundos), o corno delicado (chega em casa antes da hora e espera a mulher acabar), o corno alto-falante (aquele que conta pra todo mundo) e muitos outros.

Como a corneação não pára, a tecnologia acaba de lançar um novo tipo de chifrudo: o corno Big Brother; aquele que é transmitido pela TV, em rede nacional, para todo o país. É o corno que sente a dor na hora em que o chifre nasce, benefício negado aos seus antecessores.

E é assim que chegamos ao Big Brother, da TV Globo; pioneiro, aliás, na nova modalidade. Desde o primeiro programa, alguém esquece o namorado ou marido que deixou cá fora e vai pra baixo dos edredons, com algum colega de casa. Ou a carne é fraca, ou a aranha tem mais fome do que se imaginava dantes. O que, aliás, vai dar no mesmo; e no mesmo chifre, inclusive.

Diga-se de passagem que eu não assisto o Big Brother; jamais assisti. Tenho o péssimo defeito de não ter curiosidade pela vida alheia, mesmo porque a minha já é muito complicada. Ora; se eu, que não assisto, tenho conhecimento dos cornos que rolaram, presumo que todos no Brasil também saibam.

E isto, convenhamos, é de doer. Talvez mais até que o próprio corno! Uma coisa é o chifre secreto, que permite ao cidadão decidir o que vai fazer a respeito; outra coisa é passar na rua e ser apontado como corno. Ou chegar no trabalho e ouvir as risadinhas; ou estar jogando o futebolzinho do fim de semana e ouvir alguém gritar: “Vai que é tua, corno!”. Não deve ser mole.

O que nos leva ao marido da Katilce, intrépido herói brasileiro: o cara enfrenta uma fila desgraçada, para comprar o ingresso da mulher no show do U2, e a ingrata chega lá e dá uma bela e demorada sentada no colo do Bono, além do beijo na boca, em despedida. Tudo isto, em rede mundial de TV e com direito a reprise no Jornal Nacional, em horário nobre. É de lascar... nem que seja com o chifre!

Os números não mentem: soube que a página dela, no Orkut, recebeu, num único dia, mais de 150.000 scraps... e caminha pra um milhão. É a celebridade instantânea, tão ao gosto do brasileiro. Deve ter sido um recado, para cada vez que o infeliz foi chamado de corno.


Calculo o day after do coitado, no trabalho: as risadinhas, os comentários, os tapinhas nas costas, a admiração e a solidariedade fingidas e maldosas. A raiva contida.

E pior ainda terá sido se, ao desfiar as suas queixas no fim do dia, ele ouviu da mulher a tradicional frase de consolo:

“Ora, querido, chifre não existe. Isso é coisa que puseram na sua cabeça!”.

2.21.2006

SIMPLESMENTE O TÉDIO


Todo mundo que escreve, acredito, já passou por isto.

É uma fase de “branco” mental; como se os neurônios responsáveis pela linguagem escrita se recusassem a comparecer ao trabalho. Busquei assuntos no noticiário, na Internet e, num paroxismo de desespero, confesso que cheguei a ler a “Veja”; com direito a uma espiada na coluna do Mainardi.

E nada; nem uma idéia. Nada que me despertasse um pensamento engraçado, sobre o qual valesse a pena escrever. Vi, na TV, famílias com carro e casa própria e que recebem a “Bolsa Escola”, no lugar de outras que não têm o que comer. Isso me deixou puto da vida, mas não me fez escrever.

Também tenho acompanhado a briga dos chuchus (Serra x Alckmin), para ver quem vai encarar o Lula Lelé nas próximas eleições, numa batalha contra os (e pelos) cofres públicos, que vão despejar dinheiro a rodo este ano. E tudo isto só me faz pensar naquela famosa frase do Chacrinha: “Vai para o trono ou não vaaaaaiiiiiiiii?”.

O show dos Stones, que assisti em casa, na TV de 29 com Home Teather de 4.000 watts RMS, tomando umas cervejas bem geladas, enquanto a multidão se acotovelava na areia. E isto só me deu uma espécie de saudade, do tempo em que eu também era capaz de encarar estes programas de índio.

A luta pelos ingressos do U2; pessoas felizes, exibindo os seus bilhetes como se fossem jogos premiados da MegaSena, e correndo para pegar lugares na frente, como se fosse tudo que importasse no mundo. E eu pensando, comigo mesmo, que só correria daquele jeito se chegasse uma tsunami aqui no nordeste.

Carnaval chegando. Época de trios elétricos, músicas sem letras que prestem, mas cheias de vogais. Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Chiclete com Banana e o Babado Novo repetindo os mesmos velhos babados de todos os anos. Tão velhos que até o vovô Gil vai desfilar em cima do seu Expresso 2222, com convidados ilustres, como sempre.

Não sei porque, mas algo me diz que entre esses convidados estarão Caetano, Bethânia, Gal Costa e Elba Ramalho. Adoro todos eles, mas com músicas de Carnaval é dose. Além, é claro, da desagradável sensação de já ter visto esse filme; muitas vezes, diga-se de passagem.

Enfim, um tédio mortal. Mas a verdade é que preciso escrever, ou perderei leitores. E, para quem tem tantos leitores como eu, qualquer perda é altamente significativa: um único, já significa 25% de prejuízo e não posso me dar a esse luxo. Quem sabe se não serei candidato à ABL, um dia? Dispenso o fardão, mas já ouvi dizer que o chá com bolinhos é uma delícia.

Então, aqui estou eu; escrevendo sobre o tédio e esperando não entediar os amigos. É fase, isto passa.

Espero estar melhor, no próximo post!

2.15.2006

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS – PARTE 2006


Vêm aí as eleições. E, enquanto se faz uma patética (porque inútil) tentativa de proibir o Caixa 2 dos demais candidatos, o Lula utiliza Caixas 2, 3, 4, 5 e muitos outros, liberando verbas para projetos eleitoreiros.

O povão gosta, porque aparentemente é beneficiado. Mas não é preciso ser muito inteligente, para saber que vamos nosfu, quando a eleição passar. É o dinheiro público, que está sendo gasto... adivinhe-se quem vai pagar a conta!

Por enquanto, fora a descarada jogada do Lula, o que está acontecendo é a revoada de possíveis candidatos, como urubus, em torno desta tentadora carniça que é a grana dos nossos impostos.

Tanto para me divertir, como para testar as minhas aptidões de vidente, resolvi listar neste post os que (acho, até o momento) serão candidatos, e a minha opinião sobre eles. Se eu estiver certo, estamos ferrados, ganhe quem ganhar! Vamos ver?

LULA - Candidatíssimo, o único até agora. E deve ganhar, mesmo porque está usando a máquina e o nosso dinheiro; os seus índices melhoram a cada dia. Não pretendo votar nele, a menos que alguém me responda à seguinte pergunta: por que estas medidas para beneficiar o povo só estão sendo tomadas agora? Por que esperaram 3 anos?

ELOISA HELENA – É o Lula de ontem: cheia de palavras de ordem, boas intenções e indignação contra os “corruptos”, mas sem nenhuma experiência administrativa. A votar nela, prefiro o próprio Lula, que pelo menos já aprendeu um pouco, nestes 3 anos, embora à nossa custa. Deus me livre de começar tudo de novo! Prefiro o que já está na metade do caminho.

GERALDO ALCKMIN – Não tenho maiores informações sobre a competência do picolé de chuchu. Mas sei que ele foi com muita sede ao pote, antes da hora, e agora está caindo Serra abaixo. Parece ridículo, mas o Governador só vai ser candidato se o Prefeito desistir. E mesmo assim, só pra aparecer. Se ele for o candidato do PSDB, Lula ganha no primeiro turno.

JOSÉ SERRA - Pra mim, é uma geléia de chuchu, e sem açúcar; muito bom pra perder eleição, e só ganhou da Marta porque ela mesma se azarou. Mas talvez eu esteja errado, porque é o segundo colocado nas pesquisas; se assim for, peço que os leitores paulistanos me corrijam. De toda forma, se as pesquisas continuarem como estão, acho que não vai ser candidato: mais vale uma prefeitura na mão, do que duas presidências voando!

GAROTINHO – T’esconjuro! Pé de pato, mangalô, três vezes! Ou, para combinar com a sua (dele) declarada vocação evangélica, Deus nos livre! Mas, se esta campanha for confirmada, deverá ter o maior Caixa 2 da história: soube que todas as chefias de morros do Rio já estão prontas para contribuir...

NELSON JOBIM – Respeitado, sem dúvida; mas sem experiência. Uma coisa é lidar com espertalhões à distância, pelas vias jurídicas; coisa bem diferente é lidar com eles no dia-a-dia, e precisar do seu apoio para tentar fazer um bom governo. Acho que ele se perderia nos caminhos da burocracia.

Na minha opinião, estes são os principais pré-candidatos; outros como Roberto Freire, serão meros figurantes do espetáculo, aproveitando para ganhar projeção nacional.

E, por falar nisto, será que o ENÉAS vai ser candidato? Pelo andar da carruagem, ele é uma das minhas três únicas esperanças. As outras duas são: lançar a candidatura do ACM, ou chamar os militares de volta.

É como eu já disse: tamos ferrados!


(Ilustração: Paulinho Couto)

2.12.2006

POR QUE NÃO DIZER A VERDADE?


Preto é preto, e branco é branco. Assim como vermelho é vermelho e azul é azul; mas não é a cor da pele que torna um homem superior ou inferior a outro.

Boiola é boiola, não é gay. Mesmo porque “gay” significa alegria, e não vejo que tipo de alegria pode existir em levar uma trolha. Mas cada um pode dispor do que é seu, como melhor lhe aprouver.

Puta é puta, e não “mulher de vida fácil”; a menos que alguém ache fácil ganhar a vida lambendo saco fedorento, ou levando porrada de bebum que, só porque pagou, acho que pode fazer o que quer com a mulher.

Idoso é idoso. A melhor idade é entre os 16 e 21 anos, quando nossos pais pagam todas as despesas e a gente só pensa em comer quantas puder, e aproveitar a vida; quando temos a saúde, o tesão, a agilidade e a irresponsabilidade da juventude.

Deficiente é deficiente; não é “pessoa com necessidades especiais”; todos nós temos necessidades especiais. Admitir que alguém é deficiente, faz com que a solidariedade cristã nos leve a tratá-lo melhor.

Anão é anão. Mesmo porque não tenho saco para contar aos meus netos a estória de “Branca de Neve e os Sete Prejudicados Verticalmente”. Nem pretendo sair chamando os magros de “prejudicados horizontalmente” e os gordos de “horizontalmente privilegiados”.

Em suma: acho uma grande frescura essa conversa de politicamente correto. Acho, mesmo, que é uma forma disfarçada (e perigosa) de discriminação. É como se a sociedade dissesse a alguém que deve se envergonhar por ser o que é, e por isso o chama de um nome diferente. Vocês entendem?

A mesma discriminação que vejo, nessa história de “quotas especiais” para as universidades e empregos públicos. É como dizer: já que os negros são mais burros, vamos ser justos e dar a eles um tratamento diferente, para equilibrar as chances.

Tudo isto é estupidez, é burrice, é discriminação! E, pior ainda, uma discriminação apoiada pelo governo, que não só criou a lei das quotas, mas ainda patrocinou a impressão daquela cartilha do politicamente correto, às custas dos nossos impostos.

Em vez de criar quotas, vamos melhorar o ensino público. Em vez de inventar o “afro descendente”, vamos educar o povo, para fazer entender que todos os homens são iguais. Vamos orientar os boiolas e as putas, para diminuir o perigo da AIDS.

Vamos apoiar mais os deficientes e fazer cumprir o Estatuto do Idoso; criar uma fiscalização que obrigue os filhos das putas mais jovens a ceder o lugar, nos coletivos, para os idosos que deles necessitam.

Vamos parar com essa frescura de “politicamente correto” e cumprir as nossas obrigações sociais. É assim que se constrói a cidadania!


(Ilustração: Paulinho Couto)

EU NÃO DISSE?


Esta é rápida: acabo de ver, no Fantástico, que Duda Mendonça está sendo indiciado por sonegação de imposto e lavagem de dinheiro. Confirma-se a pedra que cantei na semana passada.

Mas o que achei mais engraçado é que a acusação (segundo a Globo) foi por ele não ter declarado os 10 milhões que recebeu no exterior, por ter feito a campanha de Lula. Ou seja: condena-se o corrupto e vamos reeleger o corruptor.

É o Opiniaum, antecipando os noticiários! Pena que aqui não tem Pulitzer pra blog, como nos EUA! :)

2.09.2006

O NOVO BOI DE PIRANHA


Desde já, faço questão de afirmar que nada tenho a favor do senhor Duda Mendonça; nem contra, aliás. Sou muito insignificante, para ter a honra de conhecê-lo pessoalmente.

Tenho uma profunda admiração pela sua competência profissional. Se alguém discordar desta afirmativa, lembre-se que o Duda transformou o Lula, de sapo barbudo, terror do empresariado, em príncipe encantado do Brasil, levando-o a ser eleito com a maior votação da história. Foi um passe de mágica.

Por outro lado, lamento a sua bobagem como ser humano; foi muita presunção do Duda, achar que a sua longa experiência com empresários já o tornara capaz de lidar com políticos. Ele já era rico, mas se deixou deslumbrar pelo brilho do poder; e nessa caverna não tem Ali Babá que consiga esconder-se, quando os ladrões se reúnem.

Vejo notícias plantadas na mídia, fazendo o maior estardalhaço sobre a “abertura” das contas do Duda no exterior. Não duvido que ele acabe sendo apontado como um dos principais mentores do mensalão, junto com outros como Zé Dirceu (que já foi cassado) e Marcos Valério (também peça insignificante, no mundo e nos esquemas das excelências).

Vejo, também, os senhores deputados, na caladinha, absolvendo alguns dos seus pares. Já absolveram Sandro Mabel e Romeu Queiroz, e hoje o Conselho de Ética da Câmara (nunca vi nome mais hipócrita!) rejeitou o parecer que pedia a cassação de Pedro Henry.

É a pizza, assando a todo vapor, enquanto a crucificação de Duda Mendonça distrai a atenção da mídia e, consequentemente, do povo. É o boi magro atirado às águas, para distrair as piranhas, enquanto as vacas gordas atravessam o rio, com as tetas cheias do dinheiro público!

Não pretendo inocentar o Duda; nem sei se ele é honesto. Mas a verdade é que sempre foi um profissional competente e respeitado, inclusive fora do Brasil. Isto mesmo: mercê do seu talento, era um dos maiores nomes do mundo, no campo da publicidade.

É óbvio que, quando o dinheiro pela campanha de Lula (e outros biscates) foi pago no exterior, o fisco brasileiro perdeu muita grana. Mas sou sincero: se eu tivesse esse dinheiro todo pra receber, abria conta até na casa do cacete! Imagine-se o Duda, que certamente já tinha contas lá fora, pelas campanhas que fazia em outros países!

A verdade é que, errado ou não, o Duda trabalhou por esse dinheiro; e trabalhou duro. Ele é um dos responsáveis pela eleição do Lula. Ao contrário desses deputados que participaram do mensalão e do surubão, ganhando dinheiro e prostitutas apenas para vender os seus votos. O Duda, pelo menos, fez por merecer a grana que recebeu.

Mas o boi de piranha é uma instituição, na política brasileira; como a própria corrupção. Ou seja: continua tudo como dantes, neste Brasil do PT.

E vem aí o próximo capítulo... ops, desculpem; a próxima eleição!


(Foto disponibilizada pelo site da revista Isto É)

2.07.2006

O DEDO DA VINGANÇA


Parece nome de obra do Edgard Allan Poe, eu sei. Mas juro que não é!

Na falta de novas besteiras do Lula Lelé (finalmente, ele parece ter descoberto que é melhor ficar calado, se quiser ser reeleito) e sua turma na escala federal, o assunto do post de hoje me foi fornecido pelo Serbon, um dos abnegados amigos que me honram com a constante leitura deste blog.

Diz-me o Serbon que, na Assembléia Legislativa da Bahia, o deputado sargento Isidório tomou o microfone do Plenário e abriu a sessão comentando o exame de próstata que havia realizado na véspera. É mole?

Tudo bem; eu sei que parece piada. E sei, também, que o Serbon é um emérito gozador. Mas não é mentiroso; e colou partes da matéria, que pegou da Internet. Assim, só me resta perguntar outra vez: é mole? Fiofó de deputado é assunto que se discuta em sessão da Assembléia?

A íntegra do texto está nos comentários da postagem anterior. Mas vou-me permitir reproduzir aqui alguns trechos, aduzindo os meus próprios comentários.

Uma das partes que mais me chamaram a atenção foi a queixa da despregada Excelência: “Ele chegou e foi logo enfiando o dedo”, lamentou. Neste particular, concordo: o exame deveria ser precedido de um jantar romântico, à luz de velas, com músicas de Roberto Carlos ou Julio Iglesias. Se até as Brunas Surfistinhas da vida têm direito às preliminares, por que negá-las ao ilustre deputado?

Outro trecho interessante é aquele em que a “vítima” reclama que até à tarde ainda “via estrelas”, devido à virulência do médico. Haja dedo! Se a moda pega, os astrônomos podem economizar uma grana, deixando de comprar telescópios; é só consultar um médico, mais ou menos corpulento, conforme o tamanho do corpo celeste que desejarem pesquisar. Ou os chegados ao esporte podem tornar mais elegantes os seus cartões de visita, escrevendo, por exemplo: “Joãozinho das Rosas – Astrólogo”.

À parte o detalhe do ineditismo – é a primeira vez que vejo alguém pegar um microfone para anunciar que levou (literalmente) naquele lugar -, eis outra curiosa (trocadilho inteiramente acidental) declaração do deputado: “... da maneira como o médico me tratou, a maneira como foi introduzido aquele dedo, foi horrível! Quase que desmaio! Não aceito!”. Não parece queixa de vítima de estupro? Mais uma vez, comprova-se a sabedoria popular: o problema não é botar, é como botar!

Lamento, apenas, que a matéria não informe o nome do médico; embora não vá fazer exame com ele, tornou-se o meu novo ídolo: não é sempre que alguém faz com um deputado o que eles fazem, diariamente, com o povo. Ficarei menos triste, ao pagar os meus impostos, lembrando-me da redentora dedada.

Neste país de fome, corrupção, miséria e desemprego, onde os deputados perdem tempo comentando os seus próprios rabos,
salve o médico desconhecido, vingador do nosso povo!!!

2.02.2006

E AÍ, MEU TIO?



O assunto de hoje, para ser politicamente correto, são as pessoas chamadas “de melhor idade”, ou seja: que já passaram dos 60 anos. Este é um dos eufemismos mais ridículos que já ouvi.

Se bem que todo eufemismo é ridículo, mesmo; nada deixa de ser o que é, por ser chamada de um nome diferente. Como disse o poeta: “A flor que chamam rosa, com qualquer outro nome, rosa seria”.

Como se pode chamar de “melhor idade” aquela em que as dores crônicas aparecem, as juntas endurecem e o bilau amolece? Isso, sem falar na falta dos dentes, na fila do INSS e naquela menina que responde a uma cantada com um surpreso e aborrecido: “-Que é isso, meu tio?”.

Melhor idade, o cacete! Ou a bengala, mais apropriada para o tema. Mas não pensem que estou esculhambando; muito pelo contrário, tenho o maior respeito pelos idosos.

Uma pessoa com 60 anos já trabalhou muito; já criou os filhos, já pagou uma nota preta de impostos, já deu a sua contribuição para a comunidade. Merece, portanto, todo o respeito possível e tem direito a regalias.

Acho justíssimo, por exemplo, que um nobre legislador tenha instituído o “passe livre” para os idosos, nos transportes coletivos; afinal, aposentado neste país ganha uma merreca e qualquer ajuda é válida. Mas – e é isto que não entendo – por que o ônus deste passe livre tem que recair sobre os empresários do setor?

Por que o Governo, que recebeu os impostos do cidadão a vida toda, não repassa aos empresários pelo menos parte dessas passagens, ainda que em redução de impostos, como se faz com as doações no Imposto de Renda? O idoso não paga, ninguém paga... e fica por isso mesmo?

Não, não fica! O empresário, que não é besta, repassa esse custo para as passagens normais... e a comunidade leva ferro! Mais uma vez, chimbamos na vara do Governo, que faz cortesia com o chapéu alheio, como naquele (também velho) ditado! Pagamos pelos outros.

Outro ponto discutível é o das filas especiais para os idosos; e este não por culpa do Governo, mas daquela sacanagem natural no brasileiro. A famosa Lei de Gérson, alguém ainda se lembra?

O idoso não paga transporte, nem pega fila. Assim, transformou-se no “boy” dos sonhos de toda empresa: sem o custo do vale-transporte e com economia de tempo. E ainda sem contrato de trabalho, ou seja: sem encargos sociais. Vantagens para o idoso e a empresa. E quem leva o ferro? Nós, outra vez!

Ou você nunca pegou uma daquelas filas bravas, no banco ou na casa lotérica, no fim do mês? Aí, depois de duas horas na fila, vem aquele velhão sarado, parecendo estar em melhor forma do que você, passa na sua frente e entrega para o caixa aquela pilha de contas a pagar, ou aquele bolão de dinheiro pra depósito. E, quando alguém reclama, ele fala de cara feia: “- Sou idoso; tou no meu direito.”

Pior que está, mesmo. E esta é a única hora em que eu sinto raiva do idoso; mal posso esperar chegar aos 60 anos, para devolver a sacanagem em cima de algum inocente mais novo. E ainda sou capaz de deixar o carro em casa e ir de busu, só pra viajar de graça também!

Pior que ainda faltam dois anos. Daqui pra lá, estas leis já podem ter caído. Principalmente se aparecer mais gente reclamando delas, como eu!