11.27.2005

O BÊBADO E OS EQUILIBRISTAS

Concordo com Dom Gustavo: o Lula Lelé nunca perde a capacidade de nos surpreender. Quando eu penso que ele esgotou as declarações aberrantes, lá vem o nosso sumo mandatário e coloca mais uma pérola de estupidez na praça.

Esta semana, aliás, foram duas. A primeira: dizer que o mensalão virou refrão de música. Taí... até que virou, mesmo; mas a música é o Hino da Corrupção, cantado em coro por políticos e assessores de todo o Brasil. É uma música que tem feito o povo dançar... no mau sentido. Ao contrário das músicas da Ivete Sangalo.

A segunda, foi comparar o Palocci ao Ronaldinho Gaúcho. Putaquepariu, essa foi demais! Daqui a pouco, o Lula Lelé vai se comparar ao Wanderley Luxemburgo... e essa até que seria uma comparação mais válida, pois o Wanderley vem afundando o supertime do Real (que tinha tudo pra dar certo) e a sua popularidade está cada vez mais baixa. Como a do presidente, ex-futuro-Salvador da Pátria; o que deixou de ser, sem nunca ter sido.

O que pode haver de comum entre Ronaldinho e Palocci? A aparência, com certeza não é; nem a cultura. Nem o salário, porque o do ministro é (oficialmente, claro) muito menor que o do craque do barça. Pois é: já estamos até dando apelidos aos times estrangeiros, como fazemos com os brasileiros. É uma intimidade gerada pela TV, e pela exportação de nossos melhores jogadores.

Então, persiste a pergunta. Será que a semelhança está na habilidade dos dribles? E a quem o Palocci dribla? Às CPIs idiotas, às ministras que querem aparecer, aos empresários que reclamam juros mais baixos... ou à própria incompetência do governo, onde parece ser o único que sabe o que faz?

Porque a verdade é esta: o Palocci é a última trincheira de Lula. É um dos poucos em quem o povo ainda confia; o maior responsável pelas (poucas) coisas boas que o governo do PT está conseguindo fazer. Ele é sério, competente, comedido. Não sei se também é honesto, mas convenhamos: aí já seria pedir demais!

Se o Palocci cair, o Lula Lelé ta fudido! Desculpem o palavrão, mas não conheço nenhuma palavra que defina melhor a situação do presidente “Eu não sabia de nada”, sem o único ministro que sabe das coisas.

Talvez seja por isto que o Lula compara o Palocci ao Ronaldinho: ele é a esperança do técnico incompetente a quem entregamos o comando deste time chamado Brasil.

Mas há outra pergunta incômoda: O Ronaldinho é muito bom, tanto jogando como fazendo malabarismos com a bola, como mostrou num comercial recente; é o melhor do mundo, o que não podemos afirmar do Palocci. Mas nem ele ganha um jogo sozinho. E pior: ainda leva a maior parte da culpa pelas derrotas.

Por analogia, o Palocci que se cuide. Há um cheiro de fritura no ar...

11.20.2005

O DIABO E A PIZZA


Dizem alguns religiosos que o maior truque do diabo foi convencer a humanidade de que ele não existe.
Eu não sou dos mais religiosos, mas preciso admitir: se é que o chifrudo existe mesmo, esse foi sem dúvida um belo truque; gostaria inclusive de aprendê-lo, para usar com o Imposto de Renda e outros credores menos usurários, mas que também me enchem o saco.
Ou um certo vizinho, que acha que andei comendo a mulher dele. Injustamente, diga-se de passagem, porque aquele bofe acho que só ele mesmo encara; é a chamada "comida por obrigação". Creio que ele quer mesmo é pensar que alguém compartilha o seu sofrimento. O pior não são as ameaças veladas; é que o pessoal da rua anda rindo pelas minhas costas e um amigo mais atrevido até já me chamou de "papa-mocréia".
Mas deixemos o chifrudo doméstico e voltemos ao outro, o da roupa vermelha. Diante do título, talvez você esteja pensando que ele se empregou em alguma pizzaria, para substituir com o tridente o velho fogão de lenha. Ou até mesmo como entregador; o que, aliás, seria uma boa idéia: assim, a pizza sempre chegaria quentinha na casa do cliente.
Mas não é nada disso. A pizza em questão é aquela em que terminou a CPI do mensalão: os senhores deputados e senadores levaram um tempão investigando (e recebendo os seus régios salários, pagos com nossos impostos), para finalmente concluírem que "não ficou provada a existência do mensalão".
Ou seja: comprovou-se o "Valerioduto", que movimentou milhões, os quais foram sacados exatamente por deputados, ministros e outras excelências; descobriu-se também o desvio de milhões do Banco do Brasil, lavados em forma de empréstimos por outros bancos, para abastecer esse rio de dinheiro.
Como se fosse pouco, ainda foram descobertas as malas sagradas de dinheiro daquele deputado da Igreja Universal. Dinheiro de donativos dos fiéis, disse ele; todo em notas de 50 reais, digo eu. Vai ter fiéis generosos assim no inferno!
Não vamos esquecer, também, aquele assessor do irmão do Genoíno, que tinha dólares até na cueca. Quando eu era criança, a gente chamava os alunos estudiosos de "cu-de-ferro"; destes, eu conheci alguns. Mas cu-de-ouro, confesso, é a primeira vez em que ouço falar!
Pois é: apesar de todas as maracutaias descobertas, das festas com prostitutas (para mim, é orgia), e dos saques milionários em favor dos excrementos (perdão, das excelências), não ficou provada a existência do mensalão. Alguém pode me dizer, então, para onde foi todo esse dinheiro?
Pessoalmente, acho que deve ter rolado um bônus por fora, para que a CPI não fosse prorrogada. Descobriram-se os chifres, os cascos e, pior, o enorme rabo do mensalão. Mas não ficou provada a sua existência!
Isto não faz lembrar aquele truque do diabo?



11.10.2005

O PLENÁRIO DA HIPOCRISIA


Eu até que sou um cara tolerante. Mas certas coisas, realmente, locupletam o meu já bastante opilado saco.

No caso de hoje, é a reação dos nossos políticos ao depoimento do ex-ministro e hoje prefeito Adauto, na CPI do mensalão. Realmente, preciso perguntar: ainda haverá algum idiota, neste país, que não saiba que as campanhas políticas são feitas com Caixa 2? Ou que o tráfico de influência rola adoidado, para todos que a possuem?

Ora, façam-me o favor! Daqui a pouco, vamos ter deputados dizendo que Papai Noel existe e foi ele que depositou nas suas contas as tais verbas de procedência duvidosa! Ou que os bebês são trazidos pelas simpáticas cegonhas!

O Adauto (que, aliás, caiu na minha simpatia pela sinceridade) teve a coragem de admitir o que todo mundo já sabe: que as campanhas não são feitas com os valores declarados e que, como ministro, não lhe faltariam financiadores (leia-se corruptores) para o que ele quisesse. Alguém duvida disso?

Entretanto, era de se ver a indignação dos senhores políticos, só porque um deles admitiu o que todos fazem! Comoveu-me, principalmente, a revolta do deputado Grampinho, um paradigma de seriedade, até mesmo pela tradição familiar; certamente, é pela honestidade que ACM possui a Bahia há 30 anos. E foi por ser honesto que ele perdeu um mandato, naquela fraude do painel eletrônico, e quase perde outro, no episódio dos grampos telefônicos, românticos e eletrônicos.

É muita hipocrisia, para um Congresso só! Esses nobres senhores elevam à potência “n” aquele velho provérbio, do roto criticando o esfarrapado. E merecem um Oscar, pela representação de surpresa, ao “ficarem sabendo” que “algumas” campanhas são feitas com Caixa 2!

Roubem, senhores, tudo bem; faz parte do ofício. O próprio ACM tem a minha admiração: é o político que mais fez pelo nosso estado. A Bahia que hoje temos, progressista e boa de morar, em grande parte, se deve ao trabalho dele.

Mas, pelo amor de Deus, poupem-me dessa cara de pau! Ou será que Vossas Excelências estão, no caso, utilizando outro velho provérbio: “Ladrão é (só) aquele que é apanhado com o furto na mão” ?!

(PS: Como todo mundo sabe, os personagens acima são os Irmãos Metralha e o copyright pertence às empresas Disney; a ilustração foi baixada da Internet, sendo portanto de domínio público. Esta informação visa evitar processo, pois eu não tenho dinheiro nem Caixa 2!)

11.01.2005

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER

Em uma das últimas edições do hoje letárgico AZ3, Paulinho (aliás, o autor de boas ilustrações que esporadicamente abrilhantam estes pobres textos) propôs como tema a televisão.

Lembro-me de que, na época, escrevi um conto onde culpava a TV pela separação de um casal. Este é um dos meus piores defeitos: sempre encontro palavras inteligentes, para defender proposições idiotas.

Entretanto, uma das minhas raras qualidades é reconhecer os meus erros. E culpar a TV pela solidão do ser humano, é como atribuir à criatura os erros do criador.

Porque a TV é uma conseqüência, não a causa. Se as mulheres se comovem com os amores da novela, é porque já não se emocionam com os seus próprios amores. E se os homens se empolgam com os lances dos ídolos esportivos, políticos, ou quaisquer outros, é porque já não se vêem como os seus próprios ídolos.

Na verdade, a TV surgiu como uma forma de preencher os hiatos das nossas vidas. Uma das formas, aliás; não esqueçamos que as salas de bate-papo, na Internet, vivem cheias de pessoas que procuram novas emoções. E pagamos ingressos nos cinemas, para nos sentirmos vivos, por algum tempo, com emoções alheias e fictícias.

A verdade é que nos perdemos de nós. A tal ponto, que procuramos formas de nos aturdir; de ocupar todo o nosso tempo, para que não mais nos possamos encontrar como realmente somos. Preferimos viver emoções imaginárias, a nos arriscar com as nossas próprias emoções.

Foi-se o prazer de, simplesmente, ouvir música; ou de ler um bom livro, onde a nossa imaginação nos colocava no lugar dos personagens. Como trocamos a realização de escolher um bom peso de carne, nos açougues, pelo ato comodista de pegar o pacote pronto, nos supermercados.

Vivemos a era de aniquilação do “ser”. Entretanto, uma coisa me conforta: meu filho, de 19 anos, Não é muito ligado em TV; mas é capaz de levar horas conversando com uma (diz ele) amiga. Ou lendo, ou ouvindo música. E, afinal, ele é o futuro; eu sou aquele presente que já se torna passado.

Talvez as novas gerações, em sua ânsia de consertar os nossos erros, consigam resgatar a arte do diálogo; consigam descobrir que a “leveza do ser” não é tão insustentável assim.

Talvez possam redescobrir o prazer de apenas viver e sentir...